segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O projeto de infraestrutura para o ParanĂ¡ do Beto Richa:

Brasil arde em chamas e expõe falta de estrutura para prevenir incĂªndios

Celso Junior/AE

A quantidade de queimadas em 2010 - maior em trĂªs anos - expõe a falta de estrutura para prevenir e combater os incĂªndios. AtĂ© quinta-feira, o PaĂ­s acumulava cerca de 72 mil focos de fogo. Em 2009, foram 26,2 mil e, em 2008, 44,7 mil. Apesar da gravidade, o tema demorou a receber uma resposta do governo e sequer entrou na agenda de campanha dos principais candidatos Ă  PresidĂªncia da RepĂºblica.

Sem controle. Queimada em Ă¡rea de Cerrado em BrazlĂ¢ndia, cidade satĂ©lite de BrasĂ­lia (DF). SĂ³ este ano, os focos de incĂªndio cresceram 174% em todo o PaĂ­s, em relaĂ§Ă£o a 2009.

ContribuĂ­ram para agravar o quadro diversos fenĂ´menos meteorolĂ³gicos, entre eles o fato de o perĂ­odo seco ter começado mais cedo. Mas, para ambientalistas, o ponto central da questĂ£o Ă© o uso do fogo na agropecuĂ¡ria, que, apesar de ser uma tecnologia arcaica, continua sendo muito utilizada e acaba fugindo do controle, provocando incĂªndios de grandes proporções.

"Os brasileiros usam o fogo como arado ou trator e a cinza como adubo", resume Paulo AdĂ¡rio, do Greenpeace. Para ele, Ă© fundamental investir na capacitaĂ§Ă£o do produtor e em assistĂªncia tĂ©cnica. Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra - AmazĂ´nia Brasileira, reforça a ideia. "Temos um cĂ­rculo vicioso do uso controlado do fogo por conta do atraso em programas de produtividade agrĂ­cola e pecuĂ¡ria. O desafio estĂ¡ na mudança dessa prĂ¡tica primitiva."

AlĂ©m do problema ambiental, as queimadas trazem prejuĂ­zos aos produtores. A ConfederaĂ§Ă£o Nacional da Agricultura e PecuĂ¡ria (CNA) nĂ£o possui dados, mas admite que o tema preocupa. "As ações preventivas tĂªm falhado. Para o ano que vem serĂ¡ preciso um plano de aĂ§Ă£o mais abrangente", diz Assuero Doca Veronez, presidente da ComissĂ£o de Meio Ambiente da CNA.

Veronez explica que, atĂ© entĂ£o, as federações estaduais de agricultura e os sindicatos rurais tĂªm atuado na orientaĂ§Ă£o aos produtores para evitar os incĂªndios. "SerĂ¡ preciso unir forças com Ă³rgĂ£os do governo para traçar um plano mais efetivo", diz.

Ele concorda que Ă© preciso modernizar as prĂ¡ticas agrĂ­colas, especialmente para os pequenos produtores no Norte e Nordeste. "A tecnologia para evitar o uso do fogo existe, a questĂ£o Ă© disseminĂ¡-la. E isso requer polĂ­tica pĂºblica."

Faleceu Jane Setenareski

Faleceu ontem (domingo, 19), Ă s 18h30, no Hospital SĂ£o Vicente, Jane Setenareski, ex-presidente do Ceasa (Centrais de Abastecimento do ParanĂ¡ S/A).

Jane Setenareski era uma antiga assessora e amiga pessoal do governador Orlando Pessuti.

O velĂ³rio estĂ¡ sendo realizado nesta manhĂ£ na Capela Municipal de SĂ£o JosĂ© dos Pinhais, atrĂ¡s do Shopping SĂ£o JosĂ©. Ă€s 16 horas haverĂ¡ uma missa de corpo presente na igreja da ColĂ´nia Murici e o sepultamento serĂ¡ Ă s 17 horas.

Dilma tenta no TSE impedir Serra de ligĂ¡-la a Erenice



Josias de Souza na Folha Online

A coligaĂ§Ă£o de Dilma Rousseff protocolou no TSE quatro representações contra a campanha do rival JosĂ© Serra.

Na petições, pede-se ao tribunal que tome providĂªncias para deter a escalada de ataques da propaganda eletrĂ´nica de Serra.

Em trĂªs ações, reclama-se de peças que vinculam Dilma a Erenice Guerra, sucessora dela na Casa Civil. Foram ao ar na TV, no fim de semana.

A quarta reclamaĂ§Ă£o trata de comercial radiofĂ´nico. O tucanato acusa Dilma de ter deixado um “rombo” na secretaria de Fazenda de Porto Alegre.

Neste domingo (19), o ministro Joelson Dias indeferiu pedido de liminar para suspender um dos comerciais sobre o ‘Erenicegate’.


A publicidade ligou Dilma a Erenice e sustentou que, eleita, a presidenciĂ¡vel do PT “nĂ£o saberĂ¡ escolher” os ministros e “nĂ£o vai dar conta” de governar.

Os advogados de Dilma classificaram a peça de “injuriosa” . Por quĂª? “Pretende diminuir e menoscabar a candidata” do PT.

Em seu despacho, o ministro Joelson negou a concessĂ£o de liminar por entender que o programa de Serra apenas exerceu a “crĂ­tica polĂ­tica”.

Algo que nĂ£o justitifica nem a suspensĂ£o da publicidade nem a concessĂ£o de direito de resposta a Dilma.

A decisĂ£o de Joelson, por liminar (provisĂ³ria), terĂ¡ de passar pelo crivo do plenĂ¡rio do TSE, composto de sete ministros.

Nas outras duas reclamações que tratam do ‘Erenicegate’, os advogados nĂ£o incluĂ­ram pedidos de liminares. Por isso, ainda nĂ£o houve deliberaĂ§Ă£o.

Quanto ao comercial de rĂ¡dio, coube Ă  ministra Nancy Andrighi analisĂ¡-lo. Nesse caso, houve pedido de lininar (suspensĂ£o e direito de resposta).

Para os advogados de Dilma, a propaganda de Serra difamou a rival ao afirmar no rĂ¡dio que ela “deixou a secretaria de Fazenda de Porto Alegre com um rombo”.

Um buraco “tĂ£o grande que a prefeitura precisou pedir um emprĂ©stimo no banco, para pagar os funcionĂ¡rios”.

Em sua decisĂ£o, a ministra Nancy negou a suspensĂ£o liminar do programa. Indeferiu tambĂ©m o pedido de direito de resposta.

A exemplo do colega Joelson, Nancy considerou que, tambĂ©m neste caso, o tucanato nĂ£o extrapolou os limites da “crĂ­tica polĂ­tica”. Nada que ofenda a legislaĂ§Ă£o.

Alheio Ă  movimentaĂ§Ă£o do comitĂª inimigo, Serra manteve a lança erguida. Em entrevista, voltou a grudar Dilma em Erenice.

Afirmou: Se Dilma nĂ£o soube do trĂ¡fico de influĂªncia que correu sob Erenice, Ă© “incapaz”. Se tomou conhecimento, Ă© “cĂºmplice”.

Beto Richa, Ricardo Barros e Wilson Quinteiro na carreata em Paiçandu

ma grande carreata com mais de 300 veĂ­culos recebeu Beto Richa nesta sĂ¡bado em Paiçandu, a 20 km de MaringĂ¡. Nas rua, Beto foi saudado com focos de artifĂ­cio, buzinaços e bandeiras. Um grupo de funcionĂ¡rios da Sanepar aproveitou a presença de Beto na cidade para manifestar apoio ao candidato da ColigaĂ§Ă£o Novo ParanĂ¡. “Somos contrĂ¡rios ao que acontece na Sanepar. Queremos uma empresa organizada, com objetivos e metas e nĂ£o apenas com demagogia e polĂ­tica”, afirmou Paulo Batiston, funcionĂ¡rio da Sanepar em MaringĂ¡. “Vamos ter uma diretoria sĂ©ria e competente. Vamos valorizar os funcionĂ¡rios e fazer a Sanepar voltar a ser referĂªncia nacional e orgulho do ParanĂ¡”, afirmou Beto.

JoĂ£o Herbert Garbelini, tambĂ©m funcionĂ¡rio da Sanepar, isse que estĂ¡ decepcionado com a forma como o ex-governador e candidato ao senado Roberto RequiĂ£o tratou a populaĂ§Ă£o de Paiçandu, ameaçando o prefeito de nĂ£o enviar recursos porque o prefeito cobrava uma passarela na rodovia. “Agora nĂ³s vamos votar no Beto, que Ă© a pessoa com as propostas que nĂ³s escolhemos”, disse Garbelini.

O prefeito de Mandaguari, CillĂªnyo Pereira, presidente da AssociaĂ§Ă£o dos MunicĂ­pios do SetentriĂ£o Paranaense (Amusep), que acompanhou a carreata, disse que Beto Richa Ă© a melhor opĂ§Ă£o porque foi o melhor prefeito do Brasil por 10 vezes e serĂ¡ um governador ainda melhor. “Beto Ă© jovem e nĂ£o tem preguiça, tem vontade de trabalhar, atende bem as pessoas e tem clareza de propĂ³sitos.”

A vice-prefeita de Paiçandu, Maria Rita Braz Zirondi (PPS), disse que acompanha o trabalho de Beto Richa, que Ă© nascido no norte do ParanĂ¡. “Temos que acreditar na força da juventude do Beto, na sua competĂªncia administrativa. Precisamos da duplicaĂ§Ă£o da estrada Paiçandu a MaringĂ¡, de passarelas, de investimentos na saĂºde, na educaĂ§Ă£o e na pavimentaĂ§Ă£o asfĂ¡ltica. Ele vai fazer tudo isso por nĂ³s, como fez por Curitiba”, disse ela.

IBGE aponta ligaĂ§Ă£o entre renda e nĂ­vel de educaĂ§Ă£o

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de DomicĂ­lios (PNAD), divulgada pelo IBGE nesta sexta-feira, indicam que as desigualdades estĂ£o diminuindo no que diz respeito ao acesso ao sistema educacional. No entanto, o nĂ­vel do rendimento familiar ainda Ă© uma fonte de desigualdade importante, sobretudo nos ciclos de ensino nĂ£o obrigatĂ³rios.

Entre 1999 e 2009, a educaĂ§Ă£o infantil (0 a 5 anos), foi o nĂ­vel de ensino que mais cresceu em termos de frequĂªncia (de 32,5% para 40,2%), mas, nessa faixa etĂ¡ria, apenas 30,9% das mais pobres frequentavam creche ou prĂ©-escola. Este percentual aumenta para 55,2% entre os 20% mais ricos.

Na faixa dos 6 a 14 anos, que corresponde ao ensino fundamental, o acesso à escola era praticamente igual em todos os níveis de rendimento. Entre 15 e 17 anos a possibilidade de estudar atingia 82,6% em média. A diferença entre os mais pobres e os mais ricos chegava a quase 13 pontos percentuais.

No grupo das pessoas de 18 a 24 anos de idade, 14,7% declararam somente estudar, 15,6% conciliavam trabalho e estudo, 46,7% somente trabalhavam. Outros 17,8% informaram realizar afazeres domĂ©sticos e 5,2% nĂ£o realizavam nenhuma atividade. No grupo de 16 a 24 anos, 22,2% recebiam atĂ© meio salĂ¡rio mĂ­nimo no mercado de trabalho. No Nordeste, esse percentual quase dobrava. AlĂ©m disso, 26,5% das pessoas nessa faixa etĂ¡ria trabalhavam mais de 45 horas semanais.

No universo dos jovens de 15 a 24 anos, quase 647 mil, o que correspondia a 1,9%, eram analfabetos, e a maioria 62 % deles estava no Nordeste, seguido pelo Sudeste com 19.

ParanĂ¡: Arquibancada cai em Quatro Pontes e deixa 112 feridos

Julio Cesar Lima

A quinta etapa da Prova de ArrancadĂ£o, em Quatro Pontes, no Oeste do ParanĂ¡, a 590 km de Curitiba, teve final trĂ¡gico. Assistida por aproximadamente 5 mil pessoas, a prova foi suspensa apĂ³s a queda de um trecho de arquibancada, onde cerca de 500 espectadores acompanhavam o evento. O acidente provocou ferimentos em 112 pessoas, conforme o Corpo de Bombeiros de Toledo.

Desastre. Para bombeiros, queda foi causada por falha estrutural ou excesso de chuvas
NĂ£o houve registro de morte, mas um jovem, cuja identidade nĂ£o foi revelada, continuava em observaĂ§Ă£o no hospital de Toledo, em estado grave, atĂ© 23 horas. A empresa organizadora do evento nĂ£o se pronunciou. JĂ¡ o Corpo de Bombeiros de Toledo, que liderou o trabalho de resgate das vĂ­timas, deve iniciar a perĂ­cia do local e divulgar um laudo sobre o acidente nesta semana.

Ontem, ninguĂ©m soube informar se a realizaĂ§Ă£o da prova atendia a todos os critĂ©rios de segurança. Uma das hipĂ³teses levantadas pelos bombeiros durante o resgate Ă© a de que pode ter ocorrido algum tipo de falha na estrutura ou o terreno onde estava localizada a arquibancada caĂ­da pode ter cedido - por causa das chuvas que correram na regiĂ£o durante a madrugada de domingo. A arquibancada, porĂ©m, foi contratada pela empresa organizadora de outra terceirizada.

Com relaĂ§Ă£o Ă s vĂ­timas, a maioria delas foi levada para a Unidade de SaĂºde de Marechal CĂ¢ndido Rondon, para o Hospital Bom Jesus, em Toledo e para outras unidades em Cascavel, apĂ³s sofrerem quedas de atĂ© 5 metros.

PrĂ©-sal jĂ¡ tem 29 bilhões de barris comprovados

AndrĂ© Magnabosco / SĂƒO PAULO, Nicola Pamplona/ RIO/AE

Certificadora da ANP divulgou na sexta-feira confirmaĂ§Ă£o de mais 15 bi a 20 bi de barris, com 70% de probabilidade de acerto.

As reservas do prĂ©-sal da Bacia de Santos podem conter 15 a 20 bilhões de barris, alĂ©m dos 14 bilhões confirmados pela PetrobrĂ¡s atĂ© agora. A projeĂ§Ă£o Ă© da certificadora Gaffney, Cline & Associates, em relatĂ³rio elaborado por encomenda da AgĂªncia Nacional do PetrĂ³leo (ANP).

Entre maiores. Potencial do pré-sal é equivalente ao de grandes bacias produtoras mundiais.

Segundo o trabalho, o potencial do pré-sal é equivalente ao de grandes bacias produtoras mundiais, como as areias betuminosas canadenses e a faixa do Orinoco, na Venezuela.

O relatĂ³rio foi feito para auxiliar a ANP nas negociações com a PetrobrĂ¡s para venda de barris do prĂ©-sal no processo chamado de cessĂ£o onerosa, que garantiu ao governo recursos para participar da capitalizaĂ§Ă£o da estatal. A ANP costuma trabalhar com um potencial de 50 bilhões de barris para o prĂ©-sal, mas Ă© a primeira vez que reservatĂ³rios fora das concessões da PetrobrĂ¡s sĂ£o certificados oficialmente.

Serra em relaĂ§Ă£o ao envolvimento da Dilma no caso Erenice: "Ou ela nĂ£o Ă© capaz ou Ă© cĂºmplice"






"De duas, uma: ou ela, como dirigente, nĂ£o Ă© capaz, porque um esquema que dura quatro, cinco, seis, sete anos, nĂ£o hĂ¡ como quem estĂ¡ em cima nĂ£o saber. Ou entĂ£o, ela Ă© cĂºmplice. NĂ£o hĂ¡ uma terceira hipĂ³tese"

Entidades reagem a ataques de Lula

Lucas de Abreu Maia - O Estado de S.Paulo

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcanti, definiu ontem como "um desserviço Ă  ConstituiĂ§Ă£o e ao Brasil" as crĂ­ticas feitas Ă  imprensa pelo presidente Luiz InĂ¡cio Lula da Silva, no sĂ¡bado, durante comĂ­cio eleitoral de sua candidata, Dilma Rousseff, em Campinas. AlĂ©m da OAB, vĂ¡rias outras entidades de defesa da liberdade de imprensa se manifestaram contra o discurso feito pelo presidente.


Mauricio Lima/AFP

Formadores. Lula em comĂ­cio: "NĂ³s somos a opiniĂ£o pĂºblica e nĂ³s mesmos nos formamos"

Segundo o presidente da OAB, a atitude de Lula "demonstra uma certa intolerĂ¢ncia com um princĂ­pio constitucional que Ă© vital para o fortalecimento da democracia: a liberdade de expressĂ£o". E prosseguiu: "Quando o lĂ­der maior da naĂ§Ă£o se coloca contra a liberdade de imprensa, isso Ă© um desserviço Ă  ConstituiĂ§Ă£o e ao Brasil".

Lula havia dito, no comĂ­cio, que alguns jornais e revistas se comportam como partido polĂ­tico. "Outra vez nĂ³s vamos derrotar nossos adversĂ¡rios tucanos, vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem um partido polĂ­tico", declarou. Irritado com recentes reportagens a respeito de trĂ¡fico de influĂªncia e irregularidades praticadas por funcionĂ¡rios ligados Ă  Casa Civil, o presidente foi adiante: "Essa gente (imprensa e tucanos) nĂ£o me tolera." As reportagens, segundo ele, sĂ£o intolerĂ¢ncia, Ă³dio e mentira. "Existe uma revista que nĂ£o lembro o nome dela (sic). Ela destila Ă³dio e mentira."

Na avaliaĂ§Ă£o de Lula, "eles nĂ£o se conformam que o pobre nĂ£o aceita mais o tal do formador de opiniĂ£o pĂºblica". E definiu: "NĂ³s somos a opiniĂ£o pĂºblica e nĂ³s mesmos nos formamos". Em seu entender, "se o dono do jornal lesse seu jornal ou o dono da revista lesse sua revista, eles ficariam com vergonha do que estĂ£o escrevendo."

Para Cavalcante, porĂ©m, "a imprensa brasileira vem formulando denĂºncias a partir de fatos". Trata-se de "denĂºncias sĂ©rias, denĂºncias que precisam efetivamente de apuraĂ§Ă£o e de um retorno por parte do Estado brasileiro", completou o presidente da OAB. "A democracia livre tem imprensa livre. O governante pode atĂ© nĂ£o gostar das crĂ­ticas que sĂ£o feitas, mas cabe a ele - Ă© seu dever constitucional- apurar e conviver com esse tipo de crĂ­tica que Ă© algo extremamente normal. AtĂ© porque, quando ele (Lula) estava na oposiĂ§Ă£o, tambĂ©m fazia crĂ­ticas aos governos existentes, e tenho certeza de que as crĂ­ticas que ele fez, ou que o partido dele fez, naquele momento foram importantes para o fortalecimento da democracia."

A entrevista completa da Erenice para a "Isto Ă©": "Meus filhos vĂ£o ter que viver todos Ă  minha custa?"


Erenice Guerra admite que nĂ£o tem controle sobre o trabalho do filho, diz que foi traĂ­da e se considera vĂ­tima de uma campanha
OctĂ¡vio Costa e SĂ©rgio Pardellas Fotos: Roberto Castro/Ag. ISTOÉ


“Meu filho se chama Israel, nĂ£o VerĂ´nica.
NĂ£o sou o Serra, que briga para manter o sigilo da filha"

Na quinta-feira 16, a equipe de ISTOÉ tinha encontro marcado com a ministra Erenice Guerra Ă s oito horas da manhĂ£, na residĂªncia oficial da Casa Civil. Mas, depois de uma rĂ¡pida visita do ministro Franklin Martins, ela foi convocada Ă s pressas pelo presidente Lula. Erenice pediu que a reportagem aguardasse atĂ© o meio-dia, pois iria ao PalĂ¡cio do Planalto para entregar seu pedido de demissĂ£o. Assim que deixou o cargo, voltou Ă  luxuosa casa na PenĂ­nsula dos Ministros e ali deu uma entrevista exclusiva Ă  ISTOÉ sobre seus Ăºltimos momentos no governo Lula.

ISTOÉ – O que mais pesou em sua decisĂ£o de pedir exoneraĂ§Ă£o?
Erenice Guerra – Fundamentalmente, foi a campanha de desconstruĂ§Ă£o da minha imagem, sĂ³rdida e implacĂ¡vel, atingindo, sobretudo, a minha famĂ­lia. Esses valores colocados em questĂ£o sĂ£o caros para mim. Sou uma pessoa de origem simples e a famĂ­lia Ă© o nĂºcleo central que estabiliza a gente. Nesse episĂ³dio, nĂ£o escaparam filhos, filha, marido, irmĂ£os. Quando eu percebi que nĂ£o haveria limite nenhum, nem Ă©tico nem de profissionalismo, para essa campanha difamatĂ³ria, entendi que era o momento de fazer uma opĂ§Ă£o. Uma opĂ§Ă£o pela minha vida pessoal, minha famĂ­lia, meus filhos e minha mĂ£e, que sofre com tudo isso. Resolvi, entĂ£o, parar um pouco para proceder Ă  defesa adequada de minha honradez e de minha seriedade profissional. Entendi que era o momento de dar um basta e dizer: “Senhor presidente, agora eu preciso de paz e de tempo para que eu possa defender a mim e a minha famĂ­lia dessa campanha difamatĂ³ria.”

ISTOÉ – Por que existiria uma campanha difamatĂ³ria contra a sra.?
Erenice – Na minha opiniĂ£o, ela estĂ¡ absolutamente vinculada ao momento polĂ­tico-eleitoral. E Ă© impiedosa e cruel, em que pese eu ter respondido de pronto Ă s imputações e providenciado que fosse feita investigaĂ§Ă£o das denĂºncias administrativas pela ComissĂ£o de Ética e pela Controladoria-Geral da UniĂ£o e pelo MinistĂ©rio da Justiça, no Ă¢mbito da PolĂ­cia Federal. Isso, alĂ©m de ter aberto todos os meus sigilos bancĂ¡rio, fiscal e telefĂ´nico.


"HĂ¡ uma disputa de cargos no futuro
governo, o que Ă© natural"


ISTOÉ – A sra. conhece bem o trabalho de seu filho Israel Guerra para garantir que ele Ă© inocente?
Erenice – Uma pessoa que trabalha a quantidade de horas que eu trabalho por dia, que sai de casa antes das nove da manhĂ£ e sĂ³ volta depois das nove da noite, nĂ£o tem condições de acompanhar trabalho nem de filho, nem de irmĂ£o, nem de ninguĂ©m. Mas eu conversei com meu filho e, conhecendo o filho que tenho, acredito nas afirmações que me foram feitas por ele. Ele me garantiu que, em nenhum momento, ultrapassou os limites da Ă©tica e da conduta que deveria ter. E ele sabe a mĂ£e que tem. Eu jamais aceitaria ou faria movimento no sentido de privilegiar alguĂ©m.

ISTOÉ – A sra. nomeou o presidente e um diretor de operações dos Correios. Seu filho Israel Guerra, que trabalhou na Anac, aparece prestando consultoria a uma empresa, a Master Top Linhas AĂ©reas (MTA), que obteve renovaĂ§Ă£o de concessĂ£o na Anac e, em seguida, ganhou uma concorrĂªncia milionĂ¡ria nos Correios. NĂ£o Ă© muita coincidĂªncia?
Erenice – Troquei sim a diretoria dos Correios por determinaĂ§Ă£o do presidente da RepĂºblica, porque a estatal estava num processo de declĂ­nio na prestaĂ§Ă£o de serviço. Troquei o diretor de operações, o presidente e o diretor de recursos humanos. Creio que pago um preço por isso, mas nĂ£o me arrependo. Do ponto de vista da minha conduta de servidora pĂºblica, era o que deveria ser feito para o resgate da credibilidade dos Correios. Israel prestou serviço para um sujeito chamado FĂ¡bio Baracat, que se intitulava dono de uma empresa chamada Via Net, mas nunca prestou serviço para uma empresa chamada MTA. A prĂ³pria Anac reconhece que renovou a concessĂ£o da MTA porque eles regularizaram toda a documentaĂ§Ă£o. A MTA ganhou e perdeu licitações nos Correios. E o tal contrato com a Via Net, que seria a empresa do Baracat, jamais foi assinado pelo meu filho. EntĂ£o, Ă© uma histĂ³ria muito confusa. Meu filho nunca teve contato direto com a MTA e eu muito menos.

ISTOÉ – A sra. se encontrou com FĂ¡bio Baracat na sua residĂªncia, na de seu filho ou em outro local?
Erenice – Eu fui apresentada ao Baracat pelo meu filho na condiĂ§Ă£o de amigo dele. É um rapaz bem apessoado, bem formado, conversa bem, me parece atĂ© que Ă© mais novo que meu filho. Para mim era mais um amigo. Conheci socialmente, como outros tantos amigos que meu filho jĂ¡ me apresentou. NĂ£o conversamos nada alĂ©m do trivial de um encontro social.

ISTOÉ – Mas o fato de seu filho se relacionar, trabalhar e prestar consultoria a empresĂ¡rios que tĂªm interesse em negĂ³cios com o governo nĂ£o pode ser considerado trĂ¡fico de influĂªncia?
Erenice – A sociedade precisa refletir sobre essa questĂ£o. Depois que uma pessoa passa a exercer cargo pĂºblico, seus filhos devem parar de se relacionar, trabalhar e ter amigos? Ou as pessoas com quem ele se relaciona previamente precisam apresentar currĂ­culo para dizer o que fazem? E se essa pessoa for um empresĂ¡rio? Ele tem que ser, a priori, jĂ¡ eliminado do seu cĂ­rculo de relações, pois eventualmente, no futuro, pode vir a participar de uma licitaĂ§Ă£o e eu, como estava ocupando uma pasta muito ampla, teria teoricamente influĂªncia sobre qualquer Ă¡rea? O que serĂ¡ dos meus filhos e dos meus parentes? TerĂ£o todos que viver Ă  minha custa, pois nĂ£o poderĂ£o trabalhar e se relacionar?

ISTOÉ – JĂ¡ houve casos em BrasĂ­lia em que filhos de ministros venderam facilidades. PossuĂ­am consultoria e escritĂ³rios e se ofereciam para abrir portas. Podem ter sido vendidas facilidades em seu nome?
Erenice – O que impede alguĂ©m, a nĂ£o ser a Ă©tica, de se vender por aĂ­ como uma pessoa que tem acesso Ă  ministra e pode facilitar qualquer tipo de negĂ³cio? Essa Ă© uma vulnerabilidade Ă  qual estou exposta.

ISTOÉ – A sra. chegou a se encontrar com um representante da EDRB do Brasil, que teria tentado obter emprĂ©stimo no BNDES com a ajuda de seu filho?
Erenice – Eu nunca recebi. Ele foi recebido na Casa Civil pelo meu assessor, o chefe de gabinete Ă  Ă©poca. Foi lĂ¡ apenas para fazer a demonstraĂ§Ă£o de um projeto de energia alternativa. É tudo o que eu sei sobre esse assunto. Mas efetivamente a Casa Civil estĂ¡ investigando a conduta do ex-servidor VinĂ­cius Castro e a possibilidade de ele ter praticado algum trĂ¡fico de influĂªncia nesse caso.

ISTOÉ – Esse servidor poderia se passar por um funcionĂ¡rio capaz de influir nas suas decisões?
Erenice – É. Poderia dizer “trabalho na Casa Civil, posso conseguir isso e aquilo...” Isso nĂ£o Ă© desarrazoado nĂ£o. E, exatamente por isso, a Casa Civil estĂ¡, a partir de hoje, investigando esse caso com bastante rigor.

ISTOÉ – Significou uma traiĂ§Ă£o Ă  sra.? Afinal, VinĂ­cius era um funcionĂ¡rio muito prĂ³ximo, alĂ©m de ser sĂ³cio de seu filho.
Erenice – Foi uma traiĂ§Ă£o. Uma completa traiĂ§Ă£o

ISTOÉ – Se eventualmente houve trĂ¡fico de influĂªncia na Casa Civil, como a sra. aventou, foi sem seu conhecimento?
Erenice – Absolutamente sem o meu conhecimento. Eu jamais admitiria um negĂ³cio desses. Por que eu faria isso? Por que eu deixaria que minha honra e minha histĂ³ria profissional se sujassem por conta de trĂ¡fico de influĂªncia no local em que trabalho? Sou uma mulher madura, vivida. Sei onde estou, o que estou fazendo.


“Fala-se muito em fogo amigo, mas prefiro nĂ£o
me manifestar. Seria uma dor a mais"


ISTOÉ – Como a sra. estĂ¡ lidando com esse episĂ³dio?
Erenice – Eu diria que Ă© sĂ³ mais uma dor nesses dias tĂ£o dolorosos. Mas o importante Ă© que se apure com rigor, independentemente de eu nĂ£o estar mais lĂ¡. Tive uma conversa com o Carlos Eduardo (Esteves Lima), que ficou como ministro, sobre a necessidade de averiguar e nĂ£o deixar pedra sobre pedra, porque quem me conhece sabe que nĂ£o permitiria coisa parecida. Por muito menos, determinei a abertura de processos administrativos dentro da Casa Civil. É Ă³bvio que se eu imaginasse qualquer trĂ¡fico de influĂªncia na Casa Civil teria determinado as medidas investigativas necessĂ¡rias. Se nĂ£o fiz, foi porque isso nĂ£o me ocorreu. Agora serĂ¡ feito.

ISTOÉ – A sra. se sentiu em algum momento abandonada pelo governo?
Erenice – De forma nenhuma. Eu fui tratada com solidariedade durante todo esse tempo. É Ă³bvio que isso estĂ¡ diretamente ligado Ă  disputa eleitoral, Ă  necessidade de a oposiĂ§Ă£o gerar fatos novos. O fato da quebra de sigilo se esgotou. Serra percebeu claramente que falar de quebra de sigilo nĂ£o era uma boa tĂ´nica, entĂ£o vamos falar de outra coisa. E a Erenice foi a bola da vez, atĂ© porque eu simbolizo uma proximidade, uma relaĂ§Ă£o de confiança com a candidata Dilma, que estĂ¡ na frente.

ISTOÉ – Dilma foi solidĂ¡ria? Chegou a ligar?
Erenice – Conversamos e a Dilma nĂ£o tem dĂºvida sobre a minha conduta.

ISTOÉ – A sra. teve apoio do presidente?
Erenice – Conversei com o presidente e ele foi muito amoroso comigo. E reiterou a confiança que tem na minha pessoa, mas achou que Ă© um direito meu fazer agora os trabalhos que eu preciso fazer. Conversar com os meus advogados, abrir os processos para provar que eu nĂ£o tenho participaĂ§Ă£o, que nĂ£o tive nenhum benefĂ­cio.

ISTOÉ – A sra. chama as denĂºncias de campanha difamatĂ³ria e as atribui Ă  oposiĂ§Ă£o? NĂ£o poderia, de repente, ser fogo amigo?
Erenice – Se fala muito em fogo amigo, mas eu prefiro nĂ£o me manifestar sobre isso. AtĂ© porque seria uma dor a mais. HĂ¡ uma disputa de cargos no futuro governo, o que Ă© natural.

ISTOÉ – A sra. estĂ¡ tranquila com a investigaĂ§Ă£o da CGU?
Erenice – Eu lhes asseguro que toda a minha famĂ­lia disponibiliza seu sigilo fiscal, bancĂ¡rio e telefĂ´nico. Eu nĂ£o sou o Serra que briga para manter o sigilo da filha. Meu filho se chama Israel, e nĂ£o VerĂ´nica. NinguĂ©m estĂ¡ brigando na Justiça para manter o sigilo. Todos nĂ³s estamos dizendo: “Os nossos sigilos estĂ£o abertos.” Eu nĂ£o tenho absolutamente nada a esconder. Essa postura Ă© de alguĂ©m que se sente tranquila.

ISTOÉ – O que a sra. pretende fazer daqui para a frente?
Erenice – Respirar. Agora tenho que descansar. Ter tempo de fazer a defesa da minha honra e da legitimidade de todos os meus atos. De minha histĂ³ria de vida. Eu tenho clareza e certeza de que sou uma boa profissional. NĂ£o tenho problemas de emprego, de como me sustentar ou como viver. Mas nĂ£o posso perder minha credibilidade. NĂ£o posso viver sem honra. É inadmissĂ­vel.

ISTOÉ – Ao fim e ao cabo das investigações, a sra. tem a convicĂ§Ă£o de que as acusações nĂ£o se sustentarĂ£o? A sra. pode afirmar isso?
Erenice – Tenho absoluta certeza. NĂ£o se sustentarĂ£o. A Ăºnica coisa que lamento Ă© que eu nĂ£o terei o mesmo espaço ocupado pelas denĂºncias para divulgar minha inocĂªncia. Mas buscarei na Justiça o direito de resposta.

 
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