quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ontem, 25/09, faleceu Amadeu HercĂ­lio da Luz. Grande perda para a esquerda. Camarada Amadeu Presente!!!

EmoĂ§Ă£o marca despedida de Amadeu da Luz



Muitas pessoas compareceram, nesta tarde, no CemitĂ©rio Municipal de CriciĂºma para se despedir de Amadeu HercĂ­lio da Luz. Amigos, familiares e companheiros polĂ­ticos estiveram no local e prestaram suas homenagens ao homem que era referĂªncia do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Ele jĂ¡ estava com problemas de saĂºde e faleceu na madrugada dessa terça-feira, aos 79 anos.
Amadeu foi preso e torturado na Ă©poca da ditadura militar. Mesmo assim, ele nĂ£o desistiu de suas ideologias que influenciaram e ainda influenciam muitas pessoas. Uma delas Ă© a amiga e companheira de militĂ¢ncias, Marlene Soccas. “Conheci o Amadeu quando sai da prisĂ£o, por volta de 1972. Ele me ajudou e me convidou para fazer parte do PCB quando ainda era um partido clandestino. Tinha uma ideologia formada que chamava a atenĂ§Ă£o das pessoas e condenava o sistema. Sua histĂ³ria Ă© cheia de detalhes e muita gente o seguia. Foi criado por um militar que o ensinou o comunismo, praticado atĂ© os Ăºltimos minutos de sua vida”, conta Marlene.
Emocionada, Marlene tentou resumir em algumas palavras a vida do comunista utilizando uma frase do pensador Bertold Brecht. ““HĂ¡ homens que lutam um dia e sĂ£o bons, hĂ¡ outros que lutam um ano e sĂ£o melhores, hĂ¡ os que lutam muitos anos e sĂ£o muito bons. Mas hĂ¡ os que lutam toda a vida e estes sĂ£o imprescindĂ­veis", assim foi Amadeu e vai continuar sendo na nossa memĂ³ria, imprescindĂ­vel”, resume ela.
Outra pessoa que foi se despedir do amigo, Ă© Rodrigo Maciel. Vizinho de Amadeu desde os 12 anos de idade, deixou se influenciar pelas ideias comunistas repassadas por ele, as quais segue atĂ© hoje. “Me disseram que tinha um velho brabo que morava ali e ia ser meu vizinho. Como eu era criança, ficava com um pouco de medo, mas pulava sempre no terreno dele para pegar jabuticaba. Uma vez ele me viu e veio atrĂ¡s de mim. Pensei que ia brigar, mas apenas conversou comigo e me ofereceu mais jabuticabas. A partir dali começamos uma amizade. Ele sempre me falava sobre suas idĂ©ias e isso me chamou a atenĂ§Ă£o. Era um homem muito justo”, comenta Rodrigo.
Em meio a tantas homenagens e flores, uma bandeira do PCB, partido que defendeu durante toda sua vida, o cobria em seu Ăºltimo momento com os amigos e familiares. (A Tribuna)


HistĂ³rico:

Amadeu HercĂ­lio da Luz nasceu em 24 de julho de 1933, na cidade de Blumenau/SC. Diferente da trajetĂ³ria polĂ­tica de seu avĂ´, HercĂ­lio Pedro da Luz (Ex-Governador do Estado de Santa Catarina), fiel servidor da elite catarinense, apesar de ter origem de uma famĂ­lia tradicional, Amadeu HercĂ­lio da Luz ficou conhecido em CriciĂºma, Santa Catarina e em todo o Brasil, por se colocar no lado da classe trabalhadora e por se afirmar como comunista: um marxista convicto.

Com a morte de seu pai quando tinha 1 (um) ano de idade, Amadeu passou a ser criado pelo seu cunhado, Josil Palmero da Costa, militar das Forças Armadas, coronel do exercito e militante do PCB, que havia sido destacado para Blumenau para combater um grande nĂºcleo Nazi-fascista.

Do perĂ­odo de 1952 atĂ© 1954, Amadeu viveu na cidade do Rio de Janeiro/RJ, onde militou no PCB e conheceu figuras ilustres como Oscar Niemeyer, Nelson Werneck SodrĂ©, JoĂ£o Saldanha e Luis Carlos Prestes, dentro outros.

No ano de 1954, mais precisamente no dia da morte de Getulio Vargas, Amadeu chegou na cidade de CriciĂºma/SC para ficar e se tornar cidadĂ£o criciumense. A missĂ£o de Amadeu, especialista em agitaĂ§Ă£o e propaganda, era dar assistĂªncia ao PCB e organizar a classe trabalhadora politicamente e por meio dos sindicatos para o enfrentamento com a elite local. Com um automĂ³vel “Jipe” e passando pelos bairros, Amadeu e seus camaradas conseguiam reunir na praça desta cidade mais de 3 (trĂªs) mil mineiros, fazendo os coronĂ©is do carvĂ£o tremerem.

Com o golpe de 1964, veio a sua primeira prisĂ£o, simplesmente pelo fato de ser contra o golpe. A sua segunda prisĂ£o aconteceu quando da inauguraĂ§Ă£o da BR 101 pelo General MĂ©dici, sendo seqĂ¼estrado por militares (na denominada OperaĂ§Ă£o Barriga Verde, que buscou eliminar fisicamente os comunistas catarinenses) e levado para SĂ£o Paulo, onde foi torturado fĂ­sica e psicologicamente nos porões da ditadura.

Amadeu suportou a prisĂ£o por mais de quatro anos, sendo libertado somente no final da dĂ©cada de 1970. Com a legalidade do PCB em 1985, ele foi o primeiro comunista criciumense a assumir as atividades revolucionĂ¡rias do partido.

Com mais de 50 anos de militĂ¢ncia comunista Amadeu HercĂ­lio da Luz ainda teve forças para cumprir a tarefa de ser o candidato a Governador pelo PCB nas eleições de 2010. Mesmo debilitado fisicamente, ele cumpriu a tarefa, ajudando a recolocar o PCB no cenĂ¡rio polĂ­tico estadual, e contribuindo de forma decisiva na reconstruĂ§Ă£o revolucionĂ¡ria do PartidĂ£o. Desta forma, Amadeu entrou definitivamente para a histĂ³ria ao ser o primeiro candidato comunista a eleições para governador em Santa Catarina.

No ano passado, Amadeu recebeu a Medalha Dinarco Reis pela sua inestimĂ¡vel contribuiĂ§Ă£o na construĂ§Ă£o do Partido Comunista Brasileiro e pela sua vida marcada pela militĂ¢ncia revolucionĂ¡ria.

Na madrugada do dia 25 de setembro de 2012, este coraĂ§Ă£o comunista deixou de bater. Amadeu faleceu aos 79 anos e as Ăºltimas homenagens recebidas certamente o deixariam muito orgulhoso. Os camaradas e companheiros se despediram do Velho, como era carinhosamente chamado, cantando a Internacional. 

Amadeu despediu-se da forma como gostaria. Ao lado dos seus camaradas e familiares, coberto pela bandeira do PCB e deixando um legado inestimĂ¡vel para todos os comunistas. 
Amadeu sempre manteve-se firme na defesa dos ideias comunistas. Nunca trocou de lado. E morreu afirmando que o capitalismo nĂ£o cairĂ¡ de podre, e que o resultado da sua superaĂ§Ă£o, por uma sociedade justa, fraterna e igualitĂ¡ria, a sociedade comunista, serĂ¡ fruto da luta e da organizaĂ§Ă£o da classe trabalhadora. (PCB)

Camarada Amadeu: Presente!!!

Acervo da ONU reforça elo de paĂ­ses na OperaĂ§Ă£o Condor


Acervo com relatĂ³rios confidenciais, telegramas, cartas a ministros e informes de reuniões que o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) reuniu sobre ditaduras na AmĂ©rica do Sul confirmam que, pelo menos atĂ© 1979, cidadĂ£os argentinos, uruguaios, paraguaios e chilenos que buscaram refĂºgio em territĂ³rio brasileiro foram vigiados, ameaçados, detidos e devolvidos aos seus paĂ­ses - com ajuda e conhecimento das Forças Armadas do Brasil. É a primeira vez que a ONU divulga o conteĂºdo desse acervo.
Os documentos mostram que sĂ³ o serviço secreto uruguaio teria conseguido, com a ajuda de BrasĂ­lia e Buenos Aires, sequestrar e levar de volta para as prisões de MontevidĂ©u 110 refugiados polĂ­ticos que estavam no Brasil e na Argentina entre 1976 e 1979. “Assumimos que ainda exista, como no passado, uma cooperaĂ§Ă£o tĂ©cnica entre as forças de segurança de Uruguai, Argentina e Brasil”, afirmava um telegrama secreto da ONU de 25 de junho de 1979, guardado nos arquivos de Genebra.
Levantadas pelos enviados da ONU Ă  regiĂ£o, as informações apontam uma cooperaĂ§Ă£o bastante organizada entre os regimes militares do Brasil, Argentina e Uruguai - tanto nas relações polĂ­ticas quanto no modo operacional - e que se estendeu por toda uma dĂ©cada. Na Ă©poca, a ONU montou uma operaĂ§Ă£o para retirar do Cone Sul mais de 18 mil pessoas ameaçadas por suas atividades polĂ­ticas.As convenções da ONU consideram a devoluĂ§Ă£o de pessoas ao seu paĂ­s de origem um crime contra a humanidade - jĂ¡ que representa, em muitos casos, uma sentença de morte. Para representantes do Acnur hoje, a comprovaĂ§Ă£o das informações poderia exigir que pessoas envolvidas sejam processadas pelo crime.
AtĂ© o fim dos anos 1960, a ONU admitia em documentos internos que trabalhava com a perspectiva de que um refugiado de um paĂ­s latino-americano que cruzasse a fronteira nĂ£o seria devolvido e que teria proteĂ§Ă£o garantida. Essa percepĂ§Ă£o começou a mudar em 1969, quando um telegrama de 12 de setembro, do escritĂ³rio da ONU em Buenos Aires para Genebra, alertava que “fontes da Igreja” apresentaram informações segundo as quais brasileiros que haviam fugido começaram a ser perseguidos na Argentina e no Uruguai. O escritĂ³rio sugeria que a ONU enviasse Ă  regiĂ£o uma missĂ£o para dialogar com os governos e entender o que estava ocorrendo.
“O problema de asilo para latino-americanos fugindo de seus paĂ­ses por questões polĂ­ticas estĂ¡ se tornando mais difĂ­cil de lidar que no passado, diante da vontade cada vez menor de certos governos latino-americanos de dar asilo”, dizia o telegrama.
Sequestradores
Meses depois, a cooperaĂ§Ă£o jĂ¡ era realidade. Em telegrama de 14 de abril de 1970, o representante do Acnur em BogotĂ¡ alertava para uma coordenaĂ§Ă£o entre as diplomacias da regiĂ£o contra os militantes de oposiĂ§Ă£o, principalmente diante dos sequestros polĂ­ticos que aumentavam. “Recentes sequestros polĂ­ticos no Brasil, na Argentina e na Guatemala e o trĂ¡gico assassinato do embaixador Von Spreta vĂ£o provavelmente resultar em polĂ­ticas muito mais restritivas de asilo para aqueles que eventualmente possam ser responsĂ¡veis por tais crimes”, dizia. Naquele ano, grupos sequestraram embaixadores trocando-os por presos polĂ­ticos.
Segundo o telegrama, um plano estava sendo costurado entre diplomatas para fechar o cerco contra sequestradores e impedir que pudessem fazer a troca de embaixadores por militantes presos. Uma das propostas era um acordo para considerar “pessoas nas listas para trocas em um caso de sequestro como possĂ­veis cĂºmplices no sequestro” - ou seja, seriam tambĂ©m consideradas criminosas e nĂ£o poderiam ser trocadas.
“Todos os paĂ­ses assumirĂ£o a obrigaĂ§Ă£o de nĂ£o dar asilo a qualquer pessoa na lista de candidatos para serem trocados com sequestradores e dar extradiĂ§Ă£o imediata se um deles entrar em seus territĂ³rios”, dizia o texto. O Acnur previa naquele momento que MĂ©xico e Cuba rejeitariam fazer parte do acordo.
Em um telegrama de 14 de fevereiro de 1978, a ONU alertava para a situaĂ§Ă£o de um militante argentino exilado no Brasil - identificado apenas como Bevacqua -, detido na rua, em Porto Alegre, em uma verificaĂ§Ă£o de papĂ©is. Horas depois da prisĂ£o, ele morreria. Informações obtidas pela ONU com diplomatas americanos indicavam que a polĂ­cia queria evitar a suspeita de assassinato. Duas autĂ³psias teriam sido feitas, mostrando que ele sofreu um “ataque cardĂ­aco”.
O Acnur nĂ£o confiava na informaĂ§Ă£o. “Outras fontes confiĂ¡veis expressaram dĂºvidas sobre essa versĂ£o (do ataque cardĂ­aco), sugerindo que ele, um militante, possa ter se envenenado para evitar revelar fatos sob tortura”, apontava o telegrama.
O Acnur dizia que a aĂ§Ă£o ocorre no momento em que havia sinais de que o principal grupo de oposiĂ§Ă£o argentino, os Montoneros, tentava se reorganizar, usando o territĂ³rio brasileiro. Mas, diante desse incidente, a ONU tambĂ©m via outro fenĂ´meno: “A inteligĂªncia militar argentina estĂ¡ ativa no Brasil”.
“Um nome que estĂ¡ sendo mencionado em particular Ă© o de um oficial da Marinha, conhecido como El Gato e que esteve em novembro no Uruguai, e que foi visto no Brasil recentemente”, informava a entidade.
Outra seria Silvina Labayru, ex-militante dos Montoneros, responsĂ¡vel pelo serviço de inteligĂªncia no grupo e que acabou passando para o lado da Junta Militar. “Ela agora responde Ă  Marinha argentina. Ela foi vista no Brasil.”
Em 1.º de dezembro de 1978, um telegrama urgente do escritĂ³rio da ONU no Rio para Genebra alertava sobre o sequestro, em Porto Alegre, dos uruguaios Universindo Diaz e Lilian Celiberti e de dois filhos desta. Um relatĂ³rio confidencial mostraria que os menores acabaram sendo levados de carro para o Uruguai, enquanto Lilian e Universindo seguiram para SĂ£o Paulo - onde foram colocados em um aviĂ£o que voou para MontevidĂ©u.
Dias depois, o exĂ©rcito uruguaio publicaria um comunicado de imprensa dizendo que o casal fora preso depois de “cruzar ilegalmente a fronteira, com falsos documentos e levando literatura subversiva”. Um terceiro comunicado sustentava que eles estavam traficando armas.
EmergĂªncia
Alarmada pela situaĂ§Ă£o, a ONU pediu uma reuniĂ£o de emergĂªncia com o Itamaraty. Recebidos pelo embaixador Luis Lindberg Sette, diretor do Departamento de Organizações Internacionais, os representantes da ONU apenas escutaram da diplomacia que o Brasil “lamentava” o incidente.
Meses depois, em outro telegrama, a ONU confirmava que os homens que invadiram o apartamento dos opositores uruguaios levaram 45 armas “reservada Ă s forças brasileiras” e que o Dops teria participado do sequestro e envio dos quatro uruguaios para MontevidĂ©u. Os regimes transformariam o apartamento em uma arapuca.
“Operações clandestinas da inteligĂªncia uruguaia parecem continuar no Sul do Brasil para analisar e neutralizar o movimento de muitos uruguaios vivendo no exĂ­lio”, indicava documento de junho de 1979. (AE)

 
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