domingo, 15 de julho de 2012

Alemanha vira destino dos desempregados da Europa

Diante da escassez de mão de obra em sua região, a cidade alemã de Schwabisch Hall decidiu lançar uma campanha para atrair trabalhadores de países afetados pela crise na Europa. Mas nunca imaginou que o resultado seria uma inundação de currículos chegando à prefeitura e candidatos tomando a decisão de viajar mais de mil quilômetros para entregar em mãos suas fichas para disputar um posto de trabalho.
O que ocorreu na cidade próxima à Stuttgart é apenas um espelho de um novo fenômeno europeu. Ilha de estabilidade dentro de uma Europa em convulsão, a Alemanha se transformou num país refúgio. Milhões de europeus sem emprego se mudaram para as cidades alemãs, enquanto bilhões de euros entraram nos cofres do país em busca de segurança.
A Alemanha vive um momento de praticamente pleno emprego, com apenas 5,6% da população sem trabalho e com a previsão de que, em algumas regiões, a taxa fique abaixo de 5% ao final do ano. O número se contrasta com os 24% de desempregados na Espanha, 20% na Grécia e 16% em Portugal. Diante da queda da taxa de natalidade, o resultado tem sido a falta de mão de obra em vários setores. As estimativas são de que o país não consegue preencher vagas oferecidas para engenheiros e que, mesmo com a imigração, existe um déficit de 30 mil engenheiros na Alemanha.
Segundo o Escritório Federal de Estatística da Alemanha, o país viveu em 2011 a maior queda no número de nascimentos. Em todo o ano, foram apenas 663 mil partos, 2,2% menos que em 2010. A taxa é ainda a mais baixa desde 1946, quando o fim da Segunda Guerra Mundial abriu uma nova fase na sociedade alemã. O número é ainda metade dos nascimentos registrados em 1964, no auge do 'baby-boom' europeu, e nunca a diferença entre mortes e nascimentos foi tão elevada.
Segundo a Destatis - a agência de estatísticas - a população de 82 milhões de habitantes apenas não encolheu graças à chegada de 279 mil imigrantes, o maior número em mais de dez anos. O resultado foi um crescimento líquido de 100 mil pessoas no ano na população alemã, algo que a indústria comemora.
Algo similar já havia ocorrido após a Segunda Guerra Mundial, quando milhares de portugueses e espanhóis deixaram seus países empobrecidos para ajudar a reconstruir a Alemanha. Dessa vez, o fluxo tem assustado algumas cidades. Em Schwabisch Hall, com 180 mil habitantes, apenas 3% da população está desempregada e 2,5 mil postos de trabalho não conseguem ser preenchidos.
Em março, bastou uma matéria de um jornal português sobre a campanha para que a prefeitura local recebesse, em quatro dias, mais de 18 mil currículos de portugueses, buscando trabalho. A prefeitura também foi obrigada a fretar um avião entre Madri e Stuttgart para levar 100 engenheiros espanhóis para a última fase de testes. No início do ano, vários deles já est (AEavam trabalhando.
Empresas alemãs, desesperadas por trabalhadores, estão contratando ainda os serviços da agência Adecco para recrutar imigrantes especializados. A Adecco foi justamente buscar na Espanha cerca de 50 engenheiros, oferecendo aulas de alemão e posições em empresas de ponta no novo "El Dorado", a Alemanha. Martin Friedrich, gerente da escola de idiomas Academia Suarez, conta que empresas alemãs o tem procurado para fechar acordos para dar aulas de alemão a espanhóis, gregos e portugueses. "As empresas estão dispostas a pagar pelas aulas. O que querem são trabalhadores", disse.
No centro de Frankfurt, sua escola que se dedicava principalmente ao ensino do espanhol, foi obrigada a abrir cursos de alemão. Ao abrir vagas para professores, outra surpresa: passaram a receber pedidos de trabalho de professores no interior da Espanha. "A crise é muito profunda lá e as pessoas estão desesperadas", comentou.
O padre brasileiro André Bergmann também conta que tem visto um incremento substancial do número de portugueses que vem até ele em busca de conselhos e orientação para se mudar para a Alemanha. O padre comanda a Comissão Católica de Língua Portuguesa em Frankfurt. "Aqui não há uma crise", admitiu.
No hospital universitário da cidade, a direção médica decidiu contratar 30 enfermeiras portuguesas, diante da falta de pessoas especializadas.
Sem esses estrangeiros, a Alemanha já prevê que poderá ter sérios gargalos para sua economia na próxima década. Até 2060, o país poderia ter 12 milhões de pessoas a menos. Para Steffen Kröhnert, do Instituto de Berlim para População e Desenvolvimento, em 2050, a Alemanha poderá sofrer uma redução de 30% de sua mão de obra. (AE)

0 comentários :

Postar um comentário

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | belt buckles