
Juntamente com o lançamento do livro o Museu fará a exposição de algumas peças do velho comunista.
O indicativo de greve aprovado pelos bancários de Curitiba fará com que a categoria paralise as suas atividades a partir desta terça-feira (27). O movimento nacional ganhou força após a rejeição da última proposta feita pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), que aumentou a proposta inicial em 0,2%, chegando a um reajuste salarial de 8%. O pedido da categoria é de um reajuste de R$ 12,8%.
Bancários de todo o país farão hoje (26) à noite assembleia para definir sobre o início da paralisação da categoria a partir de amanhã (27). Segundo informações da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), a greve valerá para bancos públicos e privados.
“É um movimento nacional que já aprovou o indicativo de greve de norte a sul do país. Não existe nenhuma agenda de negociação a partir de agora. A proposta de ampliar a oferta feita pela Fenaban, na sexta-feira, será considerada insuficiente pela categoria em todas as assembleias de hoje”, disse Otávio Dias, presidente do Sindicato dos Bancários do Paraná.
Segundo o representante da categoria, a questão vai além do pedido salarial. “Também pedimos menos rotatividade de emprego, que hoje é muito grande. Outro pedido é de mais segurança nos bancos para funcionários e clientes, que vêm sofrendo com a prática da saidinha de banco”, explicou.
De acordo com Otávio Dias, os caixas eletrônicos devem funcionar normalmente para não prejudicar a população, assim como a compensação de cheques, que não deve ser prejudicada.
No ano passado, a greve dos bancários começou no dia 29 de setembro e durou 15 dias. Mais de oito mil agências em todo o país ficaram fechadas. (Banda B)
Até o membro do congresso, Aryeh Eldad (União Nacional), o professor da extrema direita, não está particularmente irritado com o fato de que a Assembleia Geral das Nações Unidas pode reconhecer o estado palestino. Ele não vê diferenças legais entre a decisão que se espera para o próximo mês e a decisão que já foi tomada lá – com uma grande maioria de 104 a 2 – apoiando a declaração de independência palestina em Túnis, 22 anos atrás. E, para ser honesto, qual a diferença? Desta vez, também, Israel acusará os árabes de darem passos unilaterais, ignorará as Nações Unidas, expandirá assentamentos na Cisjordânia e construirá mais bairros para judeus em Jerusalém Leste. Então, qual é a proposta desta assustadora campanha levada à frente pelo voto na Assembleia Geral? Qual a base para a declaração do primeiro ministro Netanyahu de que o movimento na ONU claramente indica que o presidente palestino Mahmoud Abbas não está interessado em negociar um acordo? Por que o ministro das Relações Exteriores se expõe ao ponto de ir a público dizer que Abbas, do dia seguinte ao voto na ONU, está planejando “violência e derramamento de sangue do tipo que jamais se viu antes”? Para compreender esses dois, ajuda voltarmos a 11 anos atrás, a julho-setembro de 2000. Assim como é o caso hoje, o então primeiro ministro Ehud Barak jogou toda a culpa pelo fracasso do processo diplomático sobre Yasser Arafat. Assim como hoje, o então presidente dos EUA, Bill Clinton abandonou a liderança palestina. Assim como hoje, disseram-nos que o presidente palestino não estava realmente interessado numa solução de dois estados. Como hoje, foi-nos dito que ele tinha planejado a eclosão de violência. Como então, estão nos dizendo agora que não temos parceiro para a paz. Eles acreditam que a “nação” vai comprar essa lorota, exatamente como o fez na época. Num artigo de um novo jornal publicado pelo Centro Tami Steinmetz para Investigação da Paz, Dr. Ephraim Lavie argumenta que não há base para a afirmação de que Arafat foi à guerra em 2000 como parte de um plano estratégico de diversionismo. Lavie, que presidiu o Gabinete Palestino no Departamento de Pesquisa de Inteligência Militar na época, disse que essa avaliação, que foi tornada pública pelos militares, não tinha fundamento nos serviços de inteligência. Ele diz que essa visão seguiu a da liderança e constituiu a base para a política do governo e das Forças de Defesa de Israel por vários anos. O primeiro ministro seguinte, Ariel Sharon, herdou essa narrativa de Barak e nela pegou carona para fazer a retirada de Gaza. Seu sucessor, Ehud Olmert, fracassou em corrigir o prejuízo causado por Barak, mas deixou para Netanyahu as fotografias de Abbas entrando e saindo da residência da casa do Primeiro Ministro na Rua Balfour, com a bandeira palestina tremulando no fundo. Netanyahu foi forçado a negociar com o presidente palestino vestindo paletó e gravata, e com um primeiro ministro palestino que demonstrou absolutamente tolerância alguma com a violência. A fala do presidente Barack Obama no Cairo, no começo da sua gestão, tornou as coisas mais difíceis para Netanyahu, com sua fórmula de solução dos dois estados e com a pressão para congelar os assentamentos. O movimento palestino na ONU, juntamente às manifestações esperadas no dia do reconhecimento do estatuto de estado dos palestinos nas fronteiras de 1967 são uma grande oportunidade para a direita no governo restaurar o velho e efetivo status quo. À medida que a votação se aproxima, eles deixam claro que mesmo que Netanyahu tenha concordado em renovar as negociações com base nas fronteiras de 1967, os palestinos estão dispostos a se moverem na direção de um “passo unilateral” nas Nações Unidas – está portanto provado que não há parceiro [para conversações de paz]. Em resposta à questão do Haaretz a respeito de se Netanyahu adotou de fato a nova formulação de Obama, de maio de 2011, que inclui o acordo mútuo a respeito da troca de terras, o gabinete do primeiro ministro deixou claro que “não houve mudança política do governo”. Até onde se sabe, o governo nunca discutiu a nova fórmula. O prognóstico do ministro de Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, de que o voto será seguido por uma violência sem precedentes e por um banho de sangue prepara a opinião pública para uma resposta dura das forças de segurança de Israel aos protestos populares nos territórios palestinos. O vice premier, Moshe Ya’alon ficará feliz em ajudar a Netanyahu a “ensinar aos palestinos uma lição que eles não esquecerão” – a saber, que eles devem esquecer essa conversa de estado. Uma vez, quando ele ainda estava de uniforme, ele enviou as Forças de Defesa de Israel para destruir a Autoridade Palestina, remover a ameaça à paz e restaurar a direita ao poder. Com todo mundo ocupado com a justiça social, quem notará ainda alguma fissura nacional?
O ex-deputado Gustavo Fruet, candidato derrotado a senador na eleição passada, está com pouquíssimo prazo para se filiar a um partido político. Para assim poder disputar a eleição de 2012. O prazo acaba dentro de 10 dias.
Caso o Fruet não esteja filiado a uma agremiação partidária até a próxima sexta-feira, dia 7 de outubro, este não poderá se candidatar a prefeito. Segundo comentários que circulam no meio político ele já teria assinado a ficha de filiação no PDT mesmo antes de ter saído do PSDB, mas sem datação. Na realidade a aproximação dele com o PDT e o PT teria acontecido durante a campanha passada, quando circulou pela internet a campanha "informal" pedindo votos para a dupla "GG", no caso Gustavo e Gleisio que provocou o seu isolamento dentro do PSDB e assim atrapalhou a sua quase que certa eleição. Como diz o ditado popular: "Quem tudo queR nada tem".
Respaldado pelo ministro Paulo Bernardo e sua esposa, a ministra Gleisi Hoffmann, como pelo também derrotado Osmar Dias, que hoje exerce a função de diretor do BB, a muito o Gustavo preparava a saída do PSDB.
Embora o Fruet tenha o apoio de parte da alta cúpula do governo federal, que tenta de todas as formas terraplanar o caminho para a disputa da Gleisi ao governo em 2.014, e isto implica em enfraquecer a trincheira ocupada por Beto Richa, e este, só este, é o papel que eles esperam que o Gustavo cumpra, o eleger é secundário. Está articulação, que não foi discutida junto a estrutura partidária petista, não é bem vista por amplos setores da base partidária do PT e do PDT, como também não é por grande parte das lideranças intermediárias e por muitos das cúpulas estaduais. No PT eles enxergam no Gustavo o ex-inimigo que tantos danos causou ao partido como um dos principais denuncista no escândalo do mensalão. Estes segmentos partidários defendem que o PT tenha candidatura própria. Para estes, tanto o PT como o Gustavo, pelas históricas contradições, correm o risco de ficarem sem discursos.
Se no PSDB o Gustavo é hoje é tido como traídor, no PT ele ainda é visto como o inimigo de ontem, como no PDT é o estranho chegando. Se dentro dos partidos as contradições pipocam como então ficará a cabeça do eleitor perante tantas contradições, que com certeza durante a campanha serão discutidas com profundidade até a exaustão?
Para o casal Bernardo tudo é lucro, já que via o Gustavo eles esperam com a candidatura enfraquecer o Beto em 2014, já que para eles o importante não é a eleição do "ex-inimigo" e sim desgastar e enfraquecer o Beto e a aliança deste com o PSB.
A tal votação do Fruet na eleição derrotada para o senado, embora este tivesse uma boa quantidade de votos, se deu principalmente por causa do apoio recebido do Beto e do Luciano, mas será que está se repetirá agora com ele na oposição aos dois? Parece tarefa impossível e o PT , que só interessa por ele enquanto instrumento, sabe disto. Tanto que enquanto o Paulo e a Gleisi estimulam o Gustavo a Dilma prometeu repassar para a administração do Luciano, entre outras verbas, um bilhão a fundo perdido para que se de início as obras do metrô. Enquanto alguns do PT martelam o casco a Dilma, certeira, acerta a ferradura. Além dos interesses paroquiais, que só servem ao projeto de alguns, a presidenta tem claro que para sair do isolamento causado pelos escândalos herdados da gestão Lula ela não pode irritar os governadores e seu principais aliados.
Para agravar este quadro o Gustavo, que tem pouca experiência em campanhas majoritárias, esquece as bases e as lideranças intermediárias e se coloca como refém das cúpulas do PT e do PDT, como se fossem estas que o elegeriam. mero engano. Estas irritadas pela falta de espaço na agenda do candidato a candidato, já o enxergam de "salto alto", e isto para ele não é nada bom. Como é que um estranho no ninho, hoje se isolando das forças vivas destes partidos, vai conseguir posteriormente motivar a tropa?
O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) mudou os prazos do recadastramento biométrico. Os eleitores que votam em Curitiba e nasceram em janeiro, fevereiro e março devem ir ao TRE até 31 de outubro. Quem não comparecer nesse prazo, terá dificuldades para fazer o recadastramento - que é obrigatório na capital paranaense.
Desde o início do processo, a orientação do órgão era de que todos os eleitores – independentemente do mês que nasceram – poderiam comparecer até o fim do prazo (20 de janeiro de 2012). Essa orientação deixou de vigorar nesse fim de semana. A mudança é para que não haja filas em janeiro de 2012.
A assessoria de imprensa do TRE-PR afirmou que o órgão tem autonomia para alterar a forma de convocar os eleitores. Aproximadamente 172,4 mil eleitores nascidos em janeiro, fevereiro e março ainda não fizeram o recadastramento.
Dos 1,3 milhão de eleitores da capital, 565 mil fizeram o recadastramento. Faltam menos de 4 meses para o término do prazo para que todos os votantes cadastrem suas impressões digitais no TRE. O órgão afirmou que não terá condições de atender todos os que deixarem para comparecer ao TRE em janeiro e por isso resolveu dificultar o processo para quem for ao órgão na última hora.
O eleitor que não comparecer ao TRE-PR terá o título cancelado e não poderá votar nas eleições municipais de 2012. O recadastramento biométrico permitirá o reconhecimento do eleitor por impressão digital e foto, dificultando as fraudes.
Novos prazos
Quem nasceu entre janeiro e março deve comparecer até 31 de outubro. Eleitores que votam em Curitiba e nasceram em abril, maio e junho serão convocados para irem ao TRE até novembro. Quem faz aniversário no terceiro trimestre será chamado até dezembro e os aniversariantes do quarto trimestre serão convocados em janeiro.
O TRE alertou que os eleitores podem adiantar o recadastramento, ou seja, quem nasceu entre abril e dezembro pode ir ao TRE antes do chamamento. O que não pode ocorrer é passar dos novos prazos estipulados pelo órgão.
Se os eleitores nascidos em janeiro, fevereiro e março não fizerem o recadastramento biométrico até 31 de outubro, terão de fazer a solicitação de restabelecimento de inscrição. Nessa situação, um juiz eleitoral irá analisar o caso e autorizar o cadastramento. Esse eleitor ainda estará sujeito ao pagamento de multa R$ 3,51.
Agendamento
O eleitor deve agendar o atendimento pelo site do TRE-PR para agilizar o processo e evitar filas. O órgão tem capacidade para atender até 12 mil pessoas por dia.
A Central de Atendimento ao Eleitor do TRE-PR funciona todos os dias da semana - inclusive sábado e domingo - das 8h30 às 18h30. O endereço é Rua João Parolin, 55, Prado Velho, Curitiba. (GP)
Confira os prazos e documentos necessários para fazer o recadastramento
*Léo Lince
Está mais do que provado, até as pedras da rua sabem. No cortejo interminável dos escândalos, basta puxar o fio da meada nos casos mais emblemáticos. Pasta rosa do ACM, PC Farias do Collor, privataria ..., mesa da Lunos do Sarney, arca do Delúbio lulopetista, bezerro de ouro Arruda/Roriz, em todos, e tantos outros, o caroço do novelo será sempre o mesmo. O formato atual de financiamento privado de campanha eleitoral é fator incontrolável de corrupção.
A cada nova eleição, a metástase se alastra. Os vitoriosos para a chefia dos executivos (presidente, governadores, prefeitos) serão sempre os que mais gastarem nas campanhas. Em segundo lugar, estarão os segundos também em gastos. Uma exceção ou outra, aqui ou acolá, confirma a regra geral. O peso do poder econômico no resultado eleitoral se tornou ostensivo e despudorado.
Nos legislativos, a mesma história. Reduziu-se o espaço dos candidatos de opinião, sejam eles de esquerda, centro ou direita. Usassem macacões como pilotos de corrida, os parlamentares ostentariam na roupa as logomarcas dos patrocinadores: planos de saúde, educação privada, armas, tabaco, transgênicos, agronegócio, uma lista sem fim. Ao invés de valores ideológicos e programas partidários, o ordenamento da representação se faz pelo interesse puro das grandes corporações, como no ideário fascista de Mussolini.
As campanhas eleitorais no Brasil estão entre as mais caras do mundo. Além de caras, se organizam de tal forma que torna impossível a fiscalização efetiva. São pouquíssimos os países que permitem ao candidato arrecadar e gastar fundos de campanha, tarefa que deveria ser de responsabilidade exclusiva das organizações partidárias.
A ferocidade da competição entre milhares de candidaturas individuais criam um quadro caótico. A justiça eleitoral só acompanha e mal fiscaliza os gastos declarados pelos próprios candidatos. Os "recursos não contabilizados", mistério profundo, só se revelam, em parte, na explosão dos "malfeitos". Se a "malfeitoria" for bem feita, ninguém se ocupará em destrinchá-la.
Outra particularidade brasileira: o peso desmedido das fontes empresariais no financiamento de campanha. A contribuição cidadã, de pessoas físicas, é diminuta. Além de pouco expressiva, quase residual, ela perde legitimidade ao fornecer terreno aos laranjais. Exemplo? Luma de Oliveira foi a maior doadora individual da campanha petista de 2002. Na mesma época, ela desfilava no carnaval ostentando coleira onde se lia as iniciais do marido, Eike Batista. Maravilhosa, mas laranja.
Na realidade, um seleto grupo de magnatas do poder econômico monopoliza o financiamento de campanha eleitoral no Brasil. Grandes banqueiros, empreiteiras gigantescas, estofadinhos do agronegócio, mega-exportadores, os novos barões da privatização e das fusões lulistas, além, é claro, da miríade de fornecedores diretos de bens e serviços para o setor público.
Não existe almoço grátis, dizem os práticos dos negócios. Logo, quem investe nas máquinas eleitorais dos partidos da ordem busca retorno certo. Obras superfaturadas, licenças ambientais criminosas, subsídios suspeitos, sonegação, elisão fiscal, vista grossa para armações cavilosas. Ao fim do circuito, a conta do financiamento privado é paga em dobro pelo que vaza ou deixa de entrar nos cofres públicos. Um rombo de tamanho incalculável. A mão ligeira do mercado, como se sabe, é invisível.
Para quebrar tal ciclo vicioso a única saída é o financiamento público das campanhas. Para garantir a viabilidade dos candidatos e independência dos eleitos ante o poder econômico, além de salvaguardar o principio da igualdade na disputa, o financiamento publico precisa ser exclusivo. Para funcionar de maneira justa, é necessário que se estabeleça um teto de gastos para cada cargo em disputa. Com fiscalização rigorosa e pesadas punições para os infratores.
O formato atual perpetua o "status quo", estreita os vínculos entre o conservadorismo político e as grandes corporações que dominam a economia. Ao mesmo tempo, cria obstáculos intransponíveis para que novos valores e interesses sociais conquistem espaços nas instituições representativas. Hoje, no Brasil, governar é intermediar negócios. E o artigo primeiro da Constituição, em deslocamento trágico, pode ser lido de outra maneira: "todo poder emana dos financiadores de campanha e em seu nome será exercido". Tal qual existe entre nós, o financiamento privado de campanha é o nó górdio da corrupção sistêmica.
Rio, setembro de 2011.
*Léo Lince é sociólogo e mestre em ciência política
Em 14 de setembro último, celebrou 90 anos de idade uma das figuras religiosas brasileiras mais importantes do século XX: o Cardeal Paulo Evaristo Arns. Voltando da Sorbonne, foi meu professor quando ainda andava de calça curta em Agudos-SP e depois, em Petrópolis-RJ, já frade, como professor de Liturgia e da teologia dos Padres da Igreja antiga. Obrigava-nos a lê-los nas linguas originais em grego e latim, o que me infundiu um amor entranhado pelos clássicos do pensamento cristão. Depois foi eleito bispo auxiliar de São Paulo. Para protegê-lo porque defendia os direitos humanos e denunciava, sob risco de vida, as torturas a prisioneiros políticos nas masmorras dos órgãos de repressão, o Papa Paulo VI o fez Cardeal.
Embora profético mas manso como um São Francisco, sempre manteve a dimensão de esperança mesmo no meio da noite de chumbo da ditadura militar. Todos os que o encontravam podiam, infalivelmente, ouvir como eu ouvi, esta palavra forte e firme: "coragem, em frente, de esperança em esperança".
Coragem, eis uma virtude urgente para os dias de hoje. Gosto de buscar na sabedoria dos povos originários o sentido mais profundo dos valores humanos. Assim que na reunião da Carta da Terra em Haia em 29 de junho de 2010, onde atuava ativamente sempre junto com Mercedes Sosa enquanto esta ainda vivia, perguntei à Pauline Tangiora, anciã da tribo Maori da Nova Zelândia qual era para ela a virtude mais importante. Para minha surpresa ela disse:"é a coragem". Eu lhe perguntei: "por que, exatamente, a coragem?" Respondeu:
"Nós precisamos de coragem para nos levantar em favor do direito, onde reina a injustiça. Sem a coragem você não pode galgar nenhuma montanha; sem coragem nunca poderá chegar ao fundo de sua alma. Para enfrentar o sofrimento você precisa de coragem; só com coragem você pode estender a mão ao caído e levantá-lo. Precisamos de coragem para gerar filhos e filhas para este mundo. Para encontrar a coragem necessária precisamos nos ligar ao Criador. É Ele que suscita em nós coragem em favor da justiça".
Culto Ecumênico de sétimo dia para Vladimir Herzog, assassinado sob tortura pela ditadura militar
Pois é essa coragem que o Cardeal Arns sempre infundiu em todos os que, bravamente, se opunham aos que nos seqüestraram a democracia, prendiam, torturavam e assassinavam em nome do Estado de Segurança Nacional (na verdade, da segurança do Capital).
Eu acrescentaria: hoje precisamos de coragem para denunciar as ilusões do sistema neoliberal, cujas teses foram rigorosamente refutadas pelos fatos; coragem para reconhecer que não vamos ao encontro do aquecimento global mas que já estamos dentro dele; coragem para mostrar os nexos causais entre os inegáveis eventos extremos, conseqüências deste aquecimento; coragem para revelar que Gaia está buscando o equilíbrio perdido que pode implicar a eliminação de milhares de espécies e, se não cuidarmos, de nossa própria; coragem para acusar a irresponsabilidade dos tomadores de decisões que continuam ainda com o sonho vão e perigoso de continuar a crescer e a crescer, extraindo da Terra, bens e serviços que ela já não pode mais repor e por isso se debilita dia a dia; coragem para reconhecer que a recusa de mudar de paradigma de relação para com a Terra e de modo de produção pode nos levar, irrefreavelmente, a um caminho sem retorno e destarte comprometer perigosamente nossa civilização; coragem para fazer a opção pelos pobres contra sua pobreza e em favor da vida e da justiça, como o fazem a Igreja da libertação e Dom Paulo Evaristo Arns.
Precisamos de coragem para sustentar que a civilização ocidental está em declínio fatal, sem capacidade de oferecer uma alternativa para o processo de mundialização; coragem para reconhecer a ilusão das estratégias do Vaticano para resgatar a visibilidade perdida da Igreja e as falácias das igrejas mediáticas que rebaixam a mensagem de Jesus a um sedativo barato para alienar as consciências da realidade dos pobres, num processo vergonhoso de infantilização dos fiéis; coragem para anunciar que uma humanidade que chegou a perceber Deus no universo, portadora de consciência e de responsabilidade, pode ainda resgatar a vitalidade da Mãe Terra e salvar o nosso ensaio civilizatório; coragem para afirmar que, tirando e somando tudo, a vida tem mais futuro que a morte e que um pequeno raio de luz é mais potente que todos as trevas de uma noite escura.
Para anunciar e denunciar tudo isso, como fazia o Cardeal Arns e a indígena maori Pauline Tangiori, precisamos de coragem e de muita coragem.