domingo, 21 de outubro de 2012

“Escondida” no Bigorrilho, fábrica quer liderar ramo de aviões leves


É em um insuspeito barracão de madeira no bairro Bigorrilho, em plena região central de Curitiba, que a Ipe Aeronaves planeja fabricar quarenta aviões por ano. Uma produção que seria capaz de elevar a empresa ao posto de líder na montagem de aeronaves de dois lugares no Brasil até 2016.
O plano ambicioso tem como base uma tecnologia desenvolvida pela própria empresa em que os custos são reduzidos pela metade. O sistema de produção, batizado de “One Shot”, se caracteriza pela montagem simplificada dos modelos. A cauda de um avião normalmente é constituída de seis peças; nesse sistema, são apenas quatro. “Conseguimos diminuir em 70% os custos com mão de obra e oferecemos uma aeronave mais barata que as importadas”, explica João Carlos Boscardin, proprietário da Ipe. O Sidus, primeiro avião construído neste sistema, custa R$ 150 mil, enquanto os concorrentes saem por US$ 180 mil (mais de R$ 360 mil).
Formação
Centro Tecnológico Positivo terá núcleo de Ciências Aeronáuticas
A partir do ano que vem, o Centro Tecnológico Positivo, da Universidade Positivo, vai oferecer três cursos superiores ligados à aviação. Com o novo núcleo, será criada a chamada Academia de Ciências Aeronáuticas Positivo (ACAP), com os cursos de pilotagem profissional, tecnologia em manutenção de aeronaves e planejamento administrativo de transporte aéreo.
Para o coordenador da academia, o comandante Luiz Nogueira Ga+letto, a demanda por profissionais desta área está em forte crescimento no Brasil. “A aviação civil na América do Sul tem crescido 8,4% ao ano. O Brasil tende a seguir ou até mesmo ultrapassar essa marca nos próximos anos, levando em consideração a ascensão da classe média e a realização de grandes eventos esportivos”, acredita.
Ele explica que Curitiba tende a se tornar um centro alternativo de formação de profissionais do setor. “Tradicionalmente, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre são os polos aeronáuticos do país, mas, em razão do trafego aéreo sobrecarregado e da urbanização excessiva em torno dos aeroportos destas cidades, o treinamento de pilotos deve migrar para cidades como a nossa”, explica.
Segundo Galetto, existem apenas outras sete escolas superiores de aviação no Brasil. A Universidade Tuiuti é outra instituição que oferta cursos superiores na área em Curitiba.
Fruto de um investimento de R$ 3,6 milhões, a pesquisa que deu origem ao avião é apenas um dos projetos da Ipe. Há ainda um avião agrícola aguardando certificação pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e o plano de desenvolver um modelo de 14 lugares para passageiros. “Enquanto os Estados Unidos têm 14 mil aviões para pulverização, aqui temos apenas 1,7 mil. No transporte de passageiros, são 2,8 mil aeródromos regionais, mas que são usados em menos de 20% de sua capacidade”, diz Boscardin.
O empresário espera que o Sidus movimente o caixa da Ipe para que a fábrica possa fazer seus outros projetos decolarem. A expectativa se baseia na criação da uma nova categoria da Anac para aviões de instrução. De acordo com as novas regras, os modelos usados para essa finalidade devem ser mais leves, passando de 750 quilogramas-força (kgf) para 600 kgf. O Sidus foi umas das primeiras aeronaves dessa categoria certificadas pela agência reguladora.
O próprio método de montagem, em fase de registro da patente, pode ser objeto de exportação da empresa local. “Planejamos negociar a nossa tecnologia também”, afirma Boscardin.
Anos de voo
Nem sempre a sede da Ipe passou despercebida para os pedestres na Rua Jerônimo Durski. Antes de os muros da fábrica terem sido levantados, há 20 anos, os vizinhos conseguiam ver os modelos sendo pintados no jardim de 10 mil metros quadrados da fábrica. “Chamava atenção principalmente das crianças. Todo mundo sabia que aqui montávamos aviões”, relembra Boscardin.
Na época, a empresa curitibana era o principal fabricante de planadores do Brasil. Graças a uma concorrência vencida durante o governo militar, a Ipe tornou-se a fornecedora oficial de planadores do governo federal – 70% dos modelos ainda em uso no país foram montados no Bigorrilho. O conhecimento adquirido desde então contribuiu para o desenvolvimento dos novos modelos, diz Boscardin: “É mais fácil quando entendemos a dinâmica do voo. A nossa tecnologia pôde evoluir junto com a própria tecnologia aeronáutica”. (GP)

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