quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Moradores da Vila Sandra realizam protestos contra violência

Com medo, comerciantes da Rua João Dembinski, na CIC, fecharam as lojas mais cedo após a ameaça de traficantes

Cerca de 50 pessoas participaram na manhã desta quarta-feira (7) de uma passeata na Vila Sandra, na Cidade Industrial de Curitiba, para pedir paz na região. A comunidade vive sob tensão desde a última semana por causa do toque de recolher imposto por traficantes.

A passeata contou com a participação de membros da Igreja Batista da Vila Sandra e de fiéis da Igreja Assembleia de Deus, que também possui sede na CIC. Os participantes saíram na Igreja Batista, localizada na Rua João Dembinski, e seguiram até o encontro da via com a Rua Luiz Tramontin, onde realizaram uma oração.

De acordo com o pastor Ricardo Lebedenco, da Igreja Batista, o objetivo da passeata foi chamar a atenção da sociedade para os problemas relacionados à violência região, além de demonstrar apoio às famílias que tiveram parentes mortos vítimas do tráfico. “Nós não concordamos com essa situação e precisamos mostrar isso para a população”.

O pastor disse que a comunidade da igreja e os demais moradores temem sofrer represálias dos traficantes por causa da manifestação, mas as pessoas não podem se calar, segundo ele. “Todos estão com medo. Nós não somos contra ninguém, mas também não podemos apenas orar dentro da igreja”.

Caso seja necessário realizar outras passeatas, a comunidade espera, de acordo com o pastor, contar com o apoio e a presença de outras igrejas, associações de bairros e comerciantes da região.

Histórico:

Anteontem, 40% dos estudantes do Colégio Estadual Teotônio Vilela, que atende 1,7 mil alunos na Vila Sandra, faltaram às aulas por medo. Dois jovens mortos nos últimos dias estavam matriculados na escola. Ontem, a direção da instituição e o corpo docente se reuniram para discutir o problema. “O medo da comunidade, infelizmente, acaba refletindo na presença dos alunos”, afirma o diretor Darci Cláudio Jasper.

Violência

Os moradores afirmam que a situação de violência não é de hoje, mas desde a morte da primeira vítima, um adolescente de 15 anos, no dia 25 de agosto, a comunidade passou a sofrer mais os efeitos da falta de segurança. Uma amiga dos jovens mortos, que não quer ser identificada, contou que existem pelo menos três grupos rivais na região: um deles comanda o tráfico da Vila Sandra e começou a matar integrantes de outros grupos, por causa de dívidas com drogas.

“Eles mataram o primeiro e o irmão deste rapaz morto agora quer vingança. O grupo de traficantes começou então com o toque de recolher”, afirmou a jovem. Ela disse que existe uma lista de pessoas a serem mortas e que pelo menos 15 delas deixaram a vila por medida de segurança. Comer­­ciantes da Rua João Dembinski, que respeitaram o toque de recolher na sexta-feira, afirmam estar com medo. Algumas lojas continuam fechando mais cedo, outras voltaram a funcionar no horário normal.

A delegada titular da Delegacia de Homicídios, Maritza Haisi, afirmou que as mortes na Vila Sandra estão sendo investigadas e que já tem nomes de alguns suspeitos. “Estamos verificando se realmente existe ligação entre essas mortes. Ainda não temos uma resposta positiva sobre isso”, explicou. Sobre o toque de recolher, a polícia não confirma a veracidade dessa informação. Boato ou não, a Polícia Militar informou que está fazendo rondas no bairro.

Brincadeira

O Colégio Estadual Domingos Zanlorenzi, no Jardim Gabineto, também na CIC, deveria receber cerca de 300 alunos ontem no turno da tarde, mas apenas 30 foram à aula. Um suposto cartaz colado na frente da escola teria ameaçado alguns estudantes de morte. Houve ainda boatos de que a escola seria alvo de uma chacina. “Os pais, receosos, preferiram deixar os filhos em casa”, afirmou um funcionário que não quer ser identificado.

A polícia esteve no colégio, olhou as gravações das câmeras de segurança e não encontrou nenhum cartaz sendo colado na fachada da instituição. Aparen­­temente tudo não passou de uma brincadeira. “Pode ser uma manobra dos alunos para faltar aula”, disse o funcionário.

Homicídios:

Cinco pessoas morreram na região da Vila Sandra nos últimos dez dias. Até agora, a autoria dos crimes é desconhecida:

25 ago – Marlon Henrique Rodrigues Raimundo, 15 anos, é morto com um tiro na cabeça, na Rua Aleixo Grebos.

29 ago – Lucas Eduardo Tibúrcio Firmino, 14 anos, é assassinado a tiros na Rua Catanduvas.

1º set – Jean Felipe Rossane, 19 anos, e Áurea Freitas Lima, 29 anos, são executados com pelo menos 10 tiros na Rua João Dembinski.

2 set – Um rapaz de cerca de 15 anos, conhecido como Xarope, morre baleado em frente de uma loja de materiais de construção. A identidade dele ainda não foi revelada.

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