domingo, 28 de novembro de 2010

Só Polícia Civil já apreendeu 13 toneladas de maconha no Complexo do Alemão

Antônio Werneck e Cláudio Motta/G1
Só Polícia Civil já apreendeu 13 toneladas de maconha, 200 quilos de cocaína, 10 quilos de crack e aproximadamente 500 frascos de lança-perfume, além de 10 mil munições de vários calibres, mais de 50 coletes à prova de balas, nove metralhadoras .30, mais de 10 balanças e uma prensa. As polícias militar e federal também fizeram grandes apreensões de drogas e armas ao longo do dia na comunidade. O balanço total das apreensões ainda não foi fechado.

Policiais federais que participam das operações de combate ao tráfico no Complexo do Alemão apreenderam na tarde deste domingo quatro fuzis de assalto, 20 pistolas 9mm, grande quantidade de maconha e cocaína. Os federais também localizaram numa casa usada pelos chefes do tráfico do Morro do Alemão, R$ 40 mil em dinheiro. A cúpula da segurança têm informações de que na fuga da Vila Cruzeiro para o Alemão, os bandidos transportaram uma quantia equivalente a R$ 2 milhões, em dólares e reais. O dinheiro foi levado em sacos dentro de uma caminhonete usada para transportar os bandidos da parte baixa da Vila Cruzeiro até o alto, numa região de mata.

A guerra no Rio e a mídia internacional

Erika Azevedo/O Globo

No artigo “Polícia do Rio começa a invadir esconderijo de quadrilha”, o site do jornal americano “The New York Times” traz uma declaração do comandante geral da Polícia Militar, o coronel Mario Sergio Duarte, anunciando a “vitória” da operação e que a resistência dos bandidos havia sido menor do que o esperado: Mas a publicação destacou que a ocupação do complexo ainda não estava concluída e que ainda havia tiroteios no local.

O site do serviço de notícias britânico BBC , foi outro que noticiou a ocupação, destacando o esforço das autoridades brasileiras para que a operação deixe a cidade mais segura, visando a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. O correspondente da BBC no Brasil, Tim Vickery, afirmou que “limpar a área dos traficantes fortemente armados é uma tarefa complexa em uma área de alta densidade populacional (…) As autoridades podem estar vencendo essa batalha contra os traficantes, mas eles ainda têm que ganhar a guerra”.

Os jornais franceses “Le Monde” e “Libération” também deram destaque à notícia.

No “Le Monde”, a matéria “No Rio, ataque contra traficantes continua” ressalta o ineditismo da operação no país: “A polícia anunciou ter tomado o controle de um suposto bastião de traficantes de drogas em um complexo de favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro. Mas a operação, em uma escala nunca vista no Rio, continua enquanto a polícia realiza uma busca nas casas da comunidade”.

Já o “Libération”, sob a manchete “Polícia anuncia ter assumido controle de bastião de traficantes no Rio”, destaca a grandiosidade da operação, que reuniu mais de 2.600 homens – da elite da polícia a fuzileiros navais – no Complexo do Alemão, onde vivem cerca de 400 mil pessoas. A matéria citou o coronel Mario Sergio Duarte, que afirmou: “Agora, é um trabalho de paciência. Vamos fazer buscas de casa em casa. Não haverá um só local que não será verificado”.

Carta de Anita Prestes ao CC do Pc do B

Momento da prisão de Olga Benário pela polícia do Getúlio




Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2010.


Ao Comitê Central do
Partido Comunista do Brasil
(PCdoB)



Dirijo-me à direção do PCdoB para externar minha estranheza e minha indignação com imagem, que está circulando na Internet, da capa de uma publicação intitulada “Gibi do Programa Socialista do PCdoB – O ideal e o caminho”, assinado por Bernardo Joffily.

Essa publicação apresenta imagens dos meus pais, Luiz Carlos Prestes e Olga Benario Prestes, ladeando a figura de Getúlio Vargas. Também estão colocadas junto a Vargas lideranças revolucionárias como Carlos Lamarca e João Amazonas. Não posso aceitar que sejam divulgadas, sem nenhuma razão para tal, imagens dos meus pais, dois revolucionários comunistas, junto com o ditador sanguinário Getúlio Vargas, que manteve Luiz Carlos Prestes preso durante nove anos e entregou Olga Benario Prestes à Alemanha nazista para ser assassinada numa câmara de gás.

Espero, portanto, que a direção do PcdoB torne público pronunciamento a respeito e retire de circulação tal publicação, cujo teor contribuirá para a distorção da história do Brasil e, em particular, das lutas revolucionárias em nosso país.
Atenciosamente,

Anita Leocádia Prestes


Última carta escrita de dentro de um campo de concentração por Olga Benário:

“Queridos: Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora.


É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças - ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte.


Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Conformar-me-ia, mesmo se não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por ela haver me dado a ambos.


Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha? Querida Anita, Meu querido marido, meu garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível.


É precisamente por isso que me esforço para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim.


Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã.


Beijos pela última vez. Olga”

“Violação dos Direitos Sociais dos Servidores Municipais” é Transformada em livro – Opiniões e Lançamento


Depois de quase 02 anos de estudo conclui minha especialização em Direito Constitucional, cuja importância, dirijo-me aos que não têm formação técnica em Direito, está para todos os ramos de direito, como a terra está para floresta. Todas as árvores brotam da terra, também todas as florestas. Todos os ramos do Direito brotam do Direito Constitucional. Dominar tal área do Direito é buscar dominar a essência do próprio Direito. Eis a razão de optar por tal especialização, que buscarei aprofundar, agora partindo par o mestrado.

Escolhi o tema Violação dos Direitos Sociais dos Servidores Municipais por ser algo gritante, por ter testemunhado surpreso a distância entre a realidade sociológica dos trabalhadores no serviço público municipal e os direitos sociais na própria Constituição Federal. Parti das experiências em minha militância como advogado de vários sindicatos de servidores e da FETAMCE – Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará - fiz estudos e da realidade em todo o País, a partir de bandeiras da categoria e de sindicatos de servidores do Brasil inteiro. Construindo um trabalho de alcance nacional, a partir de estudos de casos concretos, interpretando o amplo leque de violações à luz da Constituição Brasil, pelas lentes do Direito Constitucional. Recebi nota 10 pela monografia, minha própria orientadora da Universidade Católica de Brasília, praticamente, após comentar meu trabalho, Dra Ivonete Granjeiro, deixou claro, no que foi seguida pela banca examinadora: A MONOGRAFIA TINHA DE SER PUBLICADA. E foi!

LANÇAMENTO DO LIVRO:

Dia 03/12/2010, às 16:00h, no Auditório Murilo Aguiar, na Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, juntamente com o lançamento da Campanha Salarial Nacional dos servidores públicos municipais do Brasil, com a presença da CONFETAM – Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Brasil – outras autoridades e da Comissão de Educação da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará.

CONTO COM A SUA PRESENÇA.

28/11/2010 16h34 - Atualizado em 28/11/2010 16h34 'Zeu, cadê o machão?', vaiam moradores do Alemão

G1

Pouco depois de ser apresentado no 16º BPM (Olaria), por volta das 16h30 deste domingo (28), o traficante Elizeu Felício de Souza, conhecido como Zeu, foi vaiado pela população. Em coro, moradores do Alemão diziam: "Zeu, cadê o machão?".
O traficante é um dos homens condenados por participar da morte do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, e foi preso nesta tarde na localidade conhecida como Coqueiral, no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio. Zeu, era foragido da Justiça e não estava armado.
No mesmo momento da prisão de Zeu, um pai entregou o filho, que seria traficante, à polícia.

O traficante Zeu participou também da ação que derrubou o helicóptero da Polícia Militar e na invasão Morro dos Macacos, em Vila Isabel (zona norte do Rio), em outubro do ano passado, segundo inquérito da Polícia Civil.
O Disque-Denúncia do Rio estava oferecendo uma recompensa de R$ 10 mil por informações que ajudassem a localizar e prender o traficante Zeu. Bandido foi preso em 2002.

O bandido foi beneficiado com a progressão para o regime semiaberto em 2007 e não retornou mais à prisão. Em agosto deste ano, o programa " Fantástico", da TV Globo, mostrou imagens de Zeu vendendo drogas e circulando de moto pelas ruas do morro do Alemão.

Pai entrega filho para a polícia

G1

Enquanto a polícia ainda festejava a prisão do traficante Zeu, assassino do jornalista Tim Lopes, as equipes que estavam no Conjunto de Favelas do Alemão por volta das 15h deste domingo (28) foram surpreendidos por um pai que entregou o filho para as forças de segurança. Ivanildo Dias de Trindade levou o filho Carlos Augusto, de 25, que seria responsável por uma boca de fumo, para a PM. "Um dia ele ia ter que pagar", disse Ivanildo.
"Agradeço por ele ainda estar vivo. Pelo menos agora ele vai ter paz", afirmou o pai aos policiais. Perguntado pelos repórteres se sentia medo, Ivanildo respondeu: "Quem não tem?"
No sábado (27), Nilsa Maria dos Santos, de 53 anos, conseguiu convencer o filho Diego Raimundo Silva Santos, o Mister M, de 25, a se entregar à polícia. O traficante era o segurança e braço direito de Pezão, o chefe do tráfico do conjunto de favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio.

INVASÃO DO COMPLEXO DO ALEMÃO



Polícia encontra mais um depósito de drogas no Complexo do Alemão


A Polícia Civil acaba de estourar mais um depósito de drogas e paiol de armas de traficantes na localidade conhecida como Areal, no Complexo do Alemão, zona norte do Rio.

Em um dos aposentos, os criminosos mantinham mais de três toneladas de maconha, segundo estimativa das autoridades. Também foram encontrados dois fuzis e muita munição. No local que servia de residência para os traficantes, havia televisores de LCD, ar-condicionado, home theater e computadores.

A polícia está neste momento transportando a droga para fora do imóvel.

GUERRA NO RIO: SP, MG e ES reforçam policiamento em rodovias na divisa com Rio

AE

Os estados de São Paulo, Minas e Espírito Santo reforçaram o policiamento e aumentaram a fiscalização nas rodovias que fazem divisa com o Rio de Janeiro, para evitar que bandidos em fuga entre nos Estados.

Em São Paulo, o policiamento e a fiscalização foram reforçados na Rodovia Presidente Dutra, na divisa entre os dois estados, e na Rodovia Governador Mario Covas, a BR-101, conhecida como Rio-Santos, também na divisa. Ainda não houve prisão.

Além do patrulhamento reforçado na Dutra, no lado paulista, policias rodoviários federais de São Paulo foram encaminhados para o Rio para auxiliarem a Força tarefa montada no lado carioca da rodovia.

No Espírito Santo, os policiais rodoviários federais contam com a ajuda de policiais militares para fiscalizar veículos que trafegam pela Rodovia BR-101 sul, há pelo menos três dias. Ainda não há informações sobre detidos.

Em Minas, o reforço de policias rodoviários foi implantado na Rodovia BR-040, que liga Juiz de Fora, em Minas, a Três Rios, no Rio. Também não há informação sobre presos. Rodovias estaduais mineiras também aumentaram o policiamento.


Polícia vasculha casa luxuosa do traficante Pesão, que é um dos líderes do CV

G1

Muito luxo e ostentação foram encontrados pela polícia na casa que, segundo a corporação, seria do traficante Pezão, um dos chefes do tráfico do Conjunto de Favelas do Alemão. O imóvel tem quatro andares, onde é possível ver aparelhos de ar-condicionado e TVs de LCD em todos os cômodos. De acordo com moradores, no entanto, a casa era do traficante conhecido como Polegar, que seria um dos chefes do tráfico no Morro da Mangueira.

Além de amplos sala e quartos, há uma piscina e um quarto com banheira de hidromassagem e TV. Em toda a casa, o piso é de porcelanato. Tudo aparentemente recém-comprado. No banheiro da piscina, por exemplo, é possível ver ainda selos na louça.

Na cozinha, eletrodomésticos de primeira linha, em aço escovado e mesas com tampo de vidro e passa pratos giratórios. Na sala, o teto é rebaixado e com luzes indiretas.

De acordo com a polícia, antes de deixar o local, o traficante quebrou parte do teto e paredes. Segundo os agentes, a desconfiança é que houvesse drogas, armas e dinheiro escondidos.

Do lado de fora, é possível ver os pontos do teleférico no alto do Morro do Adeus e do Alemão.

Polícia toma o Complexo do Alemão no Rio

AGÊNCIAS

Policiais militares, federais, civis e agentes das Forças Armadas iniciaram às 8 horas da manhã deste domingo a invasão ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. O conjunto compreende 12 favelas, em cinco bairros do subúrbio da Leopoldina: Penha, Olaria, Ramos, Bonsucesso e Inhaúma. Não há informações sobre feridos. No início da tarde deste domingo, bandeiras, entre elas a do Brasil, foram hasteadas como símbolo da retomada de mando do estado do Rio no local.

No início da tarde deste domingo foi preso um dos criminosos envolvidos na morte do jornalista Tim Lopes.

Pelo menos dez blindados da Marinha e do Exército foram usados para conduzir as tropas pelos principais locais da região. O delegado Felipe Curi, da Polícia Civil, informou que as equipes não têm enfrentado resistência e os criminosos estão fugindo. “Não está havendo troca de tiros”, contou.

No local, poucos disparos foram ouvidos desde o início da manhã. As últimas rajadas mais intensas ocorreram por volta das 9h, logo após a tomada do morro pela polícia.

Sete fuzis e sacos com drogas foram encontradas pelos policiais em quatro casas do Areal, a primeira localidade do conjunto. Todo material foi levado para o batalhão de Olaria em bacias de plástico. “Por enquanto, o pessoal está cumprindo seus objetivos. Estamos na varredura”, disse o delegado.

Pelo menos dez pessoas foram detidas para averiguação e outras duas foram encontradas com mandado de prisão expedido. Entre os presos, está o gerente do Morro da Fé, no Alemão, conhecido como Feio.

Condenado pela morte de Tim Lopes se entrega

Um dos homens acusados de participar da morte do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, foi preso na tarde deste domingo (28) na localidade conhecida como Coqueiral, no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio.

O criminoso Elizeu Felício de Souza, conhecido como Zeu, era foragido da Justiça e não estava armado.

Governo

Em nota divulgada neste sábado à noite, o governador do Rio, Sérgio Cabral, reafirmou o compromisso de pacificar as comunidades e disse que tropas não irão recuar.

Nesta manhã, um homem e uma mulher foram detidos próximo à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Alemão e foram levados para o trailer de triagem na entrada da comunidade.

Por volta de 1h da manhã, tiros foram ouvidos na Estrada Itararé, próximo a um dos acessos à comunidade. Por motivo de segurança, os moradores que deixaram o Conjunto mais cedo foram impedidos pela polícia de voltar para casa.

Operação conta com 2.600 homens

Cerca de 2.600 homens das Forças Armadas e das Polícias Militar, Civil e Federal participam da operação. Na tarde de sábado (27), veículos blindados avançaram à entrada da comunidade e mais de trinta suspeitos foram detidos e levados para uma delegacia da região.

A megaoperação de cerco ao local inclui 800 soldados paraquedistas, a tropa de elite do Exército, 200 fuzileiros navais, que transportam a tropa, 300 agentes da polícia federal e 1.300 policiais militares e civis do Rio. Ainda na tarde de sábado, blindados do Exército chegaram a entrar na favela, mas saíram pouco depois.

Alemão tem um dos piores indicadores sociais

O bairro do Conjunto de Favelas do Alemão é dono de uma da piores médias do Índice de Desenvolvimento Social (IDS) da cidade. O índice, calculado pelo Instituto Pereira Passos (IPP), da prefeitura, mede o acesso a saneamento básico, a qualidade habitacional, o grau de escolaridade e a renda da população carioca.

Do total de 158 bairros do Rio, o Alemão ocupa a 149ª posição, com um IDS de 0,474. Quanto mais perto do número 1, melhor o índice. De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado no ano 2000, 65.026 pessoas vivem nos 18.245 domicílios do complexo, que é formado por 14 favelas, de acordo com o IPP. Deste total, mais de 15% das residências não contam com rede de esgoto.

Conheça os principais chefes das facções cariocas:

Comando Vermelho (CV)

Márcio dos Santos Nepomu ceno, o Marcinho VP (34 anos)

- Preso desde 1996, quando chefiava o tráfico no Complexo do Alemão. De dentro de Bangu 1, continuou ordenando crimes. Só pelo assassinato de dois traficantes, foi condenado a 36 anos de prisão. Cumpria pena no presídio de Catanduvas, mas foi transferido para a penitenciária de Porto Velho (RO) na quinta-feira.

Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco (43 anos)

- Apontado como sucessor de Marcinho VP no Alemão, foi preso em 2002 pela morte do jornalista Tim Lopes e condenado a 28 anos e meio de prisão. Também deixou Ca tanduvas e foi para Porto Velho (RO)

Luiz Fernando da Costa, o Fer nandinho Beira-Mar (43 anos)

- Condenado a 32 anos por formação de quadrilha e tráfico de drogas, ainda responde por outros crimes. Preso em 1996 em Belo Horizonte, fugiu do presídio um ano depois, saiu do país, foi apontado como o principal fornecedor de drogas e armas para o tráfico do Rio, e em 2001 foi preso pelo Exército colombiano. Passou por Catandu vas e hoje cumpre pena no presídio de Campo Grande (MS).

Marcos Antônio Pereira Firmi no da Silva, o My Thor (39 anos)

- Preso em 2000, já tinha duas condenações por chefiar o tráfico de drogas no Morro dos Prazeres. De dentro de Bangu 1, ordenou o assassinato de uma estudante de classe média. Condenado por homicídio qualificado em 2003, suas penas somam 19 anos. Também foi para Porto Velho (RO).

Isaías Costa Rodrigues, o Isaías do Borel (47 anos)

- Condenado a 46 anos e cinco meses por crimes como tráfico de drogas e homicídio qualificado, chefiava o Morro do Borel até ser preso, em 1992. Foi para Porto Velho.

Amigos dos Amigos (ADA)Edmilson Ferreira dos Santos, o Sassá (39 anos)

- Preso em 2005, era apon tado como o sucessor de Paulo Cé sar dos Santos, o Linho, que está de­saparecido. Está preso no presídio de Mossoró (RN), desde março.

Pesquisa revela perfil de algoz feminino

VANESSA PRATEANO/GP


Uma pesquisa realizada por estudantes de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), divulgada neste fim de semana, retrata, pela primeira vez, o perfil dos homens que cometem agressão contra a mulher na capital do estado. O estudo Perfil do autor de violência doméstica contra a mulher em Curitiba é de autoria das estudantes And’gelica Schneider, Angeli Löwen e Damaris Schwalb. Os dados foram recolhidos a partir de casos atendidos pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Curitiba.

A pequisa mostra que a maioria dos agressores é jovem: 42% têm entre 24 e 36 anos e 65% trabalham – a metade em um emprego formal. “Os números mostram que, mesmo com todos os problemas que a agressão e a possível prisão trazem para a vida profissional, a maioria não se sente intimidada por isso e comete a agressão”, afirma a professora Maria Cristina Carvalho, coautora da pesquisa.

De acordo com Maria Cristina, tais consequências não são levadas em consideração por conta de outro fator que tem grande influência nas agressões: o uso de drogas e álcool, utilizados por 71% dos agressores – 85% ingerem álcool e 45% também usam drogas. “O álcool está diretamente relacionado aos incidentes”. A escolaridade também é baixa: apenas 10% têm ensino fundamental completo e 49% não chegaram a concluí-lo.

Tratamento

A pesquisa vai ajudar a conhecer melhor o homem agressor e, a partir disso, contribuir para a formulação de estratégias que permitam tratá-lo e reeducá-lo, como prevê a Lei Maria da Penha. Mas, sem informação sobre o perfil do algoz, a medida é pouco aplicada nos juizados brasileiros. A iniciativa de realizar a pesquisa em Curitiba partiu da titular do juizado da capital, Luciane Bortoleto.

Imagem feminina

Atualmente, o juizado paranaense já oferece tratamento psicológico aos agressores presos em flagrante que respondem ao processo em liberdade. O tratamento é coordenado pela professora Maria Cristina e abrange desde a orientação jurídica até esclarecimentos sobre a influência das drogas no comportamento agressivo. “Também trabalhamos a representação que o agressor faz do sexo feminino, pois muitos ainda acreditam que mulher deve apanhar, e que eles devem exercer poder sobre ela”. Para Maria Cristina, a pesquisa aponta que tratar somente a vítima não traz resultados. “É uma relação complementar. Muitas vezes, o próprio algoz também é uma vítima”.

GUERRA NO RIO: Não haverá vencedores

De *Marcelo Freixo/Folha.com

Dezenas de jovens pobres, negros, armados de fuzis, marcham em fuga, pelo meio do mato. Não se trata de uma marcha revolucionária, como a cena poderia sugerir em outro tempo e lugar.
Eles estão com armas nas mãos e as cabeças vazias. Não defendem ideologia. Não disputam o Estado. Não há sequer expectativa de vida.
Só conhecem a barbárie. A maioria não concluiu o ensino fundamental e sabe que vai morrer ou ser presa.
As imagens aéreas na TV, em tempo real, são terríveis: exibem pessoas que tanto podem matar como se tornar cadáveres a qualquer hora. A cena ocorre após a chegada das forças policiais do Estado à Vila Cruzeiro e ao Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro.


O ideal seria uma rendição, mas isso é difícil de acontecer. O risco de um banho de sangue, sim, é real, porque prevalece na segurança pública a lógica da guerra. O Estado cumpre, assim, o seu papel tradicional. Mas, ao final, não costuma haver vencedores.
Esse modelo de enfrentamento não parece eficaz. Prova disso é que, não faz tanto tempo assim, nesta mesma gestão do governo estadual, em 2007, no próprio Complexo do Alemão, a polícia entrou e matou 19. E eis que, agora, a polícia vê a necessidade de entrar na mesma favela de novo.
Tem sido assim no Brasil há tempos. Essa lógica da guerra prevalece no Brasil desde Canudos. E nunca proporcionou segurança de fato. Novas crises virão. E novas mortes. Até quando? Não vai ser um Dia D como esse agora anunciado que vai garantir a paz. Essa analogia à data histórica da 2ª Guerra Mundial não passa de fraude midiática.
Essa crise se explica, em parte, por uma concepção do papel da polícia que envolve o confronto armado com os bandos do varejo das drogas. Isso nunca vai acabar com o tráfico. Este existe em todo lugar, no mundo inteiro. E quem leva drogas e armas às favelas?
É preciso patrulhar a baía de Guanabara, portos, fronteiras, aeroportos clandestinos. O lucrativo negócio das armas e drogas é máfia internacional. Ingenuidade acreditar que confrontos armados nas favelas podem acabar com o crime organizado. Ter a polícia que mais mata e que mais morre no mundo não resolve.
Falta vontade política para valorizar e preparar os policiais para enfrentar o crime onde o crime se organiza -onde há poder e dinheiro. E, na origem da crise, há ainda a desigualdade. É a miséria que se apresenta como pano de fundo no zoom das câmeras de TV. Mas são os homens armados em fuga e o aparato bélico do Estado os protagonistas do impressionante espetáculo, em narrativa estruturada pelo viés maniqueísta da eterna “guerra” entre o bem e o mal.
Como o “inimigo” mora na favela, são seus moradores que sofrem os efeitos colaterais da “guerra”, enquanto a crise parece não afetar tanto assim a vida na zona sul, onde a ação da polícia se traduziu no aumento do policiamento preventivo. A violência é desigual.
É preciso construir mais do que só a solução tópica de uma crise episódica. Nem nas UPPs se providenciou ainda algo além da ação policial. Falta saúde, creche, escola, assistência social, lazer.
O poder público não recolhe o lixo nas áreas em que a polícia é instrumento de apartheid. Pode parecer repetitivo, mas é isso: uma solução para a segurança pública terá de passar pela garantia dos direitos básicos dos cidadãos da favela.
Da população das favelas, 99% são pessoas honestas que saem todo dia para trabalhar na fábrica, na rua, na nossa casa, para produzir trabalho, arte e vida. E essa gente -com as suas comunidades tornadas em praças de “guerra”- não consegue exercer sequer o direito de dormir em paz.
Quem dera houvesse, como nas favelas, só 1% de criminosos nos parlamentos e no Judiciário…

MARCELO FREIXO, professor de história, deputado estadual (PSOL-RJ), é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

NOVA AMÉRICA DA COLINA: USINEIROS MATAM DE FOME OS OPERÁRIOS


CARTA ENVIADA AO GOVERNADOR, QUE ATÉ AGORA NÃO INTERCEDEU E LOGO IRÁ VIAJAR PARA A EUROPA:

Ilmo. Sr. Orlando Pessuti

Governador do Estado do Paraná

C. Cívico

Curitiba – Paraná.

Prezado Governador:

Vimos por meio desta, pedir, com urgência, que interceda junto à empresa, DESTILARIA DE ALCOOL AMERICANA, localizada no Município de Nova América da Colina, que nega-se a pagar os salários dos trabalhadores.

São 1.400 funcionários que há dois meses não recebem os seus salários. Encontram-se em greve, desde o dia 19 de Novembro, passando já por sérias necessidades.

A empresa alega que não possui recursos para cobrir a folha de pagamento.

O Oficial de Justiça, entregou à empresa, uma Carta Precatória, embargando toda a produção de álcool, que seria destinada ao pagamento do pessoal, desviando o dinheiro, para pagar outras dívidas contraídas pela empresa.

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fabricação de Álcool de Jacarezinho, representante legal da categoria, entrou como uma Ação Cautelar, embargando também a produção e pedindo a destinação do dinheiro para o pagamento dos funcionários. Entretanto, a Juíza Ziula Cristina, da Comarca de Cornélio Procópio, não aceitou o pedido da entidade.

Este impasse não pode continuar!

Pedimos à Vossa Excelência que interceda Junto aos órgãos competentes, para que a situação possa ser resolvida, porque que o direito ao salário é inalienável, fonte de amparo de todas estas famílias.


Atenciosamente,

José Ramos – Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fabricação de Álcool de Jacarezinho e Região.

Os verdadeiros inimigos do Capitão Nascimento

A PRISÃO DE LUCKY LUCIANO

Fonte: História Viva

Nascido há um século e meio no sul da Itália, o crime organizado se tornou um meganegócio global que movimenta cerca de 3 trilhões de dólares por ano e fez do Brasil uma de suas principais bases de operação.

No verão de 1863, os atores e compositores Giuseppe Rizzotto e Gaetano Mosca apresentaram no Teatro Popular de Palermo, na capital da Sicília, uma ópera que marcou época. O espetéculo Il mafiusi de la Vicaria (“Os mafiosos da prisão de Vicária”) revelou a existência de uma organização criminosa chamada Máfia e mostrou como um grupo de homens comandava as atividades criminosas na Sicília de dentro de uma penitenciária. A montagem descrevia também os rituais de iniciação, os esquemas de proteção e extorsão atrás das grades e o código de silêncio – a Omerta – da quadrilha. Um enredo que conhecemos muito bem e que vemos se repetir no Brasil um século e meio mais tarde.

No dialeto siciliano, a palavra máfia queria dizer belo, audacioso, autoconfiante. No entanto, já em 1864, o nobre italiano Nicoló Turrisi Colonna, o barão de Buonvicino, denunciava a verdadeira natureza do grupo em seu livro A segurança pública na Sicília. Segundo ele, a Máfia era uma organização familiar, armada e secreta, surgida na década de 1840. Além da autoproteção e da cobrança de “taxas de funcionamento” a comerciantes e empresários, os criminosos sicilianos controlavam as plantações de limões e laranjas, principal riqueza da ilha. A cada ano, 400 mil caixas de cítricos italianos eram exportadas para os Estados Unidos.

Nas duas primeiras décadas do século XX, além dos limões, a Máfia exportou para a América dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças membros das famílias que fundaram a organização. Em 1930, os mafiosos sicilianos dominavam todas as atividades ilícitas em cidades como Nova York, Seatle, Chicago e Filadélfia. Controlavam a venda e a produção ilegal de bebidas, a prostituição, o jogo e o tráfico de ópio vindo do Extremo Oriente. Em terras do Tio Sam, fundaram a Cosa Nostra (Coisa Nossa).

Um desses jovens e ambiciosos imigrantes era Charles “Lucky” Luciano, nascido na Sicília em 24 de novembro de 1897. Seu nome verdadeiro era Salvatore Lucania e ele organizou e comandou a maior e mais violenta gangue de Nova York (“The Five Points Gang”), especializada em assassinatos por encomenda e cobrança de dívidas. Trabalhava para oscapos da família Genovese, uma das cinco maiores da Máfia nos Estados Unidos, mas não recusava pedidos dos demais chefes do crime, como os Bonanno, os Lucchese, os Gambino e os Colombo. Os Gambino deram origem à trilogia do Poderoso chefão, no cinema, originários que eram da cidade de Corleonne, na Sicília; a família Colombo, por sua vez, inspirou a série de TV Os Sopranos.

Na época, as famílias travavam longas e sangrentas guerras entre si. “Lucky” Luciano não se conformava com essas lutas fratricidas, que considerava uma perda de tempo e de dinheiro. Usando seu prestigio – e suas armas – impôs a criação de uma comissão dirigente na Cosa Nostra, formada por elementos das cinco famílias e capaz de organizar o crime em escala nacional. O comitê existe até hoje.

Visionário, Luciano percebeu que a Máfia podia acompanhar o ritmo acelerado de crescimento dos Estados Unidos. Apostou no controle dos sindicatos de trabalhadores, promovendo ou contendo greves, ganhando dinheiro por meio de filiações, fundos de pensão e extorquindo os capitalistas. Atuando no submundo e nos negócios legais, ele é considerado o “pai” da moderna criminalidade organizada, que se estabelece como empresa.

No início da década de 1950, os Estados Unidos viviam sua “Era de Ouro”, e a Máfia de aproveitou da prosperidade generalizada: faturava centenas de milhões de dólares por ano, não pagava impostos e era tolerada pelas autoridades governamentais. Um dos seus colaboradores mais notáveis era Joseph Kennedy, pai do futuro presidente John Fitzgerald Kennedy. Muitos outros políticos, incluindo governadores e senadores, estavam na folha de pagamento da Máfia.

A prosperidade levou a organização criminosa a investir em outras terras, especialmente no Caribe e na América do Sul. Transformou Cuba na “Disneylândia” do jogo, da prostituição e do tráfico. Colocou dinheiro também nas lavouras de coca na Colômbia e no Peru, inaugurando a etapa dos cartéis da cocaína. O chefe mafioso da operação tinha um nome verdadeiro muito curioso e sugestivo: Johnny Traficantte.

A coisa toda ia muito bem até que Fidel Castro derrubou o governo de Fulgêncio Batista (sócio de Traficantte), expropriou todos os cassinos e acabou com os mafiosos em Havana. A organização criminosa teve um prejuízo de 1 bilhão de dólares em Cuba, e jurou vingança: participou, com a CIA, de oito tentativas de assassinar o líder revolucionário.

Com a morte de Charles “Lucky” Luciano, em 1962, a Cosa Nostra voltou a se dividir: os conservadores queriam continuar com a influência política, o jogo, as mulheres e as bebidas; os “modernos”, no entanto, queriam inaugurar a etapa industrial do tráfico de drogas. E foram eles que ganharam a parada. Nos anos 1960 e 1970, investiram furiosamente nas drogas, assumindo o controle das rotas da heroína do Extremo Oriente para a Europa e da cocaína da América Latina para os Estados unidos e o Canadá.

Um relatório do FBI de 2005 revela que as organizações da Máfia, chamadas de “empresas criminosas” pela polícia federal americana, empregam 250 mil pessoas em todo o mundo. O documento oficial do Departamento de Justiça, assinado por Robert Muller III, então diretor-geral do órgão, informa ainda que tais “empresas criminosas” têm lucro anual de 1 trilhão de dólares. Isso remeteria a um movimento total de 2 ou 3 trilhões de dólares.


TOMMASO BUSCETTA, A MÁFIA NO BRASIL


O primeiro registro de atuação da Máfia no Brasil data de 1972. O capo mafioso Tommaso Buscetta, o Dom Masino, um dos mais influentes líderes da Máfia siciliana, instalou no litoral de São Paulo a “Conexão Ilha Bela”, destinada a trazer drogas por atacado do porto de Marselha, na França, para os Estados Unidos e o Canadá, passando pelo litoral paulista. Foi preso no Rio de Janeiro, pagou propina, fugiu, foi apanhado novamente pela Polícia Federal e terminou extraditado para a Itália. Durante os anos de chumbo da ditadura militar, as atividades de Tommaso Buscheta não prosperaram. Só uma década depois o crime organizado conseguiria fincar suas garras entre nós.


OS BICHEIROS, A MÁFIA E O PABLO ESCOBAR

Na América Latina, um homem poderoso era sócio da Máfia na exportação de cocaína. Em 1982, o megatraficante colombiano Pablo Escobar, chefe do cartel de Medellín, que produzia 60% da cocaína consumida no mundo, decidiu que o Brasil, além de corredor de passagem da droga, poderia se tornar um importante mercado consumidor.

Governado por um general decadente, com um regime militar caindo pelas tabelas, reinando a corrupção e a especulação financeira, o Brasil parecia aos olhos de Escobar um território fértil para implantar o tráfico em níveis comerciais. Com a população concentrada em grandes cidades, uma juventude que despertava de duas décadas de tirania, com uma vida noturna agitada, o país reunia algumas das condições para o consumo de drogas em larga escala.

OS BANQUEIROS DO JOGO DO BICHO PRESOS
Leitura da sentença dos contraventores Capitão Guimarães, Anísio, Miro, Maninho, Luizinho, Haroldo Saens Pena, Zinho e Turcão

O traficante entrou em contato com o crime organizado local: os “banqueiros do bicho”, que também tinham um comando unificado, por meio do qual controlavam as apostas, o contrabando, a prostituição, as escolas de samba e as casas noturnas no Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Bahia. Os grandes “bicheiros”, como Castor de Andrade, Capitão Guimarães e Anísio Abrahão David, no entanto, tinham atividades legais, apoiavam políticos, apareciam na televisão e frequentavam as altas rodas. Como não queriam ser confundidos com traficantes, nossos mafiosos optaram por não se envolver diretamente com as drogas.

Das negociações dos bicheiros com o Pablo Escobar, resultou um acordo por meio do qual foi escalado um contraventor de segundo escalão, Antônio José Nicolau, o Toninho Turco, que fundou uma organização especialmente voltada para o tráfico, uma espécie de interface com o Cartel de Medellín. O problema era: onde colocar as drogas, onde vendê-las? Os melhores lugares, evidentemente, seriam as favelas localizadas na zona sul do Rio e nas proximidades do centro da cidade, onde estariam concentrados os consumidores em potencial.

Essas comunidades pobres, no entanto, estavam sob o controle de uma organização. O nome do grupo era Comando Vermelho (CV). Fortemente influenciado pela opção revolucionária dos anos 1970, o grupo de bandidos sociais se dedicava ao roubo armado e ao resgate de companheiros presos.

Aos poucos, em virtude de suas ações espetaculares, a organização sentiu o peso da repressão e perdeu alguns dos seus melhores quadros. Nas cadeias, líderes como Willian da Silva Lima, o Professor, fundador do CV e ideólogo da organização,que foi assassinado pelos seus ex-pares, foi substituído por bandidos como Rogério Lengruber, o Bagulhão, José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, e outros ligados ao tráfico. Estava aberto o caminho para o acordo com Escobar.

Toninho Turco formou uma quadrilha de 90 integrantes, dos quais 61 eram policiais e ex-policiais. Chegou a traficar, junto com o CV, entre 8 e 15 toneladas de cocaína por mês, de acordo com os arquivos da Polícia Federal. A droga era vendida no país ou enviada aos Estados Unidos e Canadá. Toninho foi morto em 11 de fevereiro de 1986, em uma ação conjunta dos federais, do Exército e da polícia estadual do Rio de Janeiro. Seu braço direito, um tenente da Polícia Militar carioca, foi preso, anos depois, em Lugano, na Suíça, durante uma investigação de lavagem de dinheiro.

A morte de Toninho Turco é o fio da meada que nos leva a Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, que o substituiu nas negociações internacionais do tráfico de drogas. Até ser preso na Colômbia, atuando junto ao Bloco 16 das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc.

Agora não sabemos mais quem são os nossos criminosos organizados envolvidos com o tráfico em escala comercial. Os próprios colombianos resolveram morar aqui, como Juan Carlos Abadia, o poderoso chefão do Cartel Del Norte, organização que substituiu Pablo Escobar. Ele foi preso pela Polícia Federal, em 7 de outubro de 2007, a partir de pistas reveladas pelo DEA (Drug Enforcement Administration, agência americana de combate ao tráfico), em Aldeia da Serra, bairro de luxo de São Paulo onde vivem artistas de televisão, empresários e gente acima de qualquer suspeita. Abadia foi extraditado para os Estados Unidos em tempo recorde, mandado para uma prisão no estado de Nova York e jogado em uma cela de vidro blindado, de onde jamais sairá.

COMANDO VERMELHO

Desde a criação do Comando Vermelho, após a anistia de 1979, inúmeras organizações do gênero surgiram no país: o Primeiro Comando da Capital (PCC), o CV Nordeste, a Organização Plataforma Armada (OPA) e mais um incontável número de grupos que seguem o exemplo da primeira organização político-militar do crime, o CV. O PCC, de São Paulo, que se intitula o “Partido do Crime”, sinaliza que pretende atuar no cenário político. Em maio e junho de 2006, durante a campanha para presidente, realizou 295 ataques armados contra “alvos” do poder público no estado.

As previsões de Pablo Escobar, de que o Brasil poderia se transformar em um enorme centro consumidor de drogas, se confirmaram. Hoje somos o segundo maior mercado de entorpecentes do mundo ocidental. A Polícia Federal brasileira, entre as dez melhores do mundo, apreende de 8 a 9 toneladas de cocaína por ano, um recorde continental. Em termos de maconha, são 40 toneladas. Das drogas sintéticas, tipo LSD e Ecstasy, quase duas toneladas são interceptadas por ano. Os especialistas no assunto, no entanto, asseguram que as apreensões representam apenas de 10 a 12% do movimento total do tráfico. Faça as contas, leitor, para ver o quanto passa pelas alfândegas e pelas fronteiras.

Esses números mostram que o Brasil se tornou um dos maiores celeiros do crime organizado mundial, com todas as consequêcias que isso traz em matéria de corrupção das instituições, compra de sentenças, punição apenas para os pobres, violência gratuita e banalizada. Na condição de segundo maior consumidor de drogas do mundo ocidental, temos um futuro duvidoso e alarmante.

CRIME ORGANIZADO NO RIO E NO BRASIL:Corleones do Brasil

Castor de Andrade

Eles não vestem capotes escuros, mas ternos brancos, camisas floridas abertas e correntes de ouro no peito. Aprenderam a se organizar tendo contato com mafiosos do Sul da Itália. Dos Corleones, um dos mais temidos clãs da máfia siciliana, conseguiram as primeiras máquinas caça-níqueis que vieram ao Brasil. Antes bicheiros da periferia, se tornaram mafiosos donos de bingos que dão lucros milionários. Compram juízes, o apoio de políticos e a amizade de celebridades. Como a Polícia Federal mostrou em abril, durante a Operação Hurricane, eles têm poder suficiente para serem chamados de

Famílias católicas e criminosas. Redes de extorsão, contrabando, jogo ilegal e tráfico de drogas. Amizade com juízes, policiais e artistas. Líderes admirados e temidos pela comunidade, com códigos de conduta rígidos e execuções brutais de inimigos e traidores. Você já viu esse filme. O cenário pode ser Nova York, Chicago, a Sicília ou… o Rio de Janeiro. Isso mesmo. A máfia também existe no Brasil e não fica devendo nada para as outras do mundo.

Nossos chefões nasceram com o jogo do bicho e, nos últimos anos, viram seus lucros irem às alturas com as máquinas caça-níqueis instaladas em cada padaria da maioria das cidades brasileiras. No último dia 13 de abril, uma sexta-feira, eles passaram por uma cena comum na história de qualquer máfia: uma grande blitz policial. Uma megaação desmontou um grupo organizado de bicheiros, delegados, juízes e desembargadores. Batizada de Hurricane, a operação da Polícia Federal indiciou 29 pessoas e levou 25 para a cadeia. Segundo a polícia, o esquema envolvia o pagamento mensal de até R$ 30 000 para juízes e desembargadores a fim de garantir que as casas de bingo, com suas máquinas caça-níqueis, continuassem a funcionar. A exploração de jogos pela iniciativa privada tinha sido autorizada pela Lei Zico, de 1993, mas, desde 2001, os bingos são considerados uma atividade não regulamentada. Para funcionar, precisam ter liminares concedidas por juízes.

Com a operação da PF, ficou claro que o grupo que operava as máquinas caça-níqueis era muito mais sofisticado que um grupo de crime organizado. “Trata-se de um grupo que tem conexões com outras máfias, principalmente da Itália”, afirma a juíza Denise Frossard, que em 1993 levou 14 integrantes da cúpula da máfia carioca para a cadeia (leia entrevista ao lado). Além do apoio de magistrados e políticos, os bingueiros participavam da vida social da elite carioca, dando festas em coberturas de 3 andares em Copacabana, patrocinando escolas de samba e posando ao lado de celebridades globais.

Não é por acaso que nossos mafiosos são tão parecidos com os originais. É que eles só existem por causa da interferência direta de algumas das maiores famiglias italianas, vindas diretamente da Sicília. O jogo do bicho não seria um império nem teria se modernizado com as máquinas caça-níqueis sem a influên­cia e o dinheiro de dois dos maiores chefes da história, Antonino Salamone e Totò Riina. Para entender como essas conexões são fortes, vamos até onde tudo começou: a Itália do século 19.

Guia da máfia

As máfias são organizações criminosas muito especiais. São diferentes de criminosos comuns ou mesmo grupos de crime organizado. Têm pelo menos 4 grandes características:

• Mafiosos têm uma estrutura familiar e uma hierarquia rígida. “A máfia se baseia na obediência apaixonada aos superiores”, diz o criminologista americano Peter Reuter, professor da Universidade de Maryland. O chefe máximo, ou capo, é como um pai rigoroso e carismático, que sabe a hora de punir e a de agradar. Os seguidores fiéis são muito bem recompensados. “Essas organizações financiam até o pagamento de faculdade para seus integrantes, para que eles tenham acesso aos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário”, diz o advogado Fernando José da Costa, professor da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo.

• A máfia se relaciona bem com a comunidade ao redor. Com os pobres, o mafioso é populista e leal. Compra respeito com pequenos favores, sejam eles bicicletas ou atos de vingança. Mas é implacável com quem não se submete. Com os ricos e poderosos, faz parcerias e participa de festas.

• Gângsteres têm uma profunda intimidade com o poder. Toda máfia que se preze tem policiais e juízes na folha de pagamento. Geralmente, ela atua entre o crime e a legalidade, em atividades não regulamentadas, mas toleradas pela população, como o jogo. Assim, é mais fácil levar juízes para a corrupção.

• Outra característica é a que garante a longevidade desse tipo de organização: ao contrário de outros grupos criminosos, ela opera vários ne gócios ao mesmo tempo. “As máfias fazem um pouco de tudo. Geralmente começam fazendo a extorsão de pequenos comerciantes e depois vão se aproveitando das brechas da lei em cada região”, diz Peter Reuter. “Onde a bebida alcoólica e os jogos são proibidos, os mafiosos vendem uísque e erguem cassinos clandestinos. Nos locais onde o transporte de cargas não conta com um bom esquema de segurança, eles assaltam caminhões e portos. Em último caso, recorrem ao tráfico de drogas mais pesadas.”

Tudo isso começou no século 19, na Sicília. A ilha tinha passado por duas tentativas de golpe, em 1848 e 1860, vivendo um estado de caos. Foi quando surgiram os primeiros grupos organizados, que protegiam seus membros da confusão reinante. Em 1870, com a Itália já unificada, o Vaticano se declarou independente, e o papa Pio 9º chamou os católicos a reagir contra a autoridade do Estado italiano recém-unificado. Os bandos sicilianos aceitaram o chamado papal e começaram a reagir contra a polícia. “Quando a situa ção se acalmou, os integrantes desses grupos estavam muito ligados. Eles cha mavam a própria organização de Cosa Nostra, ‘coisa nossa’ ”, diz o historiador e sociólogo italiano Diego Gambetta, professor da Universidade de Oxford e autor do livro The Sicilian Máfia (“A Máfia Siciliana”, sem edição brasileira). Aqueles que não pertenciam à Cosa Nostra diziam que os fora-da-lei eram um grupo de mafiosi. “Essa palavra tinha um sentido ambíguo”, afirma o sociólogo Gambetta. “Servia para caracterizar a pessoa como arrogante e também como destemida.” Nos anos seguintes, outras duas regiões do sul da Itália também se tornariam berço de grupos fortes – a Calábria e Nápoles, onde surgiu a Camorra. Com o tempo, algumas cidades sicilianas, como Corleone, Cinisi e Croceverde, ganhariam as próprias organizações mafiosas.

Ainda no final do século 19, centenas de famílias de sicilianos emigraram para os EUA. Com elas, a máfia também atravessou o Atlântico. As famílias mais poderosas começaram a agir em Nova York e Chicago. Em Nova York, 5 grandes famílias se consolidaram no poder: Bonanno, Genovese, Gambino, Luchese e Profaci. Começou então uma série de ciclos, que se estendeu pelo século 20, de famílias fazendo acordos de paz entre si e, quando eles eram rompidos, desencadeavam anos de carnificina. Na década de 1950, um capo italiano foragido da polícia resolveu se esconder nas praias do Rio. Foi assim que a máfia chegou ao Brasil.

Nosso maior capo

Antonino Salamone foi um dos diretores da Cosa Nostra durante as décadas de 1960 e 1970. Em 1963, depois do Massacre de Ciaculli, quando sua organização matou 7 policiais italianos em um atentado à bomba, Salamone veio se refugiar no Brasil. No Rio de Janeiro, ele se aliou a Castor de Andrade, então com 37 anos. Da aliança entre os dois, surgiria a máfia brasileira. Castor deu a Salamone abrigo e um emprego de fachada em uma das empresas da família, a Tecelagem Bangu. “Salamone, condenado nos EUA e na Itália, recebeu a cobertura da ditadura brasileira”, afirma o juiz Walter Maierovitch, ex-Secretário Nacional de Justiça e um dos maiores especialistas em crime organizado no Brasil. “O ministro da Justiça da época, Ar mando Falcão, permitiu que Salamone virasse brasileiro naturalizado por in fluência de Castor de Andrade”.

Nascido em 1926, no Rio de Janeiro, Castor teve uma infância confortável. Seu pai, Eusébio, ficou rico explorando o jogo do bicho – uma invenção dos tempos de dom Pedro 2º, criada por um barão amante dos animais. Castor aprendeu as lições de Salamone, que chegou a dirigir a máfia italiana daqui mesmo do Brasil. Com ele, o jogo do bicho se profissionalizou e ganhou todas as características de organização mafiosa.

Castor parece ter seguido um manual com todos os passos para se tornar um poderoso chefão. Primeiro, ele montou uma estrutura familiar marcada pela obediência. Depois, se aproveitou do dinheiro e da capilaridade das bancas de jogo do bicho para enquadrar os comerciantes do bairro de Bangu, na zona oeste do Rio. Para não sofrer assaltos e quebradeiras, era preciso pagar uma taxa de seguro. Para compensar essa extorsão, Castor começou a investir no futebol, o que lhe rendia o carinho da comunidade. Na década de 1960, tornou-se presidente de honra e financiador do time de futebol do Bangu. Como um grande mafioso, Castor é rodeado por histórias que mostram sua autoridade. Em 1966, em um jogo contra o América, no Maracanã, o time do bicheiro vencia por 2 a 1 quando o juiz marcou um pênalti a favor do adversário. Castor invadiu o campo com um revólver na mão. Minutos depois das ameaças do bicheiro, o árbitro marcou um outro pênalti, desta vez a favor do Bangu. O jogo acabou 3 a 2, e no final da temporada o time do coração de Castor ganhou o título de campeão carioca.

Nos anos seguintes, o bicheiro inovou ao se tornar patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel. Em uma época em que os donos de bancas de jogo não se exibiam em público, ele foi para a avenida com sua escola de samba, que venceu o Carnaval carioca 5 vezes entre 1979 e 1996. Já admirado pelos moradores de Bangu, ele se tornou protetor dos pobres. Pais de família de todo o Rio de Janeiro procuravam Castor para pedir a benção e requisitar que ele batizasse os filhos.

O passo seguinte era criar vínculos com o poder. Durante a década de 1970, os secretários de Segurança do Rio recebiam ordens de Brasília para não incomodar o capo. Em 1980, durante um evento no Rio, o presidente João Figueiredo quebrou o cerimonial ao se afastar de todas as autoridades que o cercavam para abraçar o bicheiro. Quando o regime militar acabou, os negócios de Castor de Andrade não foram abalados. “Tenho amigos de direita, de esquerda e de centro. Eu sempre estou com o governo; não tenho culpa se o governo muda de lado”, ele declarou, em 1985, para o repórter Tim Lopes, da Globo, o mesmo que que seria assassinado em 2002 por traficantes cariocas.

Faltava entrar nos ciclos de guerra e paz entre as famílias. Depois de uma série de assassinatos no final da década de 1970, provocados pela disputa de territórios em outros estados, Castor usou o samba para unir os principais líderes do bicho em torno de uma única entidade. Em julho de 1984, 10 representantes de escolas, todos ligados ao jogo, romperam com a Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro e fundaram a Liga das Escolas de Samba (Liesa). Castor foi eleito o primeiro presidente. Além de assumir o controle sobre o Carnaval, a Liesa se tornou o órgão de cúpula do jogo na cidade. A essa altura, Castor já tinha 5 fortalezas instaladas em lugares estratégicos de Bangu e controlava o jogo do bicho em boa parte do Brasil. Mais uma vez, os brasileiros estavam apoiados na história das máfias. Nos EUA, em 1931, os mafiosos Lucky Luciano e Meyer Lansky fundaram em Atlantic City uma comissão nacional que uniu as 5 principais famílias criminosas do país. Em 1958, foi fundada, em um lugar até hoje desconhecido, uma comissão da máfia siciliana. Assim como no Brasil, a instalação desses dois organismos antecedeu uma guerra entre os grupos.

Hoje, o exemplo de populismo de Castor de Andrade está disseminado. Em Nilópolis, outro chefão, Aniz Abrahão David, o Anísio, mantém uma creche para 300 crianças e distribui cestas básicas todo mês e presentes no Natal. Chegou a dar 2 000 bicicletas em uma festa. Anísio e sua família acumulam 40 anos de controle político sobre Nilópolis, onde ele é chamado de “pai”. Um de seus irmãos, Farid Abrahão David, está no 2º mandato de prefeito, e seu primo Jorge David já foi prefeito e deputado estadual. De quebra, outro primo, Simão Sessim, está no 8º mandato de deputado federal.

Conexão Itália

A criação da Liesa valeu ao Rio um perío do de calmaria que durou 10 anos. Em meados da década de 1990, os italianos voltariam a intervir na máfia brasileira. Desta vez, para modernizar o negócio. Na década de 1980, a máfia italiana era dominada por Salvatore Riina, conhecido como “o capo dos capos”. Herdeiro de Michele Navarra, assassinado em 1958 por adversários, Totò assumiu o controle sobre o clã dos Corleone. A cidade de Corleone, com 17000 habitantes, é a terra de origem de capos famosos, como Michele Navarra, Luciano Leggio, o próprio Salvatore Riina e Bernardo Provenzano – preso pela polícia no ano passado, depois de viver escondido ali por 40 anos. Na década de 1970, os Corleones consolidaram seu poder na cidade de Palermo matando um sem-número de funcionários públicos, juízes e integrantes de máfias adversárias. Em 1980, um dos inimigos de Totò preferiu fugir da Itália para não morrer. Tommaso Buscetta, membro da família Porta Nuova, de Palermo, veio morar no Rio de Janeiro – onde já tinha estado em 1971, quando conheceu a carioca Cristina Guimarães, que viria a ser sua mulher. Daqui ele negociou a rendição com a Justiça italiana e se transformou no delator mais famoso da história das máfias.

Os depoimentos de Buscetta ao juiz italiano Giovanni Falcone deram início à Operação Mãos Limpas, que acabou asfixiando a máfia siciliana e levando à prisão de Totò, em 1993. Acusado de matar 40 pessoas e ordenar o assassinato de outras 100, o capo continua preso. Já Falcone foi vítima de um atentado em 1992, e Buscetta morreu em 2000, de câncer.

Pouco antes de ser detido, Totò enviou um emissário especial para o Brasil. Lillo Lauricella chegou ao país para armar, na América do Sul, um esquema de lavagem de dinheiro. A idéia era fazer com que o dinheiro recebido na venda de cocaína colombiana fosse investido em negócios de fachada no Brasil. O lucro proveniente daqui seria enviado para a Itália com aspecto de legalidade.

Se Salamone e Tommaso Buscetta faziam parte do esquema romântico e tradicional da máfia dos anos 60, Lauricella representou a segunda leva de mafiosos. Sua maior intenção era fugir da sofisticação da polícia, arranjando jeitos mais modernos de lavagem de dinheiro.

Apoiado por um profissional no assunto, Fausto Pellegrinetti, Lillo circulou com desenvoltura entre os líderes da Liga das Escolas de Samba. Em São Paulo, estabeleceu uma ótima relação com o bicheiro Ivo Noal, que passou a receber uma mesada de US$ 80 000 por mês. A conexão Brasil-Itália foi efetivada quando Lillo providenciou US$ 10 milhões para comprar, em Miami, do empresário espanhol Joaquín Franco Perez, as primeiras 35000 máquinas caça-níqueis que desembarcaram no Brasil. Elas foram entregues aos bicheiros, que se responsabilizaram pela gestão do negócio. O esquema era simples: os brasileiros pagavam um aluguel para os italianos, e, em troca, se comprometiam a não comprar novos equipamentos de outros fornecedores. Acontece que Lillo era o único contato dos bicheiros brasileiros, e ele também acabou se tornando colaborador da polícia italiana. Quando ele foi assassinado na Venezuela, em 1997, os capos cariocas herdaram toda uma estrutura pronta de máquinas caça-níqueis. Foram as denúncias de Lillo que permitiram que a polícia italiana montasse, em 1998, a Operação Malocchio (“Mau-Olhado”) e descobrisse o esquema de jogo e lavagem de dinheiro no Brasil.

Os bicheiros se viram com uma herança e tanto nas mãos: eles passaram a ser donos das máquinas. Em pouco tempo, os anotadores de jogo do bicho foram substituídos por bares e bingos com caça-níqueis, e não só no Rio. Castor aumentou sua influência na Bahia. Antônio Petrus Kalil, o Turcão, expandiu seus negócios para Pernambuco, e Waldomiro Garcia, o Miro, se instalou em Foz do Iguaçu. Em 2006, o filho do bicheiro Luisinho Pacheco, Luiz Antônio Drummond, foi preso em Belém enquanto retirava máquinas caça-níqueis de um bingo.

Filhos em guerra

Antes mesmo de os grupos do bicho se modernizarem, a Justiça reagiu. Em 1993, a juíza Denise Frossard relacionou Castor e outros 13 bicheiros a 56 homicídios ocorridos no Rio e prendeu todos. Três meses antes de receber a pena, o mafioso parou o Carnaval e, ao vivo, com cobertura da Rede Globo, discursou durante 5 minutos contra a perseguição aos bicheiros. Castor ainda seria preso outras vezes, promovendo festas memoráveis na prisão, até converter sua pena para prisão domiciliar. Morreu em março de 1997 – de enfarto, exatamente como o personagem don Vito Corleone em O Poderoso Chefão.

Nos anos seguintes, morreram outros chefes tradicionais do bicho, como Raul Capitão e Waldomiro Garcia, o Miro. Dos 14 mafiosos apontados por Frossard como a cúpula do bicho em 1993, 6 já morreram, 2 deles assassinados. Apesar da morte do líder, os negócios continuaram de pai para filho. A mudança de geração, somada ao novo perfil do jogo, desencadeou uma guerra que se estende até hoje. O maior conflito é pelo espólio de Castor. O sobrinho Rogério Andrade, que herdou o jogo tradicional, é acusado pela polícia de mandar matar o herdeiro responsável pelos caça-níqueis. Paulinho Costa Andrade, o filho do capo, morreu quando um homem claro, alto e magro saiu de um Gol branco, andou em direção ao filho do mafioso, sacou uma pistola cromada e disparou.

Com a morte de Paulinho, o genro de Castor, Fernando Ignácio, começou uma batalha contra Rogério – que, em 2001, escapou por pouco de uma tentativa de atentado no meio da rua. Em dezembro, a Polícia Federal acusou o deputado estadual e ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Álvaro Lins, de acobertar essa briga de mafiosos. No ano passado, Fernando e Rogério, mesmo foragidos, eram vistos nas praias do Rio. Apesar das brigas, o negócio dos bingos e caça-níqueis ia muito bem. Até que, na madrugada de 16 de abril, a Operação Hurricane mandou todos para a cadeia.

Há 14 anos, a juíza Denise Frossard mandou para a cadeia os homens acusados de formar a cúpula do jogo do bicho carioca. Ela diz que, mesmo enquanto ficaram presos, os bicheiros continuaram tocando seus negócios. E que a mesma coisa acontece agora.

Super - Os caça-níqueis são organizados como uma máfia?

Frossard - Sim, principalmente depois dos anos 80, quando surgiu uma organização realmente estruturada, com uma hierarquia. Trata-se de uma máfia que tem conexões com outras máfias, principalmente da Itália. Em 1993, com a minha sentença, pela primeira vez o Estado reconheceu que existe uma organização mafiosa no Brasil.

Você foi ameaçada?

Não, mas sofri um atentado. O Rogério Andrade, sobrinho do Castor, contratou um policial para matar Paulinho, filho do Castor, e me matar. A minha morte seria um presente para um dos 14 mafiosos que eu prendi. O policial teve meu rosto na mira, mas ainda não tinha matado o Paulinho. Como tinha sido contratado para matá-lo primeiro, não atirou. O Paulinho realmente morreu. O assassino só recebeu o dinheiro do adiantamento, e não a outra parte, por isso eu continuo viva, conversando com você.

O que mudou na organização do jogo?

Naquela época, havia mais políticos, promotores e magistrados envolvidos. Mas, tanto hoje como em 1993, a máfia não sobrevive sem corrupção. Os mafiosos pagam para manter seus negócios, e os membros corruptos do Estado tiram sua parte disso. E muitas pessoas dependem do jogo. É por isso que, em 1993, na época em que eles foram presos, os negócios não sofreram abalo. Como não estão sofrendo agora.

Antonio Salamone - Morto

Procurado pelas polícias da Itália e dos EUA, fugiu para o Rio de Janeiro na década de 1960. Foi acolhido no Brasil por Castor de Andrade, que lhe deu um emprego de fachada na Tecelagem Bangu e conseguiu naturalizá-lo brasileiro.

Tommaso Buscetta - Morto

Na década de 1980, derrotado na guerra contra a família Corleone, liderada por Totò Riina, deixou a Sicília e passou a morar no Rio. Já tinha estado ali em 1971, quando conheceu a carioca Cristina Guimarães, com quem se casou e teve dois filhos.

Salvatore Riina, o Totò Riina - Preso

Nascido em Corleone, foi o maior líder da máfia siciliana até ser preso, em 1993, graças à Operação Mãos Limpas. Apelidado de “a besta” pelos seguidores, Totò é acusado de matar pessoalmente 40 pessoas.

Lillo Rosario Lauricella - Assassinado

Nos anos 90, foi enviado ao Brasil por Totò Riina para armar um esquema de lavagem de dinheiro. Em São Paulo, Lauricella entrou em contato com Ivo Noal. No Rio, com a cúpula formada por Castor de Andrade, Turcão, Anísio e Capitão Guimarães.

Ivo noal - Preso

É o homem que lidera a máfia das máquinas caça-níqueis em São Paulo. Foi preso no ano passado quando a polícia estourou um cassino no Itaim-Bibi.

Capitão Guimarães - Preso

Ex-agente do DOI-Codi, listado 7 vezes pelo projeto Tortura Nunca Mais como torturador, é presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio. Quando não está preso, desfila na Sapucaí.

Aniz Abrahão David, o Anísio - Preso

Presidente de honra da Beija-Flor, foi preso durante a Operação Hurricane. Possui uma cobertura de 3 andares em Copacabana que foi de Roberto Marinho.

Antônio Petrus Kalil, o Turcão - Preso

Um dos últimos grandes líderes da geração antiga. Seu herdeiro é Antônio Petrus Kalil Filho, dono de um hotel de luxo na praia de Camboinhas, em Niterói.

José Ricardo Regueira - Livre

Desembargador federal do Tribunal Regional Federal, é um dos magistrados presos durante a Operação Hurricane acusados de receber propina das casas de bingo. Seu advogado de defesa é Nélio Machado, o mesmo de Capitão Guimarães. Saiu da prisão no começo de maio.

Fausto Pellegrinetti - Foragido

Um dos maiores lavadores de dinheiro do mundo, atuava no Brasil, na Rússia e na República Dominicana quando Lauricella começou a circular no eixo Rio-São Paulo. A parceria dos dois garantiu a compra das primeiras caça-níqueis do Brasil.

Joaquín Franco Perez - Livre

Espanhol, é dono da Recreativos Franco e mora em Miami, de onde forneceu o primeiro lote para Lauricella e Pellegrinetti. Há dois meses, foi preso pela polícia de Miami. Para sair, precisou pagar uma fiança de US$ 1 milhão.

Castor de Andrade - Morto

Durante os 50 anos em que liderou o jogo do bicho no Rio, criou o próprio império e ainda unificou todos os capos em torno de um órgão de cúpula, a Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Depois que ele morreu, em 1997, seus herdeiros começaram uma guerra pelo controle dos negócios na zona oeste do Rio.

Paulinho Costa Andrade - Assassinado

Filho adotivo de Castor de Andrade, herdou o negócio das máquinas caça-níqueis. Foi assassinado em 1998 pelo próprio primo.

Rogério Andrade - Preso

Sobrinho do chefe da máfia brasileira, herdou a princípio o jogo tradicional, mas lutou para dominar os caça-níqueis. Preso em setembro passado, foi condenado a 20 anos pela morte de Paulinho.

Fernando de Ignácio Miranda - Preso

Genro de Castor de Andrade, herdou de Paulinho as máquinas caça-níqueis e de videopôquer. Também está preso. Da cadeia, Fernando e Rogério travam uma guerra aberta.

Em tempos de internet e Al Qaeda, a máfia italiana deixou de ser o tipo de organização criminal mais eficiente. “Esse modelo antigo, com hierarquias claras e chefões carismáticos, na verdade é contraproducente”, afirma o criminologista americano Peter Reuter, professor da Universidade de Maryland. “O novo padrão é a formação de grandes redes mundiais, com controle descentralizado e terceirização dos serviços criminosos menos importantes.” Foi assim, saltando do comunismo para a mais nova onda do capitalismo, que a máfia russa se tornou uma das mais poderosas do mundo. Estima-se que seus 8 000 grupos, somados, tenham 100 000 integrantes e interfiram em até 70% de todas as empresas do país. Para poder trabalhar em paz, empresas estrangeiras pagam taxas de proteção que atingem até 20% de seus lucros.

No mesmo caminho vão os mafiosos chineses. Pequenas gangues, das mais variadas especialidades, fazem de tudo: tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, roubo de carros e organização de serviços de prostituição. As principais bases ficam em Hong Kong, mas as operações se estendem por todo o Sudeste Asiático e alcançam a Austrália e a Europa.

Nas Américas, os grupos de máfia do México se tornaram emergentes no mundo do crime internacional porque aproveitaram a proximidade com os EUA e a Colômbia. “Os mafiosos mexicanos coordenam organizações pequenas, muito fluidas, que se ligam entre si”, diz Reuter. Existem principalmente dois grupos de ação: os especializados na compra e revenda de drogas e aqueles que se dedicam a levar imigrantes ilegais para dentro do território americano. “Chegando lá, eles ficam devendo favores e passam a facilitar a entrada de entorpecentes.”

Rio de Janeiro: Desigualdade social - território e distribuição da violência


Rosário Amaral - Produção do NEPP-DH

“INDICADORES DE PROTEÇÃO E RISCO PARA INSTRUMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM FAVELAS”, pesquisa realizada pelo IPEA em 2008 com o apoio da Faperj.
O Estudo mapeou pela primeira vez, os locais de moradia das vítimas de homicídios do Rio de Janeiro, entre 2006 e 2008.
“A maior parte dos mortos moravam em áreas de favelas ou em locais de moradia precária e em bairros do subúrbio”.

“Território e Violência” é um filme construído dentro do contexto do trabalho de pesquisa feito pela pesquisadora Rute Imanishi Rodrigues/IPEA e pela Professora Patricia Rivero/NEPP-DH UFRJ realizando pela primeira vez a geocodificação de todos os homicídios no Rio de Janeiro, acontecidos entre 2006 até 2008. Foi apresentado em 09 de dezembro de 2009 pela Mesa Redonda: Desigualdades, Território e Violência, promovida pelo Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos, no auditório José Maurício Albuquerque, CFCH-UFRJ, por ocasião das comemorações do Dia Internacional dos Direitos Humanos. A projeção desse documentário foi o mote para a introdução dos comentários dos convidados pela instituição, o professor do IUPERJ/UCAM e do IFCS/UFRJ Luiz Antônio Machado da Silva e o Deputado Estadual pelo PSOL, Marcelo Freixo. O evento fez parte também das atividades dos “Direitos Humanos em Tela” projeto de extensão universitária do NEPP-DH, que se realiza uma vez a cada mês.
“É a primeira vez que uma pesquisa trabalha com a geocodificação no Rio de Janeiro” disse Rivero durante o evento. “A gente fez análise desses dados geocodificados, e o objetivo era conseguir determinar pelo mapeamento e de forma visual, mas também através da análise de dados, aquilo que a gente pensa ser de censo comum: a vitimização no Rio de Janeiro acontece em locais específicos, concentrados em determinados locais do município”. A pesquisa foi realizada no IPEA com o apoio da FAPERJ.
A Diretora do NEPP-DH professora Mariléa Venâncio Porfírio, lembrou que no dia seguinte, 10 de dezembro, comemora - se o Dia Internacional de Direitos Humanos “cuja Declaração existe em construto legal, mas que continua sendo violado”. Disse que o filme é uma forma de mostrar essa violação e, acrescentou ser essa “uma data pela qual temos que lembrar acima de tudo, através da nossa briga, da nossa denúncia e dos nossos trabalhos, seja de pesquisa, seja de docência, seja de extensão”. Mariléa saudou a chegada dos novos professores Vantuil Pereira, Joana Vargas e Patricia Rivero além dos docentes e funcionários do NEPP-DH.
Enquanto que a decana substituta do CFCH, professora Lília Pougy ressaltou a importância da realização da Mesa Redonda e da necessidade de se promover atividades a exemplo da que ocorreu, a fim de “percebermos os fenômenos do cotidiano como o apresentado no filme, pois, segundo ela, “a todo o momento tomamos um susto por não conseguirmos entender as dinâmicas que constituem esses fenômenos. Por fim, saudou a iniciativa do NEPP-DH um órgão suplementar do Centro de Filosofia de Ciências Humanas, “a mais essa tentativa de esclarecer fenômenos do cotidiano”. Disse.

Freixo: Máfia se resolve com o corte do poder econômico

O deputado estadual (Psol) Marcelo Freixo informou durante a Mesa Redonda para debater o filme Desigualdades, Território e Violência, ocorrida em 9 de dezembro de 2009, que enquanto em 2006 foram presos seis milicianos no Rio de Janeiro e em 2009 ocorreram 250 prisões de milicianos o número de policiais não aumentou. “Nós tivemos seis milicianos presos em 2006 e mais 250 milicianos presos em 2009. As polícias não aumentaram, mas o número de milícia aumentou, por quê? Porque em qualquer lugar do mundo máfia não se resolve com a prisão dos seus líderes. Máfia se resolve com o corte dos seus espaços econômicos. Isso o poder público até agora não teve a coragem de fazer”.

Ao observar a violência no Rio, que foi expressa através dos números da pesquisa: “Indicadores de Proteção e Risco Para Instrumentação de Políticas Públicas em Favelas”, o deputado Marcelo Freixo destacou a presença de quatro elementos e a relação entre eles, Estado, território, governança e soberania como “decisiva” para que se possa fazer uma análise do que ocorre no Rio de Janeiro. O Estudo realizado, por Patricia Rivero e Rute Imanishi Rodrigues em 2008, mapeou pela primeira vez, os locais de moradia das vítimas e onde ocorrem os homicídios no Rio de Janeiro, entre 2006 e 2008.
Coincidentemente foi no ano de 2008 que Freixo presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada em 19 de junho na Assembléia Legislativa do Rio (Alerj). Destinada a investigar a atuação de milícias no Rio de Janeiro - a CPI das Milícias ouviu naquele dia Antonio Santos Salustiano e Ocian Gomes Salustiano, suspeitos de terem confeccionado uma bomba que explodiu na delegacia de Campo Grande, na semana que antecedeu a instalação da (CPI).

Durante a apresentação da Mesa Redonda promovida pelo NEPP-DH em comemoração ao Dia Internacional da Declaração dos Direitos Humanos, Freixo fez o cotejamento sobre o debate entre as milícias, e o documentário Desigualdades, Território e Violência quando observou que de alguma maneira o filme perpassava sobre a questão miliciana no Rio de Janeiro. Ressaltou que, o projeto do poder miliciano para ocupar espaço na Assembléia Legislativa do Rio é muito mais um meio de ter em mãos o retorno que o parlamento lhes permite ter ao indicar as direções das escolas, hospitais e outros espaços públicos das regiões pelas quais dominam, do que um fim.
“O projeto de poder passa por ocupar o espaço na Assembléia, mas esse é meio não é fim. Isso é mais importante porque o fim é o retorno disso, não é a ida. A ida não é o objetivo. O objetivo é o retorno, porque evidentemente o retorno, se transforma no que? Nesse corpo político representativo e o corpo político pode ser alguém diretamente ligado ao grupo criminoso, ou representante, como da última vez foi o próprio secretário de segurança”. Freixo referia-se ao ex-secretário de Segurança do Rio e deputado federal pelo PMDB, Marcelo Itagiba. “O ex-secretário de segurança, quando se tornou deputado federal, foi o deputado mais votado pelas milícias. Tido pelas milícias com esse fim.
E disse mais:
“Todos os espaços públicos daquele território passam pela indicação da construção política do domínio territorial daquele braço político do governo. No caso do território onde o governo é sócio do crime, porque no caso das milícias é isso, quem determina quem controla aquele espaço é o crime. E aí não há mais separação entre estado e organização criminosa. Porque a organização criminosa de fato só pode acontecer se funcionar como um braço dentro do Estado e não fora, efetivamente. Dentro da institucionalidade. Então esta história de Estado paralelo é uma tolice porque não é paralelo, porque não corre por fora, ele está dentro, ele está absolutamente dentro”.

De olho nos milicianos que atuam no parlamento Marcelo, sem citar nomes, anunciou em 9/12 uma operação para prender nomes “importantes” ligados à milícia do Rio, vindo a confirmar a prisão do vereador Cristiano Girão em (17/12), na Câmara de Vereadores. A prisão foi decretada pelo desembargador Francisco José de Azevedo, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que aceitou denúncia do Ministério Público. Girão, que é do Corpo de Bombeiros, foi levado para o Batalhão Especial Prisional. Outras cinco pessoas suspeitas de envolvimento com a milícia da comunidade Gardênia Azul foram presas na madrugada sexta-feira (18/12).
As pontas da presença do Estado são problemáticas
É nas fronteiras sociais onde o Estado se reproduz completamente disse o professor Luis Antônio Machado da Silva ao debater sobre o documentário Desigualdades, Território e Violência, trabalho desenvolvido pelas pesquisadoras Patrícia Rivero (NEPP-DH UFRJ) e Rute Imanishi Rodrigues IPEA/RJ. “Achei o filme extremamente perfeito”.
Ao analisar a participação do Estado na sociedade brasileira, Machado faz uma abordagem sobre o enfoque do que acontece às populações mais pobres do país, chamando a atenção para os favelados, ou as chamadas “classes perigosas”, temas estes desenvolvidos no documentário. Contrapondo a idéia do Estado ausente o professor dispara: “Quando se trata da ausência de Estado há um subtexto, esse sim é mais compreensivo. O que se está dizendo não é que não exista Estado. É que o Estado é heterogêneo e que não está presente da mesma maneira em todos os espaços sociais e em todas as localidades geográficas”. Reforçando o pensamento de maneira mais didática, o professor prossegue, “o que se está querendo dizer é que o Estado é heterogêneo e justamente as pontas da presença do Estado são mais problemáticas. É quando o Estado se produz em toda a sua integridade”.
Prosseguindo em sua abordagem diz: “É aí nesses lugares que o Estado brasileiro se faz. Essa compreensão está amarrada a uma idéia de segurança pública que se reduz a ordem pública. Essa idéia é uma idéia absolutamente difundida inteiramente generalizada e se pensa a organicidade da sociedade a partir da necessidade do poder repressivo da ordem pública. Como se segurança pública se reduzisse a isso”.
Enquanto que a idéia de “classes perigosas” constituída como ameaça a ordem pública, de acordo com o professor Machado esteve sempre relacionada à “esfera do trabalho, à população de trabalhadores e seus limites inferiores”. Diz que esse pensamento esteve também relacionado à idéia de revolução. “As classes eram perigosas por serem pelo menos potencialmente revolucionárias”. No entanto há um pensar diferente em relação à idéia de classes perigosas. “E, as classes perigosas deixaram de ser problema dos segmentos sociais potencialmente revolucionários para ser a ameaça dos nossos vizinhos. Se achatou a discussão até porque as idéias sobre revolução social vêm se reduzindo”. Machado volta ao local onde se concentram as “classes perigosas” e referindo-se ao comentário de entrevistado do filme de que “é preciso libertar as favelas” diz que a libertação dos favelados “são os ciclos mais presentes das classes perigosas do Rio de Janeiro”, para ele significa dar importância social a essa camada da população alijada dos direitos elementares de cidadania e de respeito à dignidade humana.

Medicalização não é solução para enfrentar os problemas de aprendizagem


Notas baixas, dificuldades na leitura e na escrita, desatenção em sala de aula. Situações como essas, comuns entre os escolares, muitas vezes estão associadas equivocadamente a problemas neurológicos ou psicológicos, não considerando, por exemplo, a má qualidade do ensino. Recorre-se, então, à medicalização, entendida como um processo que transforma, artificialmente, questões não médicas em problemas médicos. Para discutir essas e outras considerações afins, especialistas do Brasil e do exterior se reuniram de 11 a 13 de novembro durante o I Seminário Internacional "A Educação Medicalizada: Dislexia, TDAH e outros supostos transtornos", na Unip campus do Paraíso, em São Paulo.

O evento foi organizado por várias entidades, entre as quais o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo - CRP SP, e teve por objetivos divulgar e discutir controvérsias acerca do diagnóstico e tratamento de supostos transtornos de aprendizagem, tendo como pano de fundo a medicalização da sociedade e, mais especificamente, das dificuldades do sistema escolar. Buscou também oferecer subsídios para a discussão e o posicionamento frente às políticas públicas que têm sido propostas e/ou implementadas por meio de leis e programas de ação, partindo das diferentes compreensões desses supostos transtornos de aprendizagem.

Dois convidados americanos enriqueceram os debates. O sociólogo Peter Conrad, professor da Brandeis University de Boston, Massachussets, foi enfático: "A medicalização é um tipo de controle social, define-se que o aluno é disléxico e já se receitam medicamentos, rotula-se esta criança", afirmou. O neurologista Steven Strauss, professor do Hospital Franklin Square de Baltimore, em Maryland, por sua vez, fez duras críticas à medicalização na educação: "Não há nenhuma prova fisiológica, neurológica ou física que associe direta ou indiretamente TDAH a crianças com dificuldades de ler e escrever, outras questões devem ser consideradas nestes casos", alertou.

O evento foi palco também para o lançamento oficial do Fórum Sobre Medicalização da Educação e da Sociedade. De caráter político e de atuação permanente, o Fórum tem por finalidade articular entidades, grupos e pessoas para o enfrentamento e a superação do fenômeno da medicalização, bem como mobilizar a sociedade para a crítica à medicalização da aprendizagem e do comportamento. Para tanto foi produzido um manifesto, com as diretrizes do Fórum, que convida pessoas e entidades a serem signatários desta mobilização. Durante a mesa-redonda "Medicalização e Políticas Públicas", o vereador Eliseu Gabriel, representando a Câmara Municipal de São Paulo, anunciou um projeto de lei, de sua autoria, instituindo 11 de novembro como o Dia Municipal de Luta contra a Medicalização na Educação.

Um público em torno de mil pessoas compareceu ao encontro. Para aprimorar as discussões, o Seminário ofereceu aos participantes conferências, mesas-redondas, minicursos, oficinas e exposição de vídeos e de trabalhos em painéis (85 trabalhos foram selecionados), além de performances artísticas. Também foi lançado o livro Medicalização de Crianças e Adolescentes. Conflitos silenciados pela redução de questões sociais a doenças de indivíduos, organizado pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo e pelo Grupo Interinstitucional Queixa Escolar. É a primeira publicação do gênero no Brasil.

Tesouro inca volta para casa


Há um século, Hiram Bingham, um explorador norte-americano apoiado pela Universidade de Yale, cortou seu caminho através de montanhas e florestas e chegou às ruínas da mística cidadela inca de Machu Picchu, até então conhecida apenas por fazendeiros locais. Ele retornou posteriormente para escavar o local, onde juntou aproximadamente 46 mil peças, desde cerâmica a artefatos de metal e ossos humanos, e as enviou de volta para Yale para serem analisadas e exibidas. Sua exportação teve permissão do presidente do Peru, mas deveria ser temporária. Em vez disso, as peças permaneceram em Yale desde então, o que, recentemente, irritou o povo peruano.

Alan García, presidente do Peru desde 2006, continuou uma campanha lançada por seu predecessor, Alejando Toledo, para persuadir a universidade a devolver as peças. Com o objetivo de conseguir a devolução a tempo do centenário da primeira expedição de Bingham, em julho, García recentemente liderou uma marcha de protesto em Lima, capital do Peru, e publicou uma carta que enviou a Barack Obama pedindo para o presidente norte-americano interceder no caso.

Yale sentiu a pressão e, este mês, enviou o ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo, que mantém um centro de pesquisas na universidade, ao Peru. Zedillo prometeu que a universidade devolveria a coleção por partes, ao longo dos próximos dois anos. García imediatamente foi a público a respeito dessa oferta, ao mesmo tempo em que deu crédito a Yale por preservar a coleção e prevenir que fosse espalhada entre donos privados.

Sob o acordo, confirmado por Yale alguns dias depois, 370 das melhores peças serão devolvidas a tempo de serem exibidas durante o centenário. O novo lar da coleção será a universidade principal de Cuzco, antiga capital Inca. De acordo com o plano, Yale irá colaborar com a criação de um centro de pesquisa em Cuzco para o resto do material — ao qual os pesquisadores norte-americanos terão acesso.

A maioria das peças é só de interesse exclusivo de pesquisadores especialistas. Contudo, os melhores irão criar uma nova atração em um país onde o turismo está crescendo rapidamente, com Machu Picchu como principal ponto. O acordo também pode mandar uma mensagem para colecionadores menos honrados ao redor do mundo, que continuam a comprar e negociar ilegalmente objetos exportados que fazem parte da rica — embora muitas vezes oficialmente negligenciada — herança cultural peruana.

 
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