quinta-feira, 24 de junho de 2010

Os pedetistas coptados pelo governo Lula desrespeitam a memória do Leonel Brizola


Brizola morreu empenhado em construir condições para que a proposta política do PDT se fortalecesse em todo o país através do Encontro Nacional do PDT realizado em São Paulo, sua última aparição pública onde, proferiu seu último discurso – mostrando didaticamente toda a sua disposição para a luta e a importância de se preservar as memórias de Vargas, João Goulart e Marcondes Filho, pais do Trabalhismo.

Preocupado com a política agressiva de cooptação do PT, em dezembro de 2003, Brizola pede e o Diretório Nacional do PDT atende, votando a saída do partido da base de apoio ao governo, determinando a todos os seus filiados que entregassem os poucos cargos que detinham na administração federal. O episódio marcou, mais uma vez, espaço para que oportunistas se abrigavam sob o manto brizolista fizessem sua opção preferencial pelo poder, abandonando o debate de idéias e as lutas do povo trabalhador. Ao mesmo tempo que outros companheiros, que isoladamente ocupavam cargos no governo federal, atendem ao chamamento partidário e devolvem no tempo aprazado, 30 de janeiro de 2004 – os cargos que ocupavam no governo do PT.


Trechos do 2º discurso de Brizola, no encerramento do primeiro dia do Encontro Nacional:

(...) Eles assumiram o poder, já experimentamos vários regimes, faltava a esquerdinha desse Zé Dirceu. Vejam bem, companheiros: quando cheguei do exílio, pensei que não era assim. Desci em Foz do Iguaçu, fui lá em São Borja para atender vontade da minha querida Neusa, fui me persignar nos túmulos de Vargas e de João Goulart. E depois vim vindo, queriam que fosse pra cá fosse pra lá. Eu disse não: vou a São Paulo, vou ao ABC, vou ver o Lula. A primeira visita que quero fazer mesmo é ao Lula. Quero ir lá na toca onde ele está. Acabei chegando lá, mas quero confessar a vocês... Não sei se cheguei a te contar isto, Paulinho... Quando cheguei lá, me senti chocado da forma com que Lula me recebeu. Vi que tinham mexido na sua cabeça. Vi que não era a cabeça de um trabalhador, porque estava numa atitude de arrogância... Me olhava assim, de cima para baixo... Aí me perguntei: porque será? Afinal, depois de tantos anos no exílio, não voltei para o Brasil para tirar o lugar de ninguém... Trocamos algumas palavras, mas foi o suficiente para ele dizer: “Estamos aqui, lutando, para acabar com a ‘pelegagem’ que dominava o sindicalismo”. E eu ainda argumentei: Mas Lula, você já não encontrou o sindicalismo feito? Assim, com uma arrogância que eu... Acabei encerrando logo, agradeci, mas senti que havia uma intriga profunda junto a ele e junto a todos os demais que estavam no seu entorno, pensando em construir um partido. Havia toda uma argumentação de estruturas, mas continuei pensando da mesma maneira.
“Tempos depois ele foi ao Rio de Janeiro, pensei que ele fosse retribuir a visita, mas não. Ele foi lá, num ato, disse: ‘E o Brizola? Este pisa no pescoço da mãe pra ser presidente da República’. Minha mãezinha já estava morta... Como ele pode me agredir assim? Pois ainda não respondi porque minha preocupação é outra, minha preocupação é com o nosso povo, é salvar nossas crianças. Cheguei a conclusão de que Lula deveria crescer para aprender isto. Aí nós iríamos discutir, sentar, caminhar. Se ele mudar e pensar na gente como deve pensar de verdade, e não apenas nos comícios, está tudo bem. Mas ele não mudando, ele vai acabar dando com os burros na água.
“Digo isto porque dei a nossa colaboração até ele se eleger e agora, no segundo turno, nós votamos nele. Ele chamou todo mundo, mas nosso partido foi o único que fechou apoio. Nós fomos lá e ele disse na frente da imprensa: “Meu querido Brizola, nós precisamos do PDT que tem experiência de governo, que já governou dois estados da federação. Nós precisamos trabalhar juntos, precisamos que nos ajudem e que venham para o governo conosco”. Eu disse a ele: ‘olha, não precisa dizer duas vezes, mas o que estamos interessados mesmo não é nos cargos, nós queremos pertencer ao grupo que discute as políticas públicas do governo”. Saímos dali satisfeitos, fomos até comer uma pizza...
“Mas logo depois ele chamou para a presidência do Banco Central um homem do Banco de Boston e nós perguntamos: será que ele ficou louco? O que é isto? E mais uma nomeação, mais uma... Ele fez cada nomeação! Finalmente nos chamou, mas já fomos sem muita esperança. Não tenho dúvida de que entre a eleição dele e a decisão de formar seu governo, aconteceu alguma coisa. Lula levou um apertão na moleira tão grande que alterou a linha de pensamento dele. Vocês não acham que é isto? Ali aconteceu alguma coisa. Eu então digo o seguinte: passei a observar o governo e não tem maneira, tem que baixar o porrete...
“Não há a menor dúvida de que temos que dizer a esta gente toda, de todo o país, que não só nos opomos, mas estamos denunciando este governo que já está aí a quase dois anos e dá o que deu como salário mínimo! Onde está o entusiasmo do governo pela reforma agrária? Só têm feito ocupações e não uma reforma agrária verdadeira, como sonha o nosso trabalhador do campo. Digo isto com autoridade, porque fui eu, Leonel Brizola, quem criou o MST. Veio a ditadura, nos botaram pra fora e eles, vupt, pularam em cima dos nossos acampamentos, protegidos pela igreja.
“Então, companheiros, nós que viemos de longe, podemos avaliar o que está acontecendo. Nós temos que firmar as nossas posições. Não para fazer oposição destrutiva, oposição sistemática. Se propuserem alguma coisa boa no Congresso, eles sabem que estão autorizados a procurar o nosso líder. Mas que não venham com enganação e com tentativas de comprar nossos companheiros porque serão denunciados como corruptores. Até o nosso próprio líder (Miro Teixeira), que chegou ao governo, mostrou-se fraco.
“Mas temos lá gente de valor que está resistindo. Estou me referindo aos deputados e senadores que estão lá; resistindo. Estou dizendo a verdade. Ainda ontem estive lá com eles em Brasília, fizemos uma excelente reunião e verifiquei que eles estão com a bandeira de nosso partido erguida e não se entregam. Ontem mesmo, na discussão do salário mínimo, votaram contra o governo. E aqui nós prestamos nossa homenagem a eles.
“Companheiros, desculpem minhas palavras, não preparei nenhum discurso. A direção nacional do PDT vai organizar um governo paralelo. As nossas lideranças sindicais já podem ir se preparando para nos ajudar. Vamos organizar um governo paralelo e se entre eles aparecer um Waldomiro, eles vão se ver conosco! Não é nem com a polícia! Vamos acompanhar tudo passo a passo! Se pretendem vir com manobras de propaganda, com ajuda de profissionais, serão desmoralizados. Nós é que vamos desmoralizá-los e preciso da colaboração de vocês. Enquanto tivermos forças e razões, que Deus lá em cima nos lance as suas bênçãos, precisamos ser incansáveis e proteger nossas crianças. Meu abraço e muito obrigado”. (palmas)

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