O crescimento da indĂºstria petrolĂfera no Brasil, aquecida com as recentes descobertas de petrĂ³leo e gĂ¡s nos Ăºltimos anos, estĂ¡ fazendo com que o Brasil 'importe' um nĂºmero cada vez maior de estrangeiros com alta qualificaĂ§Ă£o para trabalhar no setor.
Um levantamento feito pela BBC Brasil com a CoordenaĂ§Ă£o Geral de ImigraĂ§Ă£o (CGIg), que faz parte do MinistĂ©rio do Trabalho em Emprego (MTE), mostra que 49.801 profissionais de paĂses como a GrĂ£-Bretanha, Estados Unidos, Noruega, Holanda e França entraram no Brasil entre 2010 e 2012 para trabalhar no setor de petrĂ³leo e gĂ¡s.
O nĂºmero, que Ă© o mais recente divulgado pelo MTE, coloca o setor petrolĂfero na liderança da emissĂ£o dos vistos para estrangeiros no paĂs, o que representa 25% de todas as permissões de trabalho temporĂ¡rias e permanentes no perĂodo, dentro de uma abrangĂªncia de 15 atividades econĂ´micas diferentes.
Em 2011, a atividade petrolĂfera registrou um boom com a contrataĂ§Ă£o de mais de 23 mil engenheiros e tĂ©cnicos da Ă¡rea de petrĂ³leo e gĂ¡s, dado que Ă© quase dez vezes maior ao registrado em 2006, quando apenas 2.645 profissionais de outros paĂses entraram no Brasil para atuar em empresas do setor.
Apesar de indicar uma pequena desaceleraĂ§Ă£o, o ano de 2012 viu quase 17 mil permissões de trabalho sendo concedidas nas Ă¡reas ligadas ao petrĂ³leo.
Para o superintendente da OrganizaĂ§Ă£o Nacional da IndĂºstria do PetrĂ³leo (Onip), Paulo Buarque de Macedo GuimarĂ£es, o trabalho de estrangeiros na indĂºstria petrolĂfera brasileira estĂ¡ diretamente ligado Ă falta de mĂ£o de obra brasileira qualificada para atuaĂ§Ă£o no setor.
'A demanda por profissionais qualificados no setor petrolĂfero Ă© um assunto que nos preocupa hĂ¡ muito tempo', disse ele Ă BBC Brasil.
'O fato de estrangeiros estarem repondo os brasileiros nesse mercado nĂ£o Ă© bom para a economia.'
'Uma empresa chega a pagar, alĂ©m do salĂ¡rio, mais de US$ 100 mil para manter um profissional estrangeiro e sua famĂlia no paĂs. Seria muito mais competitivo contratar um profissional brasileiro, que estĂ¡ criticamente em falta no PaĂs', disse GuimarĂ£es Ă BBC Brasil.
Pré-sal
A entrada de estrangeiros para atuarem no setor teve um pico em 2011, quando começaram os diversos projetos da Petrobras para criar a infraestrutura para exploraĂ§Ă£o do chamado prĂ©-sal, porĂ§Ă£o do subsolo que se encontra sob uma camada salina situada alguns quilĂ´metros abaixo do leito do mar.
A assessoria da Petrobras confirmou Ă BBC Brasil que prevĂª investimentos de US$ 53,4 bilhões no prĂ©-sal para o perĂodo entre 2011 e 2015. Somente nas Ă¡reas de cessĂ£o onerosa (Ă¡reas que o governo concedeu Ă Petrobras - Lei 12.276/2010) serĂ£o investidos US$ 12,4 bilhões.
Com isso, a participaĂ§Ă£o do prĂ©-sal na produĂ§Ă£o brasileira de petrĂ³leo deve passar dos atuais 2% em 2011 (dado mais recente disponĂvel) para 18% em 2015 e para 40,5% em 2020.
Apesar de liderar a demanda por profissionais estrangeiros da Ă¡rea petrolĂfera, a Petrobras nĂ£o contrata diretamente estes profissionais.De acordo com a legislaĂ§Ă£o brasileira, que rege a estatal, nĂ£o Ă© permitida a participaĂ§Ă£o de estrangeiros nos processos seletivos pĂºblicos da empresa. Somente brasileiros ou portugueses que tenham adquirido o direito de morar e viver no Brasil participam dos concursos.
A Petrobras terceiriza a contrataĂ§Ă£o de profissionais estrangeiros. Estes trabalham para empresas brasileiras ou estrangeiras.
O engenheiro francĂªs Guillaume Pringuay, que trabalha para a multinacional Technip, Ă© um dos estrangeiros que estĂ¡ ajudando o Brasil a desenvolver a tecnologia para exploraĂ§Ă£o petrolĂfera em bacias de grande profundidade, em parceria com a Petrobras.
Entre os anos de 2009 e 2012, ele trabalhou especificamente com projetos para familiarizar engenheiros brasileiros com a tecnologia para operações em Ă¡guas profundas.
'Fizemos um trabalho muito grande de troca de experiĂªncias com os brasileiros. Os engenheiros no Brasil ganharam excelente experiĂªncia nos Ăºltimos anos, mas infelizmente eles ainda sĂ£o poucos para a grande demanda da exploraĂ§Ă£o em grande profundidade', disse Pringuay em entrevista Ă BBC Brasil.
Para ele, os desafios da prospecĂ§Ă£o de petrĂ³leo em profundidades acima de 2 mil metros ainda vai exigir que o Brasil continue trazendo profissionais estrangeiros nos prĂ³ximos anos.
'Ainda haverĂ¡, por algum tempo, a necessidade do Brasil trazer engenheiros do exterior para suprir a demanda da exploraĂ§Ă£o de Ă¡guas profundas. JĂ¡ habilitamos a tecnologia para prospecĂ§Ă£o em atĂ© 2.500 metros de profundidade no Brasil, mas ainda precisamos de mais gente trabalhando nisso', explicou o engenheiro francĂªs.
Os especialistas em recursos humanos confirmam a tendĂªncia de mais contratações de estrangeiros na Ă¡rea petrolĂfera do Brasil.
'Na Ă¡rea naval, por exemplo, vemos muitos profissionais da Filipinas e atĂ© de paĂses nĂ³rdicos (trabalhando no Brasil)', disse a BBC Brasil Agilson Valle, diretos da Talent Boutique, uma consultoria de RH especializada na busca de profissionais que queiram trabalhar na AmĂ©rica Latina.
'Começamos a ver tambĂ©m muitos profissionais de outros paĂses produtores na AmĂ©rica Latina, como ColĂ´mbia, Venezuela e MĂ©xico', disse ela.
'Mas nesse setor os profissionais ficam por menos tempo no paĂs ou em contratos de rotaĂ§Ă£o.
NĂºmero de estrangeiros em MacaĂ© cresce com a exploraĂ§Ă£o do
petrĂ³leo na cidade
Eles chegam Ă cidade principalmente para trabalhar no
mercado off shore. JĂ¡ sĂ£o mais de 15 mil estrangeiros vivendo na cidade.
MacaĂ© estĂ¡ se adaptando para receber um grande nĂºmero de
estrangeiros. Nos Ăºltimos sete meses, o Governo Brasileiro bateu um recorde de
liberaĂ§Ă£o de vistos. Eles chegam Ă cidade principalmente para trabalhar no
mercado off shore. Em 2010, 2.383 pessoas de fora do paĂs chegaram a MacaĂ©. JĂ¡
no ano passado, foram 2.800. A expectativa Ă© que 2012 supere os anos anteriores
e, com a exploraĂ§Ă£o do petrĂ³leo, esse nĂºmero deve aumentar ainda mais. JĂ¡ sĂ£o
mais de 15 mil estrangeiros vivendo na cidade.
Cerca de 32.900 trabalhadores desembarcaram no Brasil entre
janeiro e julho deste ano; 2.520 a mais que no mesmo perĂodo do ano passado. De
acordo com o MinistĂ©rio do Trabalho, a mĂ£o de obra norte americana ainda Ă© a
mais requisitada para o trabalho no Brasil, e o setor que mais absorve estes
trabalhadores de outros paĂses Ă© o de trabalho a bordo de plataformas e
embarcações estrangeiras.
A crise na Europa Ă© um dos aspectos que trazem os
trabalhadores para o Brasil. Os portugueses, segundo a Secretaria de Trabalho e
Renda, tambĂ©m sĂ£o outra fatia significativa. A vinda dos estrangeiros movimenta
a economia e força o mercado a investir em qualidade e atendimento.