segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Crise sufoca o primeiro emprego


Mesmo entre as estimativas mais otimistas, o Brasil não deve crescer mais de 2% em 2012. Ainda que todas as medidas de estímulo ao consumo e desoneração da indústria surtam efeito nos próximos meses, quem procura o primeiro emprego já notou uma dificuldade a mais. Entre janeiro e junho deste ano, pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, as contratações para o primeiro emprego caíram 12% no Brasil –8% no Paraná e 7% em Curitiba. A curva é ainda mais descendente em grandes centros do interior do estado, onde antes o mercado de trabalho andava a passos mais largos que no restante do Paraná. Cascavel, Maringá e Londrina reduziram as admissões de iniciantes em 9%, 10% e 20%, respectivamente. A explicação mais óbvia para a pouca oportunidade, segundo os economistas, estaria no ritmo fraco da atividade econômica do país. O empresário, que não vê o faturamento crescer e precisa ficar de olho nos custos, inclusive aqueles destinados ao treinamento, dedica cada vez menos espaço aos estreantes no mundo do trabalho.
“Os jovens são os mais vulneráveis no mercado de trabalho, ainda mais em uma situação de crise. Embora o Paraná venha apresentando um resultado produtivo, também no mercado de trabalho, melhor que o nacional, não está imune à condição geral de desaceleração do país”, avalia o diretor do Centro de Pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Júlio Takeshi Suzuki Júnior.
Educação
Baixa escolaridade e renda familiar ainda são obstáculos
Não é só a falta de experiência que dificulta a entrada do jovem no mercado de trabalho. A professora adjunta de Economia da UFPR Angela Welters lembra que as condições econômicas das famílias em que estes jovens estão inseridos são fator decisivo no contexto do primeiro emprego. “Jovens vincos de famílias de maior poder aquisitivo, em geral, têm maior escolaridade e enfrentam menos dificuldades de ingresso. Além disso, conseguem um ingresso em atividades que possibilitam melhor remuneração”, diz. O mercado de trabalho dos jovens de 15 a 19 anos foi tema do doutorado de Angela, em 2009.
Segundo a professora, há um descompasso entre o perfil das vagas ofertadas e os aspirantes ao primeiro emprego. “Os jovens que buscam o primeiro emprego, em geral, ainda não terminaram seus estudos ou até abandonaram a escola em virtude de dificuldades em conciliar as duas atividades e da necessidade de complementar a renda da família”. A solução para esse descompasso é conhecida há tempos: qualificação.
Lá fora
Na zona do euro, desemprego atinge mais de 22% dos jovens
Na Europa, os efeitos da desaceleração econômica são ainda mais intensos. Segundo o Eurostat, o gabinete de estatísticas da União Europeia, a taxa de desemprego na zona do euro aumentou de 10%, em junho de 2011, para 11,2%, no mês passado. São quase 25 milhões de pessoas sem trabalho em toda a União Europeia. Entre os jovens com até 25 anos de idade, a situação é ainda pior: a taxa de desemprego chegou a 22,6% na União Europeia e a 22,4% na zona do euro.
O curioso, no entanto, é que o movimento não vem exatamente deste ano. No levantamento feito pela reportagem da Gazeta do Povo, a redução nas oportunidades ao 1.º emprego ocorre desde 2008. Entre o total de admissões, aquelas ocupadas pelos iniciantes têm cada vez menos participação no todo. No Brasil, essa fatia era de 17% das contratações no primeiro semestre de 2008; passou para 14% neste ano.
Por outro lado, a contratação de pessoas mais experientes, o chamado de reemprego, cresce: de 82% em 2008 para 84% em 2012 no Brasil – em Curitiba, essa fatia passou de 87% para 89%. “Uma hipótese é que a capital, pela baixa taxa de desemprego [4,1% em junho, segundo o Ipardes], pode ter dado conta de absorver esses jovens mais cedo e usufrui agora de um mercado mais qualificado”, arrisca o economista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Fábio Tadeu Araújo.
Peso demográfico
O próprio envelhecimento do país e a melhoria de renda podem estar relacionados à queda nas contratações do 1.º emprego. As pessoas com mais de 65 anos, que respondiam por 4,8% da população no Censo de 1991, passaram para 7,4% em 2010, ou 14 milhões. Ao mesmo tempo, o grupo de 0 a 14 anos passou de 34,7% da população para 24,1%. No meio desses dois grupos, no entanto, o país tem o chamado “bônus demográfico”: uma população economicamente ativa, de 15 a 64 anos, que ainda é cerca de 10 vezes maior que a de idosos. Um indicativo de que boa parte dessa fatia foi absorvida, e tenha passado pelo primeiro posto de trabalho, está na redução em praticamente pela metade da taxa de desocupação no país nos últimos 10 anos – de 11,9% em maio de 2002 para 5,8% em maio de 2012, segundo o IBGE. À exceção dos muito jovens – pessoas entre 15 e 17 anos ainda tem uma taxa de desocupação de 22,7% –, as outras faixas tiveram seus índices bastante reduzidos.
Por outro lado, se não há mais tantos jovens querendo as vagas de principiante – o aumento de renda estaria proporcionando, gradativamente, mais tempo em sala de aula que na rua –, sugere o coordenador do programa de pós-graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luiz Alberto Esteves, os empregadores teriam de contratar pessoas experientes para executar tarefas de baixa complexidade. De fato, salários baixos e oportunidades de sobra rondam vagas de alta rotatividade em setores como o de supermercados e telemarketing. (GP)

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