Não que antes o Brasil já não tivesse sérios problemas sociais, mas a realidade política, social e econômica, imposta pela
ditadura a partir dos anos 70 é a que vige até hoje. Ela foi montada a partir
do projeto de desenvolvimento dependente apresentado pelo Golbery do Couto e
Silva na Escola Superior de Guerra em 1952, mas que só foi na íntegra implementado
a partir do golpe de 64. Este projeto de desenvolvimento dependente, com a importação
de capitais e tecnologias, do ponto de vista do social foi uma tragédia, que
gerou a migração forçada de 20 milhões de camponeses para os grandes centros, a
partir da mecanização do campo e a concentração cada vez maior da terra nas
mãos de poucos grandes fazendeiros, e estas não estavam preparadas para receber
o êxodo. Se somarmos estes excluídos aos milhões destes que antes já
habitavam estas metrópoles o drama ficou ainda maior. Se levarmos em conta que
o êxodo campo cidade ainda continua, como o fato de está população gerou filhos
veremos que o problema fica cada vez mais grave.
Não adianta o governo vir com a balela de que estamos a
pleno emprego e que hoje todo mundo é classe média, papo enrolador antes
utilizado pelo sistema financeiro ao vender a imagem de que neste sistema
existe a mobilidade social. Aqui os empregos gerados são de baixa qualificação,
e quem ganha individualmente menos de 3.500 reais não é classe média, é pobre
ou miserável. Continuamos a nos desindustrializar e consolidando a tendência
histórica de meros exportadores de matéria prima, assim não agregando novos valores
a produção. Como exportadores de commodities somos totalmente dependentes dos humores do mercado externo. Com a crise econômica internacional se acirrando a tendência é a de vendermos menos produtos primários, o que aos poucos irá enfraquecer a nossa balança de pagamentos, a geração de empregos, etc., e isto também afeta o nosso mercado interno, que é de sub consumo, sem poupança e este está desaquecendo, como porque temos também o agravande de os de baixa renda terem chegado no limite da capacidade de endividamento.
Em um pais com mais de 45 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, e entre estes 26 milhões na miséria absoluta, a tal da midiática
classe C é só mais um factoide, que não enche o bolso, mas afaga o ego da maior
parte da população. Em vez de aumentar a renda o governo em véspera de eleição
deu aos pobres o aumento do crédito, dívidas. Dinheiro de plástico não é
dinheiro em caixa é só a ampliação da capacidade de endividamento, é insolvência
pessoal.
Embora a partir da democratização o fato do estado ter
aumentado os recursos para a área do social ser uma realidade, este dinheiro
geralmente é mal aplicado, desviado para outras áreas, ou mesmo roubado. Manchetes como "Rombo na Saúde", "Rombo na Educação", são oque mais vemos.
As denúncias
de corrupção tristemente fazem parte do nosso dia a dia, é um novo escândalo a
nos fazer esquecer-se dos outros anteriores, o que a cada dia nos deixa menos
esperançosos com a possibilidade de moralização. O duro é que grande parte
destes atos de corrupção sempre envolve os minguados recursos para o social.
Se do ponto de vista das liberdades democráticas, o direito
a manifestação e expressão, mesmo com os ocorridos no Pinheirinho, Aldeia Maracanã,
etc. serem práticas policiais dignas do período da ditadura, a democracia
aumentou, está ainda não chegou à economia, onde o abismo entre os que mais
ganham e os que menos ganham se faz presente.
Neste país, onde o dinheiro está concentrado nas mãos de
poucos, e o estado do ponto de vista nacional devidamente presente em seu papel de levar a inclusão social, assim diminuindo as barreiras sociais, acaba imperando é uma guerra civil não declarada entre os que nada tem com
os que pouco tem. Enquanto isto seguros no topo da torre, em vez de financiar as soluções
devidas para os graves problemas sociais, os dignitários preferem investir em pesquisas, feitas com critérios
duvidosos, e estas dizem que somos o país da “nova classe média”.
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