sábado, 27 de novembro de 2010

Panamericano afeta outros bancos

Leandro Modé/AE

SÃO PAULO - Os bancos de pequeno e médio porte ainda sofrem os efeitos dos problemas no Panamericano. Custo de captação mais alto, ações desvalorizadas e preço de títulos de dívida emitidos no exterior em queda estão entre os indicadores que mostram que a confiança do investidor nesse segmento ainda não foi plenamente restaurada. Especialistas avaliam, no entanto, que a confiança será recuperada em breve. Argumentam, sobretudo, que o Panamericano foi um caso isolado.

"Sem dúvida, há uma aversão a risco maior no mercado como um todo por causa do choque do Panamericano", afirma o diretor executivo e de Relações com Investidores do Banco Daycoval, Morris Dayan, recorrendo a um jargão da área financeira que indica um momento de cautela. Segundo a mais recente estatística do Banco Central (BC), o Daycoval é o 30.º maior banco brasileiro pelo critério de ativos (R$ 8,7 bilhões em junho de 2010).

"Os preços deram uma piorada natural, mas acreditamos que, entre duas e quatro semanas, o mercado estará normalizado", completa o presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC, entidade que reúne instituições de menor porte), Renato Oliva.

O impacto mais forte, até o momento, não se deu apenas no custo de captação via Certificado de Depósito Bancário (CDB), como muitos esperavam. Ocorreu também na venda de carteiras de crédito para instituições de maior porte.

Bancões. Um banqueiro que pediu para não ser identificado explica que, antes do caso Panamericano, os bancões (como Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil) costumavam cobrar CDI (taxa de juros de referência do mercado financeiro) mais 4% ao ano para comprar carteiras de instituições de menor porte. Agora, não o fazem por menos de CDI mais 7,5% ao ano.

Não é difícil explicar por quê. As investigações do Banco Central (BC) para apurar o rombo de R$ 2,5 bilhões no Panamericano apontam para problemas na contabilização das carteiras de crédito cedidas a outras instituições. Ou seja, o negócio ficou mais arriscado. Se tem mais risco, custa mais caro.

Os ex-diretores do banco de Silvio Santos vendiam algumas dessas carteiras para outras instituições, mas não as tiravam do balanço. Continuavam computando como do Panamericano ativos que já haviam sido passados para outras instituições, inflando os resultados do banco.

No caso dos CDBs, Oliva, que também preside o Banco Cacique, diz que há uma tentativa de reajuste por parte dos investidores. Na média, afirma, os bancos menores costumavam pagar entre 105% e 107% do CDI para captar dinheiro via CDB. "Muitos investidores estão querendo levar para a casa de 110%, mas a aceitação desse valor depende da necessidade de recursos de cada tomador", observa.

Riscos. Outro termômetro que mede a disposição dos investidores em assumir o risco de aplicar nos bancos menores é a taxa de retorno embutida em papéis vendidos por essas instituições no mercado internacional. Nesse quesito, um dos que mais sofreram até agora foi o BMG (especializado em crédito consignado em folha de pagamento).

A taxa de retorno (yield, em inglês) de papéis do banco negociados no exterior saiu de 7,4% ao ano no fim de outubro para 8,5% logo depois que o rombo do Panamericano foi anunciado, na segunda semana de novembro. Quinta-feira, estava em 8,4%. Esses porcentuais são definidos com base no preço do papel. Se o preço cai (por demanda menor), o rendimento (fixo, determinado por contrato) aumenta. Se sobe o preço, ocorre o oposto - a remuneração cai.

Por fim, as ações de bancos - não apenas dos pequenos, diga-se - ainda não se recuperaram do baque do Panamericano. Entre o início de novembro e sexta-feira, os papéis do Sofisa, por exemplo, perderam 7%. Os do Daycoval, 4,49% e os do Bicbanco, 5,77%. Em igual período, as ações do Itaú se desvalorizaram 3,59%, as do Bradesco, 2,33%, e as do Banco do Brasil, 0,67%.

O analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, pondera que os efeitos negativos foram potencializados pela piora do cenário internacional - em decorrência da crise da Irlanda e das ameaças que pairam sobre Portugal e Espanha.

Investigações. Ainda assim, reconhece que os investidores levarão um tempo para absorver o golpe do Panamericano. A situação só ficará realmente clara, argumenta, quando o tamanho do rombo - e sua origem - forem finalmente conhecidos. O BC, o Ministério Público e a Polícia Federal investigam o caso.

Dayan, do Daycoval, vai na mesma linha. Para ele, a tensão só se dissipará de vez quando o balanço do 3.º trimestre do Panamericano for divulgado.

Os números devem revelar o tamanho exato do buraco. A nova diretoria do Panamericano promete divulgar o balanço até o próximo dia 15.

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