quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Revoltas no mundo árabe: Jordânia, que está sob grande convulsão social, sofre golpe de estado, mas o povo não o aceita e lá pode ser a bola da vez


Após a deposição de Ben Ali na Tunísia e em meio às pressões populares no Egito para a saída Hosni Mubarak, a maré de revolta no mundo árabe contra o poder instituído chegou à Jordânia, outro aliado dos EUA na região do norte da África e do Oriente Médio.

O rei Abdullah, da Jordânia, anunciou nesta terça-feira, 1º, a demissão do impopular primeiro-ministro Samir Rifai. Foi a resposta do rei jordaniano aos crescentes protestos nas ruas de Amã e de outras cidades do país.

Fim da monarquia?

Segundo a oposição jordaniana, entretanto, a demissão de Rifai será insuficiente para conter os protestos inspirados na Tunísia e no Egito. Nas ruas já se pede até mesmo o fim da monarquia hachemita, que está no poder desde a criação do país, na década de 1940.

O novo primeiro-ministro da Jordânia será Marouf Bakhit, que já foi premier do país. Ele é considerado ainda mais conservador do que Rifai.

O golpe "branco" de estado

"Promover uma verdadeira reforma política que crie condições para aumentar a participação do povo na tomada de decisões." Foi esta a ordem recebida pelo novo primeiro-ministro da Jordânia, Marouf Al Bakhit, do rei Abdullah II, que o nomeou ontem, depois de ter dissolvido o governo de Samir Rifai (que tomara posse em Dezembro de 2009). A mudança chega numa altura em que todo o Norte de África sofre as convulsões de uma revolta popular que se tem espalhado como fogo, afectando já a Tunísia, Egipto, Argélia, Líbia, Iémen, Sudão, Marrocos e a Síria.

A própria Jordânia luta para controlar um levantamento popular: na sexta-feira, milhares de pessoas saíram às ruas de Amã e de seis outras cidades jordanas, exigindo mudanças económicas e políticas sérias, marcando a terceira sexta-feira consecutiva de protestos contra o governo de Rifai - motivada pela subida do preço dos combustíveis e dos alimentos, pelos salários baixos e alta taxa de desemprego, especialmente entre os jovens.

Antecipando o intensificar da onda de revolta na Jordânia, o rei Abdullah II decidiu agir. "Pedi a Marouf Al Bakhit para formar um governo capaz de introduzir verdadeiras reformas políticas no país", disse, numa carta divulgada pelo palácio real. "O novo governo dará passos concretos e rápidos para lançar essas mudanças, para desenvolver a Jordânia e recuperar importantes oportunidades até agora perdidas devido à resistência de alguns governantes à mudança - os mesmos que puseram os seus interesses à frente dos do povo."

O monarca reforça o esforço para fortalecer a democracia e aumentar a participação, propondo-se fortalecer as infra-estruturas institucionais e combater a corrupção. "Vamos conduzir uma avaliação cuidada e rever leis que ponham em causa liberdades políticas e direitos civis; vamos emendar os erros do passado e desenvolver um plano de reformas eficaz", garante Abdullah II.

Escolha contestada A escolha de Bakhit, antigo militar que foi embaixador na Turquia (2002) e em Israel (2005) e primeiro-ministro do país entre 2005 e 2007, não é, porém, pacífica. A Frente de Acção Islâmica, braço político muçulmano e principal partido da oposição no país, criticou a sua nomeação, exigindo que o novo governo fosse eleito - em vez de nomeado pelo rei e pelo gabinete -, sob pena de continuarem os protestos. "Não há razão para parar os protestos. Bakhit não é um reformista - ele teve a pior legislatura de sempre, em 2007", declarou Zaki Bani Rsheid, líder da FAI. "Bakhit não é a pessoa certa para tirar a Jordânia da crise. Precisamos de alguém que não tenha um passado ligado à corrupção e à opressão." Ainda assim, o líder da oposição deixou claro que o povo não quer uma mudança de regime, ao contrário do que acontece Egipto, mas apenas que se promovam as reformas necessárias.

Nos últimas semanas, o governo jordano pôs em marcha um pacote de medidas de cerca de 90,4 milhões de euros para apaziguar o povo - incluindo a redução do imposto sobre combustíveis, a subsidiação do cabaz básico e aumentos mensais de 20 dinars jordanos (o mesmo em euros) para a função pública, militares e pensionistas. A prova de boa vontade não chegou para os manifestantes, que se dizem solidários com os movimentos populares que se têm feito sentir por todo o mundo árabe.

Fonte Opinião e Notícias

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