quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Culpa e medo da prisão leva mulheres a esconder aborto


Kleyzer Seixas, do A TARDE On Line

A maioria das mulheres que abortam no Brasil é de classe econômica desfavorável, negras, moradoras da periferia e com idades que variam de 15 a 39 anos, segundo dados do Ministério da Saúde. A decisão de interromper a gravidez não é fácil. As que optam por esse caminho sofrem com a escolha e tem de lidar com o sentimento de culpa. O medo da prisão também é grande, pois o aborto é crime no país e muitas pacientes são denunciadas por enfermeiros dos hospitais onde são atendidas devido a complicações das práticas clandestinas.

Como forma de punição, alguns profissionais prestam atendimento inadequado às pacientes. “A mulher é objeto de discriminação porque muitos profissionais não tiveram a oportunidade de discutir e desconstruir estigmas”, explica a médica e pesquisadora do Programa de Estudos em Gênero e Saúde (MUSA), da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Greice Menezes.

Segundo a pesquisadora, há casos de profissionais que chamam a polícia. “Como se eles pudessem julgar. Ao invés de acolher e entender as razões, os profissionais acatam postura intolerante e equivocada, desqualificando o atendimento púbico de saúde”.

A reportagem do A TARDE On Line tentou ouvir mulheres que receberam atendimento devido a abortos mal-sucedidos nas maternidades públicas da cidade. Nenhuma quis falar, mesmo sob condição de manter a identidade em sigilo, com medo de represálias da família ou de serem presas.

Na maternidade Tyscila Balbino, onde os casos de aborto perdem apenas para os partos, sendo o procedimento de curetagem o segundo mais realizado na unidade, a quantidade de mulheres de rostos abatidos e que se escondem ao perceberem a chegada de um repórter dá a dimensão do quanto essas pessoas se sentem marginalizadas.

“Apesar da responsabilização, da pressão da família, do companheiro e, muitas vezes da sociedade, a decisão da mulher é, em algumas situações, bastante solitária”, diz Maria José Souza Silva, diretora da Tyscila Balbino. “Todas chegam abatidas. Quando assumem o aborto, dizem que não queriam interromper a gravidez e tentam simular que estão sofrendo aborto espontâneo”.

Para a diretora, que busca orientar a equipe médica para realização de um atendimento humanizado, julgar a paciente não irá resolver o problema do aborto no país. “Se é legal ou não, não é o caso naquele momento em que a necessidade é dar assistência à mulher”.

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