sábado, 28 de julho de 2012

Paraná lidera mortes de jovens no trânsito


Se o Paraná fosse um país, seria o campeão mundial em mortes de crianças e adolescentes no trânsito. A taxa estadual de óbitos de pessoas com até 19 anos é maior do que a brasileira e superior aos índices de países que têm o tráfego considerado violento, como Venezuela, Equador e Estados Unidos. A posição paranaense é puxada pelos registros trágicos que colocam sete cidades do estado entre as 20 com maior proporção de crianças e jovens que perderam a vida no trânsito. Francisco Beltrão, Cianorte, Paranavaí, Toledo, Campo Mourão, Arapongas e Umuarama têm características comuns: municípios de porte médio, com população entre 70 mil e 120 mil habitantes, são polos que concentram as opções de lazer e também os hospitais que atendem os acidentados.
Os dados são do Mapa da Violência 2012, que traz informações de 2010, as mais recentes disponíveis. Responsável pelo estudo, Julio Jacobo destaca que o aumento da frota de motocicletas teve um impacto enorme na quantidade de mortes de crianças e adolescentes no trânsito. Na faixa entre 15 e 19 anos, por exemplo, as motos estão presentes na maior parte dos acidentes fatais. Jacobo reforça que, há três décadas, a probabilidade maior era de que uma mãe chorasse a morte do filho em consequência de problemas ligados à saúde. Agora, as causas externas, com assassinatos e acidentes, ameaçam mais os jovens.
O mapa é resultado da análise de registros médicos e certidões de óbito. Por causa disso, localidades que concentram hospitais de referência no atendimento de acidentados têm os indicadores municipais inflados. Foi o que aconteceu com Francisco Beltrão, no Sudoeste, que tem um hospital regional. A cidade ficou em segundo lugar no Brasil com mais mortes de crianças e adolescentes em relação à população. Dos 12 casos em 2010, três aconteceram efetivamente na cidade – dois no perímetro urbano e um na rodovia que corta o município.
Para o secretário municipal de Governo, Arilson Sabadin, o índice alto pode ser reflexo das más condições das rodovias na região. O capitão Rogério Pitz, da Polícia Militar, por sua vez, diz que a quantidade de mortes pode ser um indicador de problema regional. Ele relata que até 2008 havia uma grande quantidade de acidentes com jovens que pegavam o carro dos pais, mas que, de lá para cá, a partir de uma campanha de conscientização, nenhuma morte nessas condições aconteceu na cidade.
A terceira no ranking nacional foi Cianorte. Segundo o comandante local da Polícia Militar, capitão Gilberto Baronseli, a maior parte dos acidentes envolvendo mortes no município ocorreu na PR-323, uma das principais ligações entre o Mato Grosso do Sul e o Norte do Paraná. “Essa estrada é uma das mais violentas do estado e isso acaba aumentando a estatística [de mortos] de Cianorte. Na área urbana não temos muitos casos, embora aconteçam alguns acidentes envolvendo a morte de adolescentes”, explica. Para o policial, a alta taxa de mortos também pode ser explicada pelo fato de o município ser um pólo regional, atraindo muitos visitantes, inclusive para festas e shows. “Cianorte costuma sediar eventos de grande porte, o que naturalmente atrai muita gente da região, podendo ocasionar mais óbitos”, salienta.
Mudança de postura veio após acidente
Para um jovem de 22 anos, o aprendizado veio de forma traumática, em 2010. Morador de Mandaguari, na região Noroeste, ele prefere não ser identificado, mas conta que sofreu um grave acidente na BR-376, após voltar de uma festa em Maringá. “Eram 5h da manhã, a pista estava vazia. Eu estava dirigindo bem acima da velocidade permitida. De repente um ônibus que transportava trabalhadores rurais entrou na estrada. Tentei frear e desviar, mas o carro acabou capotando.”
Apesar de o automóvel ter ficado destruído, o estudante sofreu só escoriações. O acidente mudou a forma de agir do jovem. “Sempre imaginava que isso aconteceria só com os outros, e infelizmente muitos pensam assim”, alerta.
Diferentemente do morador de Mandaguari, Danilo Mulato Gelini, 19 anos, admite que não mudou de atitude diante da direção, mesmo após quatro acidentes. Ele faz entregas de moto em Umuarama. Há um ano, teve de ficar três meses parado em função de uma grave colisão. Gelini diz que às vezes anda acima da velocidade permitida e até ultrapassa pela direita para cumprir os horários. “Tenho medo de novos acidentes, mas preciso trabalhar”.
Para o analista de trânsito Luís Riogi Miura, esse tipo de postura é cultural. “A família não dá muita importância para essas regras de segurança e isso se reflete no trânsito.” Para ele, campanhas de educação podem surtir efeito se forem constantes. (GP)

0 comentários :

Postar um comentário

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | belt buckles