A Unesco fez um apelo ontem para que rebeldes líbios, forças aliadas ao ditador Muamar Kadafi e mesmo tropas estrangeiras protejam os diversos sítios arqueológicos ainda preservados na Líbia. A preocupação da entidade é a de que verdadeiras organizações criminosas internacionais aproveitem o caos para roubar peças de um valor incalculável, além de que artefatos sejam destruídos em meio ao caos dos combates. No Egito, a queda do presidente Hosni Mubarak foi seguida pelo desaparecimento de mais de mil peças de antiguidade dos museus nacionais, muitas das quais ainda não foram recuperadas. O mesmo ocorreu na invasão do Iraque, em 2003, e no Afeganistão, em 2001. Agora, a agência da ONU que cuida da preservação de patrimônios culturais não quer que o mesmo ocorra na Líbia, que abriga um verdadeiro museu a céu aberto com peças bizantinas, romanas, gregas e fenícias. "A herança de uma nação é essencial, assim como a capacidade de seus cidadãos de preservar sua identidade e autoestima, para construir um futuro melhor", disse ontem a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova. O território líbio conta com cinco sítios arqueológicos considerados Patrimônio da Humanidade. Um dos locais que preocupa a Unesco é a cidade de Sabratha, com mais de 2 mil anos. Ela abriga um dos sítios arqueológicos mais bem preservados para o estudo da Antiguidade e inclui um teatro romano, fórum e outros edifícios, como um templo a Dionísio. A cidade, declarada Patrimônio da Humanidade em 1982, foi liberada pela oposição há dias e um dos primeiros símbolos destruídos foi uma bandeira do regime de Kadafi. Outro ponto crítico é a cidade romana de Leptis Magna, a leste de Trípoli, que também caiu na semana passada nas mãos dos rebeldes. Na luta pelo controle do local, a Unesco diz ter recebido informações de que alguns edifícios antigos foram atingidos. Aberto ao público. A entidade, no entanto, não esconde que espera que, caso a democracia seja instalada no país, o acesso a esses locais seja facilitado. Durante o regime de Kadafi, parte dessa história foi ignorada pelo governo, que chegava a restringir a entrada de pesquisadores estrangeiros. "Peço a todos na Líbia, nos países vizinhos e todos os envolvidos no mercado internacional de arte e antiguidades que façam o que estiver a seu alcance para proteger a herança cultural da Líbia, de valor inestimável", disse Bokova. Ontem, a Unesco entrou em contato com os países vizinhos da Líbia para pedir colaboração na repressão contra a exportação ilegal de bens culturais. "A experiência nos mostra que, em tempos de caos social, há uma ameaça séria aos bens culturais de um país ", afirmou a diretora-geral. (AE)
Obras de arte que vão do Neolítico à Idade Moderna e são parte do patrimônio cultural mundial estão à mercê de saqueadores em Trípoli. A constatação foi feita pela reportagem do "Estado", que entrou sem dificuldade no Museu de Trípoli após rastejar por uma grade que isola o prédio, no centro da capital. Sem vigilância, basta empurrar uma das portas principais para ter acesso a obras de arte que fazem parte da história da humanidade. As peças estão no interior de um dos prédios do antigo Palácio Real de Trípoli. Entre os apreciadores de arte, o museu é conhecido como um dos mais importantes do país, apesar de suas dimensões reduzidas. Algumas delas reconstituem a história da Líbia e de sua relação com Roma - mais do que terem sido parte do Império Romano, os líbios chegaram a fazer um imperador, Flavius Libius Severus Serpentius, que governou o Império Romano do Ocidente entre 461 e 465. Dessa época, há estátuas e mosaicos retirados de Leptis Magna, Oea (hoje Trípoli) e Sabratha. No interior do prédio, a reportagem verificou que o museu foi usado até recentemente como acampamento militar. Há pares de coturnos em diversas galerias e colchões no chão em salas administrativas. Além disso, o ar-condicionado central e a eletricidade seguiam em funcionamento, sinal de que um gerador de energia continua intacto, já que a capital está sem luz. Outro que também corre perigo é o Museu de Jamahiriya, organizado com o apoio da Unesco. A instituição abriga tesouros da Idade Antiga, quando a Líbia concorria pela hegemonia da região com o Egito. Um dos mais impressionantes objetos expostos é o Mausoléu de Ghirza, além de peças preciosas do Império de Garamantian, que ajudam a explicar a história e a cultura dos povos que hoje formam a Líbia. Há também objetos de arte de fenícios e cartagineses, da transição da era cristã do Império Bizantino para a islâmica, além de um andar dedicado à cultura islâmica. No terceiro piso, há artefatos de diferentes povos contemporâneos da Líbia. Já o quarto destoa do restante: é um tributo a Muamar Kadafi. Até agora, nenhuma autoridade do Conselho Nacional Transitório (CNT) foi designada para administrar o patrimônio histórico. A preocupação maior em Trípoli é com as ruínas das cidades de Sabratha e Leptis Magna, que constituem a parte mais importante do legado da era romana no país. Em Trípoli, o patrimônio arquitetônico histórico não teria sido atingido pelos bombardeios da Otan, que, desde março, atingem a capital da Líbia. (AE)Risco de saque ameaça obras de arte do país
domingo, 28 de agosto de 2011
Unesco tenta proteger as relíquias no sítios arqueológicos da Líbia
domingo, agosto 28, 2011
Molina com muita prosa & muitos versos
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