sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Testemunhas sofrem ameaças de morte no caso da prisão do governador do AP

Bruno Paes Manso - O Estado de S.Paulo
Ameaças de morte, recados dados por terceiros e notícias de que uma facção no interior da Polícia Militar estaria arregimentando homens para a formação de um grupo de extermínio estão provocando medo em testemunhas no inquérito da Polícia Federal que serviu de base para a Operação Mãos Limpas, no Amapá.

A operação da PF levou à prisão de 18 pessoas, na sexta-feita da semana passada, entre elas o governador Pedro Paulo Dias (PT) e o ex-governador Waldez Góes (PDT). As eventuais ameaças podem complicar a situação dos acusados, que correm o risco de ficar mais tempo na prisão.

As testemunhas já passaram informações à delegacia da PF do Amapá sobre as ameaças. Na lista de ameaçados aparece o nome do empresário Luciano Marba da Silva, proprietário da LMS Vigilância e Segurança Privada. Ele foi autor das denúncias que deflagaram as investigações sobre a empresa Amapá Vip - uma das principais beneficiadas pelo quema de desvio de recursos públicos nas secretarias da Saúde e da Educação.

Outros dois que disseram ter recebido ameaça são o diretor do Sindicato dos Vigilantes do Estado do Amapá, Manoel Pereira da Lima Filho, e o advogado Luiz Mario Araujo de Lima, assessor jurídico da Secretaria de Segurança. Este último foi o autor das denúncias publicadas na quarta-feira pelo Estado sobre eventuais irregularidades no aluguel de helicópteros naquela secretaria.

Do conjunto de 18 pessoas que tiveram prisão temporária decretada na semana passada, 12 já foram colocadas em liberdade. Os outros 6 investigados - entre elas o governador, o ex-governador, o presidente do Tribunal de Contas do Estado e os secretários de Segurança e Educação - permanecem detidos.

Se a Justiça confirmar as ameaças e verificar que estão vinculadas a tentativas de atrapalhar o andamento das investigações, poderão ser decretadas prisões preventivas.

Abandonar as eleições. Outro envolvido na história que passou a temer pela vida é o deputado estadual Moisés Souza (PSC). No ano passado ele presidiu na Assembleia Legislativa uma comissão parlamentar de inquérito destinada a investigar denúncias sobre os contratos entre as secretarias da Saúde e da Educação e a Amapá VIP.

Ontem o deputado disse ao Estado que vai prestar depoimento à PF a respeito das ameaças que teria sofrido nos últimos dias. Nervoso, ele se recusou, no entanto, a dar detalhes sobre a forma como teria ocorrido. Mas adiantou que está propenso a abandonar a disputa eleitoral neste ano e que já pensa também em deixar o Amapá.

Nomes de oficiais da PM que estariam formando um grupo extermínio chegaram aos ouvidos de uma testemunha e também aos integrantes do Ministério Público do Estado envolvidos na operação. A Promotoria de Investigações Civis e Criminais pôs uma equipe na rua para apurar a veracidade das informações. Também foi agendando um encontro com a PF para transmitir informações sobre as notícias-crimes.

"O ambiente é de hostilidade e tememos pela vida daqueles que testemunharam. Nada garante que não seja armação, mas temos obrigação de investigar", disse ontem o promotor Eder Geraldo Abreu.

Uma das testemunhas ameaçadas disse ontem ao Estado, sob condição de não ter o nome revelado, que recebe os recados por meio de terceiros. Já teriam dito a ele para "sumir do Amapá" e que sua cabeça estaria a prêmio.

Para se ter uma ideia do clima de tensão na cidade, na quarta-feira, um evento ocorrido em frente à casa do ex-governador e candidato ao Senado, Waldez Góes, acabou com ameaças de violência. O episódio envolveu a mulher do candidato, Marília Góes, candidata a uma vaga na Câmara, que acabara de sair da prisão e ainda estava em Brasília.

No comício em Macapá, instalaram um alto falante para amplicar a voz de Marilia, transmitida por celular. Ela pedia aos eleitores que acreditassem na defesa do casal, quando a esposa de um empresário local, que passava por ali, debochou da cena. Foi o bastante para ser perseguida de automóvel de automóvel por um partidário dos Góes. O caso acabou sendo registrado na delegacia de polícia.

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