domingo, 28 de agosto de 2011

Unesco tenta proteger as relíquias no sítios arqueológicos da Líbia

A Unesco fez um apelo ontem para que rebeldes líbios, forças aliadas ao ditador Muamar Kadafi e mesmo tropas estrangeiras protejam os diversos sítios arqueológicos ainda preservados na Líbia. A preocupação da entidade é a de que verdadeiras organizações criminosas internacionais aproveitem o caos para roubar peças de um valor incalculável, além de que artefatos sejam destruídos em meio ao caos dos combates.

No Egito, a queda do presidente Hosni Mubarak foi seguida pelo desaparecimento de mais de mil peças de antiguidade dos museus nacionais, muitas das quais ainda não foram recuperadas. O mesmo ocorreu na invasão do Iraque, em 2003, e no Afeganistão, em 2001.

Agora, a agência da ONU que cuida da preservação de patrimônios culturais não quer que o mesmo ocorra na Líbia, que abriga um verdadeiro museu a céu aberto com peças bizantinas, romanas, gregas e fenícias.

"A herança de uma nação é essencial, assim como a capacidade de seus cidadãos de preservar sua identidade e autoestima, para construir um futuro melhor", disse ontem a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova.

O território líbio conta com cinco sítios arqueológicos considerados Patrimônio da Humanidade. Um dos locais que preocupa a Unesco é a cidade de Sabratha, com mais de 2 mil anos. Ela abriga um dos sítios arqueológicos mais bem preservados para o estudo da Antiguidade e inclui um teatro romano, fórum e outros edifícios, como um templo a Dionísio.

A cidade, declarada Patrimônio da Humanidade em 1982, foi liberada pela oposição há dias e um dos primeiros símbolos destruídos foi uma bandeira do regime de Kadafi.

Outro ponto crítico é a cidade romana de Leptis Magna, a leste de Trípoli, que também caiu na semana passada nas mãos dos rebeldes. Na luta pelo controle do local, a Unesco diz ter recebido informações de que alguns edifícios antigos foram atingidos.

Aberto ao público. A entidade, no entanto, não esconde que espera que, caso a democracia seja instalada no país, o acesso a esses locais seja facilitado.

Durante o regime de Kadafi, parte dessa história foi ignorada pelo governo, que chegava a restringir a entrada de pesquisadores estrangeiros.

"Peço a todos na Líbia, nos países vizinhos e todos os envolvidos no mercado internacional de arte e antiguidades que façam o que estiver a seu alcance para proteger a herança cultural da Líbia, de valor inestimável", disse Bokova.

Ontem, a Unesco entrou em contato com os países vizinhos da Líbia para pedir colaboração na repressão contra a exportação ilegal de bens culturais. "A experiência nos mostra que, em tempos de caos social, há uma ameaça séria aos bens culturais de um país ", afirmou a diretora-geral. (AE)


Risco de saque ameaça obras de arte do país


Obras de arte que vão do Neolítico à Idade Moderna e são parte do patrimônio cultural mundial estão à mercê de saqueadores em Trípoli. A constatação foi feita pela reportagem do "Estado", que entrou sem dificuldade no Museu de Trípoli após rastejar por uma grade que isola o prédio, no centro da capital.

Sem vigilância, basta empurrar uma das portas principais para ter acesso a obras de arte que fazem parte da história da humanidade. As peças estão no interior de um dos prédios do antigo Palácio Real de Trípoli. Entre os apreciadores de arte, o museu é conhecido como um dos mais importantes do país, apesar de suas dimensões reduzidas.

Algumas delas reconstituem a história da Líbia e de sua relação com Roma - mais do que terem sido parte do Império Romano, os líbios chegaram a fazer um imperador, Flavius Libius Severus Serpentius, que governou o Império Romano do Ocidente entre 461 e 465. Dessa época, há estátuas e mosaicos retirados de Leptis Magna, Oea (hoje Trípoli) e Sabratha.

No interior do prédio, a reportagem verificou que o museu foi usado até recentemente como acampamento militar. Há pares de coturnos em diversas galerias e colchões no chão em salas administrativas. Além disso, o ar-condicionado central e a eletricidade seguiam em funcionamento, sinal de que um gerador de energia continua intacto, já que a capital está sem luz.

Outro que também corre perigo é o Museu de Jamahiriya, organizado com o apoio da Unesco. A instituição abriga tesouros da Idade Antiga, quando a Líbia concorria pela hegemonia da região com o Egito. Um dos mais impressionantes objetos expostos é o Mausoléu de Ghirza, além de peças preciosas do Império de Garamantian, que ajudam a explicar a história e a cultura dos povos que hoje formam a Líbia.

Há também objetos de arte de fenícios e cartagineses, da transição da era cristã do Império Bizantino para a islâmica, além de um andar dedicado à cultura islâmica. No terceiro piso, há artefatos de diferentes povos contemporâneos da Líbia. Já o quarto destoa do restante: é um tributo a Muamar Kadafi.

Até agora, nenhuma autoridade do Conselho Nacional Transitório (CNT) foi designada para administrar o patrimônio histórico. A preocupação maior em Trípoli é com as ruínas das cidades de Sabratha e Leptis Magna, que constituem a parte mais importante do legado da era romana no país.

Em Trípoli, o patrimônio arquitetônico histórico não teria sido atingido pelos bombardeios da Otan, que, desde março, atingem a capital da Líbia. (AE)

0 comentários :

Postar um comentário

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | belt buckles