Thomaz Pires
Insatisfeito com uma reportagem publicada pela revista IstoÉ, o senador Fernando Collor (PTB), candidato a governador de Alagoas, voltou a demonstrar a sua costumeira falta de educação e o seu temperamento explosivo. Numa ligação para a redação da sucursal da revista em Brasília, Collor fez ameaças ao jornalista Hugo Marques e não economizou nos xingamentos. A revolta foi desencadeada pela reportagem, na edição desta semana, que cita a impugnação da candidatura do político alagoano.
"Quando eu lhe encontrar, vai ser para enfiar a mão na sua cara, seu filho da puta", ameaçou Collor, que está na corrida pelo governo de Alagoas.
Na reportagem, o jornalista destaca o fato de Collor não ter conseguido uma certidão de “nada consta”. A Justiça eleitoral cobra a documentação para a obtenção do registro de candidatura.A candidatura de Collor e todos os demais candidatos a governador de Alagoas estão impugnadas pela Procuradoria Regional Eleitoral do estado.
A conversa com o jornalista ocorreu na tarde desta quinta-feira. Segundo o repórter da revista, Collor ligou para a redação para contestar a reportagem. A matéria, que tem como título "Onde estão os ficha-limpas?", destaca que além dos postulantes ao governo 87% enfrentam problemas com a Justiça.
Em entrevista ao Portal Imprensa, o jornalista Hugo Marques disse que desligou o telefone imediatamente após o xingamento. Segundo ele, houve a preocupação de o candidato tentar forçar alguma palavra ou ato de agressividade, por menor que fosse, para ser usada judicialmente e atrapalhar na cobertura eleitoral.
O Congresso em Foco entrou em contato com a assessoria de imprensa de Collor. Até o momento, não há qualquer nota oficial explicando o teor da conversa e os motivos que fizeram o parlamentar procurar o jornalista. Questionado se havia alguma informação adicional sobre o episódio, a assessoria informou que sequer estava ciente do episódio.
A reportagem da ISTO É que irritou o Collor:
Onde estão os fichas-limpas?
É difícil encontrá-los em Alagoas: todos os candidatos ao governo e 87% dos que concorrem ao Legislativo estão enrolados com a Justiça
Ao começar a aplicar a Lei dos Fichas-Sujas, o Ministério Público Eleitoral fez mais de 2,3 mil pedidos de impugnação de candidaturas em todo o País, o que representa 13% dos políticos que disputam cargos públicos este ano. No topo da lista dos Estados com maior número de concorrentes enrolados com a Justiça está Alagoas. Lá, o MPE protocolou ações de impugnação contra 87% dos candidatos ao Legislativo. Com isso, 383 dos 438 candidatos estão ameaçados de não poder disputar as eleições este ano. Se depender dos procuradores eleitorais, Alagoas pode ficar até sem candidato a governador, pois todos os seis políticos que se apresentaram para disputar o cargo terão de dar explicações à Justiça Eleitoral. “Agora, com a Lei dos Fichas-Sujas, o povo espera que os Tribunais Regionais Eleitorais sejam rígidos com os políticos que sempre gozaram de impunidade”, diz o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante.
A maioria dos pedidos de impugnação de candidaturas está relacionada à falta de simples certidões de “nada consta” criminal nas esferas judiciais. O documento é imprescindível para quem quer seguir carreira pública, mas muitos políticos, às voltas com processos judiciais, não conseguem obtê-los. São os casos do candidato ao governo estadual Fernando Collor de Mello (PTB) e do atual governador, Teotônio Vilela Filho (PSDB), que tenta a reeleição. Mas há situações ainda mais escabrosas. O ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), também candidato ao governo, já foi condenado em segunda instância por abuso de poder político e econômico. Lessa, inclusive, está com os bens bloqueados pela Justiça, e o Ministério Público quer que ele devolva R$ 240 milhões desviados em convênios ilegais. “O TSE afirmou que, com a nova lei, candidatos com condenações anteriores se tornaram inelegíveis pelo prazo de oito anos”, diz o procurador regional eleitoral de Alagoas, Rodrigo Tenório.
O coordenador do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral em Alagoas, o advogado Adriano Argolo, disse que, no Estado, há condenados por improbidade administrativa, escravatura e até assassinatos. Na maioria dos casos, os processos nem chegam a ser julgados por um órgão colegiado, exigência para que o candidato seja enquadrado na lei contra os fichas-sujas. “Nós somos referência em matéria de impunidade eleitoral”, diz ele. Com tanto ficha-suja, a briga por vagas na disputa por cadeiras no Legislativo promete ser acirrada. A expectativa é de que os políticos recorram a todas as instâncias do Judiciário, inclusive ao Supremo Tribunal Federal. E, para sorte dos que pretendem apelar à corte suprema, o plenário do STF está dividido.