O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assinou uma ordem que autoriza o apoio secreto do governo norte-americano às forças rebeldes que tentam derrubar o líder líbio, Muamar Kadafi, afirmaram à Reuters funcionários do governo na quarta-feira.
Obama assinou a ordem, conhecida como "decisão" presidencial, nas últimas duas ou três semanas, segundo quatro fontes do governo familiarizadas com o assunto.
Tais decisões são a principal forma de diretriz presidencial usada para autorizar operações secretas da Agência Central de Inteligência (CIA). A agência e a Casa Branca se recusaram a comentar de imediato.
As informações sobre a autorização de Obama surgiram num momento em que ele e outras autoridades dos EUA e de países aliados falam abertamente sobre a possibilidade de fornecer armamento para os opositores de Gaddafi, que combatem forças mais bem equipadas.
Os EUA, outros membros da Otan e países árabes integram uma coalizão que está conduzindo ataques aéreos contra as forças de segurança do governo líbio, cumprindo um mandado da Organização das Nações Unidas (ONU) para proteger os civis que se opõem a Kadafi.
Em entrevistas a redes norte-americanas de TV, na terça-feira, Obama declarou que o objetivo era fazer com que no fim "Kadafi renunciasse" ao poder. Ele falou em impor "firme pressão, não apenas militar, mas também por esses outros meios" para forçar a saída de Kadafi.
Obama afirmou nas entrevistas que Kadafi "não tem o controle da maior parte da Líbia neste momento" e que os Estados Unidos não descartam a possibilidade de prover equipamento militar aos rebeldes. "Não estou, não estou descartando."
Os altos funcionários dos EUA que monitoram a situação da Líbia dizem que no momento nem Gaddafi nem os rebeldes -- que pediram armas pesadas ao Ocidente -- parecem capazes de obter avanços decisivos.
Embora os ataques aéreos dos EUA e aliados tenham causado graves danos às forças militares de Kadafi e afetado sua cadeia de comando, segundo autoridades, os rebeldes permanecem desorganizados e sem condições de tirar amplo proveito do apoio militar ocidental.
Operações específicas
Pessoas a par dos procedimentos do setor de inteligência dos EUA dizem que as decisões presidenciais relativas a ações encobertas costumam ser costuradas de modo a dar margem a uma autorização ampla para um grande espectro de ações do governo em apoio a um objetivo secreto particular.
Para que operações específicas sejam realizadas sob o amparo dessa autorização abrangente -- por exemplo, a entrega de dinheiro ou armas às forças anti-Gaddafi -- a Casa Branca também teria de dar uma "permissão" adicional para o prosseguimento dessas atividades.
Em 2009, Obama deu um aval semelhante à expansão das ações secretas de contraterrorismo realizadas pela CIA no Iêmen. A Casa Branca não costuma confirmar se tais ordens foram dadas. (AE)
COMO A INDÚSTRIA DA MORTE FUNCIONOU NA ERA BUSH:
Crise impulsiona indústria bélica dos EUA
O Pentágono está redigindo uma "lista de compras" para a luta global contra o terrorismo prometida pelo presidente Bush. Resultado: dezenas de fornecedores militares podem estar entre os beneficiários dos ataques sofridos pelos EUA em 11 de setembro.
Ao mesmo tempo em que esses ataques provocaram uma queda enorme no mercado acionário, as perspectivas do complexo militar-industrial estão melhores do que estiveram em anos.
A oposição política que se manifestava no Congresso contra a hipótese de grandes aumentos nos gastos do Pentágono desapareceu do dia para a noite.
Ganhadores e perdedores da corrida pelo dinheiro do Pentágono também serão determinados pelos resultados das tentativas de Donald Rumsfeld de transformar as Forças Armadas.
Suas metas incluem melhorar os serviços de inteligência, ampliar a capacidade de ataque à distância e um esforço para tornar as forças americanas mais leves, mais velozes e tecnologicamente mais sofisticadas.
Mas esse processo enfrenta a resistência acirrada de alguns comandantes e parlamentares, para quem Rumsfeld quer tirar dinheiro dos programas de modernização dos navios, aviões e morteiros convencionais em favor de produtos ainda não testados, como aviões espaciais ou submarinos pilotados por controle remoto.
Os números do orçamento contam a história toda. Três dias depois dos atentados, o Congresso aprovou US$ 40 bilhões em fundos de emergência, dos quais entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões para as Forças Armadas.
Ao longo das próximas semanas, também deve ser aprovado um aumento de US$ 33 bilhões no orçamento do Pentágono, elevando-o para US$ 329 bilhões no ano fiscal que começa no próximo dia 1º.
E, antes de serem depositados os votos finais do plano de gastos de 2002, o Pentágono deve pedir uma verba adicional de entre US$ 15 bilhões e US$ 25 bilhões.
Boa parte da verba inicial será usada na reconstrução da parte do Pentágono destruída pelo avião sequestrado, para financiar a intensificação da segurança em instalações militares americanas pelo mundo afora e para preparar os ataques retaliatórios. Isso significa comprar novos projéteis, mísseis, botas, equipamentos de reconhecimento e peças avulsas.
Mas muitos analistas e oficiais prevêem que, depois de satisfeitas essas necessidades básicas, ainda vai sobrar bastante dinheiro. Os senadores e os chefes das armas provavelmente vão querer gastar esses fundos com programas de armamentos de sua predileção, tais como os caças F-18E e F-18F da Boeing, o sistema de artilharia Crusader da United Defense e o destróier "invisível" DD-21 da Northrop Grumman e da General Dynamics.
Para os analistas, o fato de esses sistemas não terem utilidade evidente na guerra contra o terrorismo não vem ao caso.
"Existe uma percepção intensificada de perigo, os recursos aumentaram e a divisão entre republicanos e democratas se reduziu", disse Loren Thompson, executivo-chefe do Instituto Lexington, uma organização de política militar da Virgínia. "Esses três fatores se conjugam para melhorar as perspectivas de muitos programas de defesa, mesmo os que não parecem ter relevância imediata."
Se essa "orgia de encomendas" vai durar ou não, isso vai depender da natureza e duração da operação militar ordenada por Bush. Uma guerra terrestre pode ajudar os construtores de equipamentos blindados, como a General Dynamics. Uma guerra travada principalmente desde o ar beneficiaria a Lockheed ou a Boeing.
E uma guerra de tipo totalmente diferente, na qual encontrar um inimigo oculto vai exigir inteligência e habilidades de espionagem, mais do que simples poder de fogo, pode beneficiar empresas como a Northrop, que produz o avião de espionagem Global Hawk.
No entanto, o fluxo de dinheiro que deve começar a sair do Capitólio em pouco tempo irá para uma ampla gama de fornecedores militares, grandes e pequenos. "Quando a maré sobe, ela levanta todos os barcos", disse John Williams, porta-voz da Associação Nacional da Indústria da Defesa, que representa 900 fornecedores de equipamentos militares.
Serão compradas janelas e portas à prova de explosões para o Pentágono e outros prédios militares. O setor de peças e os contratos de manutenção vão crescer, à medida que mais e mais navios, aviões e helicópteros forem submetidos ao desgaste de serem enviados ao exterior.
Os fabricantes também poderão ter novos pedidos de mísseis teleguiados.
Mas planejadores do Pentágono também andam falando em acelerar a produção de artigos muito maiores no caso de a guerra se prolongar.
Exemplo: Rumsfeld, secretário da Defesa, exortou a indústria de armas a elevar o número de aviões de reconhecimento disponíveis para localizar a rede terrorista de Osama bin Laden.
Se Rumsfeld conseguir seu intento, os maiores vencedores da transformação serão as empresas que produzem equipamentos de coleta de informações, sistemas de comunicações sem fio, armas teleguiadas de precisão e componentes da defesa antimísseis. (THE NEW YORK TIMES)