Nesta segunda-feira (14), o Levante Popular da Juventude promoveu mais uma sĂ©rie de esculachos contra torturadores e agentes da repressĂ£o da ditadura militar por diversos estados do Brasil. Os atos se basearam na denuncia de ex-agentes que participaram direta ou indiretamente de ações de tortura na Ă©poca e em frente a prĂ©dios que serviam para tais fins, como o Departamento de Ordem PolĂtica e Social (Dops) e o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (Doi/Codi).
Foram realizadas 12 mobilizações organizadas nacionalmente em 11 estados: PE, PA, BA, CE, SE, PB, RN, SP, MG, RJ, RS. Oito agentes foram denunciados publicamente por meio dos esculachos, ao apontarem suas participações nos processos de tortura durante a ditadura.
Os manifestantes apoiam a instalaĂ§Ă£o da ComissĂ£o da Verdade, cobram a localizaĂ§Ă£o e identificaĂ§Ă£o dos restos mortais de desaparecidos polĂticos e exigem que os torturadores sejam julgados e punidos.
AlĂ©m disso, os jovens condenam a movimentaĂ§Ă£o dos setores conservadores dentro e fora das Forças Armadas, que nĂ£o aceitam a democracia e nĂ£o admitem a memĂ³ria, a verdade e a justiça, desrespeitando a autoridade da presidenta Dilma Rousseff e ministros de Estado, como no manifesto “Alerta Ă naĂ§Ă£o”.
Desta forma, a juventude organizada pelo Levante sai Ă s ruas para denunciar a impunidade de torturadores e criminosos da ditadura com o objetivo de sensibilizar a sociedade e garantir que a ComissĂ£o tenha liberdade para fazer o seu trabalho e alcance seus objetivos.
Ações
Em SĂ£o Paulo, cerca de 100 jovens fizeram o esculacho do homem que torturou a presidenta Dilma Rousseff, o tenente-coronel reformado MaurĂcio Lopes Lima, reconhecido pela presidenta como torturador da OperaĂ§Ă£o Bandeirante, no municĂpio do GuarujĂ¡, no litoral de SĂ£o Paulo.
O estado de Minas Gerais protagonizou outras duas ações. Em Belo Horizonte, o alvo de mais 100 pessoas foi a casa de JoĂ£o Bosco Nacif da Silva, mĂ©dico-legista da Policia Civil da ditadura militar, denunciado pela participaĂ§Ă£o num crime de assassinato e tortura na capital, em 1969. JoĂ£o Bosco foi responsĂ¡vel por autos de corpo delito na Ă©poca, como no caso de JoĂ£o Lucas Alves, ao atestar um laudo mĂ©dico dizendo que o jovem havia se suicidado, de acordo com o livro Tortura Nunca Mais.
No interior do estado, no municĂpio de TeĂ³filo Otoni, outros 40 jovens fizeram um ato pĂºblico nas ruas do centro da cidade. O ponto de partida da marcha foi a antiga cadeia da cidade e o Tiro de Guerra do ExĂ©rcito, e finalizaram na Praça Tiradentes. A atividade teve como objetivo resgatar a memĂ³ria de Nelson JosĂ© de Almeida, militante da organizaĂ§Ă£o polĂtica Comando de LibertaĂ§Ă£o Nacional (COLINA), morto aos 21 anos no municĂpio. AlĂ©m de denunciar o responsĂ¡vel por sua prisĂ£o, tortura e morte: o antigo 1º tenente da PolĂcia Militar Murilo Augusto de Assis Toledo, que foi agente do Dops de Minas.
JĂ¡ na Bahia, por volta de 150 jovens de Feira de Santana, Cruz das Almas e Salvador foram Ă s ruas da capital para fazer um esculacho contra o torturador Dalmar CaribĂ©, cabo do ExĂ©rcito na ditadura, e responsĂ¡vel pelos assassinatos dos lutadores populares Carlos Lamarca e Zequinha Barreto. Os jovens seguiram em direĂ§Ă£o Ă AssociaĂ§Ă£o Cultural e Esportiva Braskem (ACEB), localizada no bairro do Costa Azul, local onde funciona a AssociaĂ§Ă£o de KaratĂª da Bahia (ASKABA), entidade fundada em 23 de novembro de 1967, pela famĂlia CaribĂ© (Denilson CaribĂ© de Castro e Dalmar CaribĂ© de Castro).
No Rio de Janeiro, 50 jovens fizeram um protesto em frente a casa do torturador JosĂ© AntĂ´nio Nogueira Belham, no Flamengo, Zona Sul. Belhan, envolvido nas torturas como colaborador e informante, foi o chefe do DOI-CODI do Rio. Dentre as inĂºmeras torturas e assassinatos cometidos em sua repartiĂ§Ă£o estĂ¡ a do engenheiro civil e militante pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) Rubens Paiva, como citado no livro A Ditadura Escancarada, de Elio Gaspari.
Em Sergipe, o esculachado foi o mĂ©dico apoiador da ditadura Dr. JosĂ© Carlos Pinheiro, diretor do Hospital e Maternidade Santa Isabel, o mesmo alvo da Ăºltima aĂ§Ă£o. Ele Ă© acusado de acompanhar presos polĂticos submetidos Ă tortura no 28° BatalhĂ£o de Caçadores. Os cerca de 50 jovens denunciam que a funĂ§Ă£o do mĂ©dico era “diagnosticar” a saĂºde dos homens e mulheres torturados para determinar se eles aguentariam ou nĂ£o mais atos de violĂªncia.
Em Pernambuco, o torturador escolhido foi o desembargador aposentado Aquino de Farias Reis. Aquino foi delegado de plantĂ£o no DOPS de Pernambuco, quando o preso polĂtico Odijas Carvalho, estudante de agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), foi barbaramente torturado aos 26 anos de idade e morto em consequĂªncia das torturas, em 30 de fevereiro de 1971. A aĂ§Ă£o aconteceu em frente ao CondomĂnio Ilha do Retiro, onde fica sua residĂªncia.
No ParĂ¡, um grupo de aproximadamente 50 pessoas realizou uma aĂ§Ă£o de escracho em frente ao prĂ©dio do MinistĂ©rio da Fazenda, na cidade de BelĂ©m. O objetivo foi denunciar que naquele prĂ©dio trabalham dois torturadores da ditadura militar: Magno JosĂ© Borges e Armando Souza Dias. Os dois ligados ao DOI-CODI estiveram no episĂ³dio da Guerrilha do Araguaia. AlĂ©m dos cargos pĂºblicos, uma denĂºncia publicada pelo jornalista Mario Augusto Jakobskind diz que ambos tambĂ©m trabalham na AgĂªncia Brasileira de InteligĂªncia (Abin).
Na capital do Rio Grande do Norte os jovens resgataram a memĂ³ria mostrando os rostos e contando a histĂ³ria de quem morreu por defender a liberdade e justiça, ao homenagearem pessoas torturadas e mortas pelo regime, como Edson Neves, Emanuel Bezerra, AnĂ¡talia Alves e JosĂ© Silton Pinheiro. O ato, com um carĂ¡ter de agitaĂ§Ă£o, aconteceu na Praça CĂvica de Natal, em frente ao PalĂ¡cio dos Esportes.
No CearĂ¡, o foco da aĂ§Ă£o foi a antiga sede da PolĂcia Federal, que funcionou como um centro de tortura onde vĂ¡rios militantes de movimentos sociais e partidos polĂticos foram presos e torturados durante a ditadura, e que hoje em dia abriga a Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor). Participaram da aĂ§Ă£o na capital cearense cerca de 80 pessoas, juntamente com outras entidades e ex-presos polĂticos, os jovens se mobilizam pela ComissĂ£o Nacional da Verdade, em Fortaleza (CE).
JĂ¡ na ParaĂba, o Levante promoveu uma manifestaĂ§Ă£o na Universidade Federal da ParaĂba (UFPB) e na Escola Estadual Presidente MĂ©dici, em JoĂ£o Pessoa, com o intuito de dialogar com os estudantes e resgatar Ă memĂ³ria o perĂodo opressor da Ditadura Militar.
Em Santa Maria (RS), houve uma sĂ©rie de colagem de cartazes pela cidade para denunciar os tempos da ditadura civil-militar brasileira. A atividade procurou problematizar junto Ă populaĂ§Ă£o a necessidade de instauraĂ§Ă£o da ComissĂ£o da Verdade, que vai apurar os crimes cometidos durante o perĂodo.