segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Os planos da direita israelense para "restaurar o status quo"

Akiva Eldar - Haaretz


O prognóstico do ministro de Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, de que o voto será seguido por uma violência sem precedentes e por um banho de sangue prepara a opinião pública para uma resposta dura das forças de segurança de Israel aos protestos populares nos territórios palestinos. O vice premier, Moshe Ya’alon ficará feliz em ajudar a Netanyahu a “ensinar aos palestinos uma lição que eles não esquecerão” – a saber, que eles devem esquecer essa conversa de estado.

Até o membro do congresso, Aryeh Eldad (União Nacional), o professor da extrema direita, não está particularmente irritado com o fato de que a Assembleia Geral das Nações Unidas pode reconhecer o estado palestino. Ele não vê diferenças legais entre a decisão que se espera para o próximo mês e a decisão que já foi tomada lá – com uma grande maioria de 104 a 2 – apoiando a declaração de independência palestina em Túnis, 22 anos atrás. E, para ser honesto, qual a diferença? Desta vez, também, Israel acusará os árabes de darem passos unilaterais, ignorará as Nações Unidas, expandirá assentamentos na Cisjordânia e construirá mais bairros para judeus em Jerusalém Leste. Então, qual é a proposta desta assustadora campanha levada à frente pelo voto na Assembleia Geral? Qual a base para a declaração do primeiro ministro Netanyahu de que o movimento na ONU claramente indica que o presidente palestino Mahmoud Abbas não está interessado em negociar um acordo? Por que o ministro das Relações Exteriores se expõe ao ponto de ir a público dizer que Abbas, do dia seguinte ao voto na ONU, está planejando “violência e derramamento de sangue do tipo que jamais se viu antes”? Para compreender esses dois, ajuda voltarmos a 11 anos atrás, a julho-setembro de 2000. Assim como é o caso hoje, o então primeiro ministro Ehud Barak jogou toda a culpa pelo fracasso do processo diplomático sobre Yasser Arafat. Assim como hoje, o então presidente dos EUA, Bill Clinton abandonou a liderança palestina. Assim como hoje, disseram-nos que o presidente palestino não estava realmente interessado numa solução de dois estados. Como hoje, foi-nos dito que ele tinha planejado a eclosão de violência. Como então, estão nos dizendo agora que não temos parceiro para a paz. Eles acreditam que a “nação” vai comprar essa lorota, exatamente como o fez na época. Num artigo de um novo jornal publicado pelo Centro Tami Steinmetz para Investigação da Paz, Dr. Ephraim Lavie argumenta que não há base para a afirmação de que Arafat foi à guerra em 2000 como parte de um plano estratégico de diversionismo. Lavie, que presidiu o Gabinete Palestino no Departamento de Pesquisa de Inteligência Militar na época, disse que essa avaliação, que foi tornada pública pelos militares, não tinha fundamento nos serviços de inteligência. Ele diz que essa visão seguiu a da liderança e constituiu a base para a política do governo e das Forças de Defesa de Israel por vários anos. O primeiro ministro seguinte, Ariel Sharon, herdou essa narrativa de Barak e nela pegou carona para fazer a retirada de Gaza. Seu sucessor, Ehud Olmert, fracassou em corrigir o prejuízo causado por Barak, mas deixou para Netanyahu as fotografias de Abbas entrando e saindo da residência da casa do Primeiro Ministro na Rua Balfour, com a bandeira palestina tremulando no fundo. Netanyahu foi forçado a negociar com o presidente palestino vestindo paletó e gravata, e com um primeiro ministro palestino que demonstrou absolutamente tolerância alguma com a violência. A fala do presidente Barack Obama no Cairo, no começo da sua gestão, tornou as coisas mais difíceis para Netanyahu, com sua fórmula de solução dos dois estados e com a pressão para congelar os assentamentos. O movimento palestino na ONU, juntamente às manifestações esperadas no dia do reconhecimento do estatuto de estado dos palestinos nas fronteiras de 1967 são uma grande oportunidade para a direita no governo restaurar o velho e efetivo status quo. À medida que a votação se aproxima, eles deixam claro que mesmo que Netanyahu tenha concordado em renovar as negociações com base nas fronteiras de 1967, os palestinos estão dispostos a se moverem na direção de um “passo unilateral” nas Nações Unidas – está portanto provado que não há parceiro [para conversações de paz]. Em resposta à questão do Haaretz a respeito de se Netanyahu adotou de fato a nova formulação de Obama, de maio de 2011, que inclui o acordo mútuo a respeito da troca de terras, o gabinete do primeiro ministro deixou claro que “não houve mudança política do governo”. Até onde se sabe, o governo nunca discutiu a nova fórmula. O prognóstico do ministro de Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, de que o voto será seguido por uma violência sem precedentes e por um banho de sangue prepara a opinião pública para uma resposta dura das forças de segurança de Israel aos protestos populares nos territórios palestinos. O vice premier, Moshe Ya’alon ficará feliz em ajudar a Netanyahu a “ensinar aos palestinos uma lição que eles não esquecerão” – a saber, que eles devem esquecer essa conversa de estado. Uma vez, quando ele ainda estava de uniforme, ele enviou as Forças de Defesa de Israel para destruir a Autoridade Palestina, remover a ameaça à paz e restaurar a direita ao poder. Com todo mundo ocupado com a justiça social, quem notará ainda alguma fissura nacional?

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