quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Pesquisa com anêmonas reforça teoria de que Brasil teve 'mar interno'


Uma controversa teoria da geologia de que no passado remoto uma língua do Oceano Atlântico teria cortado a América do Sul a partir da Venezuela até o Uruguai, formando um mar interno no meio do Brasil, acaba de ganhar novas evidências provenientes de uma insuspeita pesquisa da biologia com anêmonas do mar.
O trabalho de um grupo de zoólogos da USP tinha como objetivo somente identificar em que momento de sua evolução duas espécies de anêmonas de tubo que ocorrem no Oceano Atlântico tinham se diferenciado. Mas o resultado, publicado na revista PLoS ONE, acabou reforçando a hipótese do suposto mar interno que teria ocorrido entre 9 milhões e 11 milhões de anos atrás, no final do período conhecido como Mioceno.
Pesquisadores que defendem a teoria de que houve uma rota marinha entre o Caribe e o que hoje é o Uruguai e a Argentina se apoiam na descoberta de evidências geológicas, como a presença de fósseis de moluscos no norte da Argentina, na Patagônia e também na Amazônia. O mar teria se estendido por onde hoje é a bacia do Rio Amazonas, deixando submersas áreas que atualmente são Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas e Acre.
Os estudiosos contrários a essa ideia sugerem que houve somente uma grande inundação naquele período (com cerca de 2 milhões de anos de duração), mas sem existir a conectividade entre os mares.
O novo trabalho mostra pela primeira vez uma evidência biológica para o outro lado da polêmica. A espécie de anêmona que povoa hoje todo o litoral brasileiro só teria surgido por causa da existência desse mar.
Segundo o zoólogo Sérgio Stampar, que faz pós-doutorado no Instituto de Biociências da USP e liderou a pesquisa, há cerca de 16 milhões de anos existia só uma espécie de anêmona de tubo vivendo no Atlântico norte (mais informações nesta página). Só alguns milhões de anos depois teria aparecido outra no sul do Uruguai. Mais alguns milhões de anos depois, mais duas teriam surgido no Pacífico.
Árvore genealógica. Com base em análises moleculares e de DNA, Stampar e colegas estimaram o tempo de divergência entre as espécies. Partiram da mais recente para a mais antiga.
Para isso, explica o zoólogo, é preciso contar com alguns parâmetros, como pelo menos um evento geológico bem conhecido. Eles usaram como marca o fechamento do istmo do Panamá, que teria isolado uma população no Pacífico há cerca de 4 milhões de anos. Desse ponto foi possível estimar as datas para o resto da família.
Quando uma população fica isolada por muito tempo, com o passar dos anos ela acaba se diferenciado a tal modo que não pode ser considerada mais a mesma espécie que migrou para aquela área um dia.
O que os pesquisadores perceberam é que essa espécie do Pacífico (Isarachnanthus bandanensis) era mais próxima geneticamente da espécie do Atlântico norte (Isarachnanthus maderensis) - a mais antiga de todas - do que a do Atlântico sul (Isarachnanthus nocturnus).
"A gente imaginava no começo da pesquisa que as duas espécies do Atlântico seriam mais correlacionadas. Quando vimos que isso não era verdade, fortaleceu a ideia de que alguma coisa muito diferente deve ter acontecido para que a I. nocturnus se formasse", afirma Stampar.
Pela data obtida pelos cálculos - cerca de 8 a 9 milhões de anos atrás -, os pesquisadores deduziram que a ruptura deve ter sido o mar interno, justamente porque se estima que ele ocorreu por volta desse período.
Eles acreditam que quando o suposto mar cortou a América do Sul, ele carregou indivíduos daquela primeira espécie até o sul do Uruguai. Mas, com o passar do tempo, o mar interno acabou se fechando e população remanescente ficou isolada, restrita à região do norte da Argentina, Uruguai e sul do Brasil, onde, ao longo dos anos, acabou se diferenciado da sua prima do norte. (AE)



0 comentários :

Postar um comentário

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | belt buckles