O presidente russo, Vladimir Putin (direita), e o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev (esquerda), durante sessão do Conselho de Estado no Kremlin, Moscou
O Conselho de Segurança das Nações Unidas tentou aprovar na última quinta-feira (19/07), pela terceira vez sem sucesso, uma resolução sobre o conflito armado que atinge a Síria. Enquanto França, Alemanha e Estados Unidos apoiam uma atitude mais severa em relação ao regime de Bashar al Assad, Rússia e China se opõem veementemente a essas tentativas. O governo de Vladimir Putin já deixou claro que não aprovará textos que façam qualquer menção ao capítulo VII da Carta da ONU que, em última instância, permitem intervenções militares.
Principal aliado do governo sírio no jogo das grandes potências, a Rússia tem impedido uma atitude mais drástica de outros países em relação ao país árabe. Mesmo os recentes acontecimentos no país não foram suficientes para uma mudança no posicionamento de Moscou.
Na opinião de Oliveiros Ferreira, professor de Relações Internacionais da PUC-SP e da USP, o objetivo do governo russo é reconduzir o país à condição de potência mundial geopolítica, papel que foi enfraquecido após o fim da Guerra Fria (1945-1991) e o desmembramento da União Soviética. Em entrevista ao Opera Mundi, ele destacou os interesses da Rússia na Síria e na região.
Na opinião de Oliveiros Ferreira, professor de Relações Internacionais da PUC-SP e da USP, o objetivo do governo russo é reconduzir o país à condição de potência mundial geopolítica, papel que foi enfraquecido após o fim da Guerra Fria (1945-1991) e o desmembramento da União Soviética. Em entrevista ao Opera Mundi, ele destacou os interesses da Rússia na Síria e na região.
Outros analistas seguem posicionamentos semelhantes a respeito da relação entre russos e sírios. Para Ruslan Pukhov, diretor do Centro de Pesquisa de Análise de Estratégia e Tecnologias, a Rússia se mantém favorável ao governo de Assad porque não deseja perder o seu poder de influência no país, consolidado na época da Guerra Fria durante o governo de Hafez al Assad, pai do atual presidente sírio.
Nikolas Gvosdev, professor de segurança nos Estados Unidos e editor da revista The National Interest, acrescenta que o governo de Putin não viu outra opção a não ser apoiar Assad até o fim, uma vez que a oposição síria não deu nenhuma garantia de que continuará sendo sua aliada.
A Síria é importante para a Rússia em diversas dimensões. Além de ser um importante aliado na região do Oriente Médio, o governo russo mantém uma relação comercial relevante com o país (Assad teria comprado cerca de 3,5 bilhões de dólares em armamento russo). A Rússia também possui uma base militar no porto de Tartus, que estratégico por sua posição no Mar Mediterrâneo, devido principalmente pela grande circulação de dutos de petróleo.
* * *
Opera Mundi - Por que a Rússia veta as resoluções da ONU em relação à Síria?
Oliveiros Ferreira - É necessário considerar toda a projeção internacional da Rússia. O governo russo tem interesses na Síria que não se resumem apenas ao comércio de armas e a sua basa naval no país. A Rússia tem e sempre teve interesses no Oriente Médio e não permitirá uma intervenção da ONU ou de qualquer outro país que prejudique seus interesses geopolíticos. Ela quer ter um pé no Oriente Médio, assim como os EUA.
Oliveiros Ferreira - É necessário considerar toda a projeção internacional da Rússia. O governo russo tem interesses na Síria que não se resumem apenas ao comércio de armas e a sua basa naval no país. A Rússia tem e sempre teve interesses no Oriente Médio e não permitirá uma intervenção da ONU ou de qualquer outro país que prejudique seus interesses geopolíticos. Ela quer ter um pé no Oriente Médio, assim como os EUA.
OM - O senhor já citou os interesses da Rússia no país. Mas o que o governo russo perde com a saída de Assad?
OF - Não temos informações corretas sobre o que a Rússia está fazendo no Oriente Médio. Mas, a saída de Al Assad, no fundo, vai fazer com que a Rússia perca a influência que tem no Oriente Médio. Porque, seguramente, será difícil que alguém favorável à Rússia assuma o poder. Quem é que vai ganhar se Assad sair? Na dimensão regional, será a Arábia Saudita. E o Irã irá perder.
OM - Questões internas podem ter influenciado o posicionamento da Rússia?
OF - Não, não, não. Isso é uma questão do Estado russo e que não tem relações com a política interna.
OF - Não, não, não. Isso é uma questão do Estado russo e que não tem relações com a política interna.
OM - A política externa russa pode ser entendida, de certa maneira, como uma continuidade das políticas seguidas durante a Guerra Fria?
OF - Não. É uma nova fase das relações de poder na Europa e no Oriente Médio que nada tem a ver com o período da Guerra Fria. O que assistimos, atualmente, é o Putin querendo firmar a Rússia como potência mundial.
OF - Não. É uma nova fase das relações de poder na Europa e no Oriente Médio que nada tem a ver com o período da Guerra Fria. O que assistimos, atualmente, é o Putin querendo firmar a Rússia como potência mundial.
OM - Qual a possibilidade de os EUA realizarem uma intervenção na Síria sem a autorização da Rússia?
OF - Eu diria que nenhuma. A situação está muito complicada no Afeganistão e no Iraque e os EUA não têm mais a condição econômica para custear uma guerra. Neste caso, não se trata apenas da autorização da Rússia, mas sim do Conselho de Segurança da ONU o que torna a intervenção na Síria uma questão internacional. Além disso, eu me pergunto se os EUA vão cooperar diretamente caso haja uma intervenção no país. No caso da Líbia, eles deixaram a Europa cuidar do assunto e não se intrometeram de forma direta.
OF - Eu diria que nenhuma. A situação está muito complicada no Afeganistão e no Iraque e os EUA não têm mais a condição econômica para custear uma guerra. Neste caso, não se trata apenas da autorização da Rússia, mas sim do Conselho de Segurança da ONU o que torna a intervenção na Síria uma questão internacional. Além disso, eu me pergunto se os EUA vão cooperar diretamente caso haja uma intervenção no país. No caso da Líbia, eles deixaram a Europa cuidar do assunto e não se intrometeram de forma direta.
0 comentários :
Postar um comentário