EDUARDO DE CARVALHO ANDRADE
A importância da indústria na economia nunca mais
será como antes. Adotar políticas para tentar recuperá-la é lutar contra as
forças da "natureza" e contra o inevitável. A maior preocupação
deve ser com a produtividade do setor de serviços.
A participação da indústria no PIB no Brasil
cresceu de 36% na década de 60 para 45% nos anos 80, quando atingiu o seu
ápice. De lá para cá, a sua importância declinou e fechou 2011 com 28%. No
mesmo período, o peso da agricultura caiu de 16% para 5% e a estrela em ascensão
é o setor de serviços (de 45% para 67%).
Esse processo de transformação estrutural e
secular está em sintonia com o verificado na América Latina e no mundo. Ele
tende a ocorrer mais tardiamente em países em desenvolvimento, mas com uma
velocidade mais rápida.
No caso brasileiro, o ritmo da queda da indústria
foi significativo. Do auge dos 80 até o final da década passada, somente 20
países tiveram uma redução no share (participação) da indústria superior a
dez pontos percentuais (comparando a média das décadas), sendo o Brasil
(-17%) o oitavo da lista. A Bulgária (-30%) lidera. Reino Unido (-14%),
África do Sul (-12%) e Austrália (-11%) também estão presentes. O fato é que
o Brasil hoje tem um share próximo aos 26% de alguns países ricos.
É pouco provável que ocorra um retrocesso,
porque, à medida que a população fica mais rica, ela passa a demandar
relativamente mais serviços, em vez de realizá-los por conta própria. E como
na indústria o crescimento da produtividade é superior ao dos serviços, é
necessária uma fração cada vez menor de trabalhadores empregados no primeiro
setor. Os que ficam ociosos são direcionados para o segundo.
De fato, desde a década de 70, somente 21 países
registraram um aumento superior a três pontos percentuais da participação da
indústria no PIB em uma década --após uma queda na anterior.
Dessa lista, fazem parte nações bem diferentes do
Brasil: oito países que, como a Arábia Saudita, têm participação
significativa do petróleo na economia e são, por isso, vulneráveis aos preços
no mercado internacional; seis países pobres da África, como Serra Leoa,
envolvido em conflito interno; e sete países com população igual ou inferior
a 1,5 milhões de habitantes, como Suriname. As exceções são México e Peru,
cujas indústrias historicamente têm participação de cerca de 30% e
registraram aumentos em torno de quatro pontos percentuais na primeira década
deste século.
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