No dia 15 de setembro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou um aumento de 30% nos impostos brasileiros sobre os automóveis. O valor foi alarmante, mas o propósito é um tanto familiar. Carros produzidos no Brasil, no México ou no Mercosul estarão isentos, e apenas importadores serão taxados. “O consumo brasileiro foi tomado por importados”, disse o ministro ao anunciar o imposto. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (ANFAVEA), a infraestrutura ruim e os altos custos do crédito e da força de trabalho tornaram os automóveis 60% mais caros no Brasil do que na China. A manufatura local dependeu de altas tarifas durante muito tempo. Os importados estão ganhando sua porção de mercado, de 16% das vendas de 2009 para 23% em 2011. A nova medida irá provavelmente reverter essa tendência, já que aumentará o preço dos importados em 25%. O governo adotou pequenas medidas para ajudar as empresas locais. Em agosto, cortou o imposto sobre a folha de pagamento de alguns setores de trabalho intensivo. Mas em sua maior parte, tentou manter bens e capital estrangeiro afastados. Mantega diz que o Brasil está “sitiado” pelas importações. No mês passado, o governo distorceu as regras para favorecer os produtos locais. Em 2010, ele aumentou os impostos sobre o capital estrangeiro. Mantega quer que a Organização Mundial do Comércio (OMC) deixe que os países imponham tarifas em artigos importados de países que enfraquecem artificialmente suas moedas. Essa abordagem desafiadora dá continuidade a uma prática de reescrever as regras para favorecer a economia local. Empresas estrangeiras só podem extrair petróleo nos recém-descobertos campos de pré-sal como parceiros juniores da Petrobras. Em breve, isenções de impostos tornarão os tablets nacionais um terço mais baratos que os importados, o que fará com que a Foxconn crie uma fábrica no Brasil para produzir iPads. O BNDES deixou de ser um tradicional emprestador de dinheiro para se transformar em um apontador dos principais nomes da indústria brasileira. Seu livro de empréstimos agora tem o dobro do tamanho do livro do Banco Mundial, e ele financia a compra de ações estrangeiras por empresas brasileiras. Assim como o petróleo, a terra fértil está sendo tratada com um bem estratégico. No ano passado, assustado com a ideia de fundos estrangeiros e empresas estatais comprando largas extensões de terra, o governo ressuscitou uma lei de 1971, que limita a quantidade de terras rurais que podem ser compradas por estrangeiros. A lei, que havia sido rapidamente recuperada nos anos 1990, havia sido considerada incompatível com a nova constituição democrática e a economia aberta, e está sendo revista aos poucos: estrangeiros podem comprar um pouco mais sem restrições, e mais ainda se o governo considerar que a compra faz parte dos interesses nacionais. Mas não há previsão de uma nova lei. A Sociedade Rural Brasileira estima que US$ 15 bilhões em investimentos rurais estão sendo abandonados. A força do novo clima protecionista pode ser medida pela disposição do governo em tolerar incertezas legais e danos colaterais. Mesmo sabendo que a lei era falha e atrapalharia o investimento estrangeiro necessário, o governo a trouxe de volta. Como ela limita o total de cada distrito que pode pertencer a estrangeiros, muitos cartórios estão evitando riscos e rejeitando todas as compras estrangeiras. Kory Melby, um consultor agrário, presta consultoria a estrangeiros sobre compras de terras no Brasil. Ele conta que ouviu vários clientes furiosos com negócios que agora “não servem para nada”. As importadoras de automóveis estão planejando desafiar o aumento de impostos na OMC, e discutir se a possibilidade de evitar os impostos produzindo localmente não seria na verdade uma tarifa sobre importação camuflada. Seu grupo comercial tentará outra tática: ele diz que o governo foi obrigado a dar a notícia com 90 dias de antecedência, e não com um, como foi feito. Montadoras chinesas construindo fábricas no Brasil estão intensificando seu lobby, alegando que serão terrivelmente prejudicadas, já que a construção de uma fábrica leva anos. Estrangeiros com planos menos avançados devem considerar toda uma nova abordagem. (The Economist)
sábado, 24 de setembro de 2011
Brasil intensifica protecionismo contra investimento estrangeiro
sábado, setembro 24, 2011
Molina com muita prosa & muitos versos
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