Roberto Elias SalomĂ£o*
Os sete membros escolhidos sĂ£o cidadĂ£os de reconhecidas competĂªncia e seriedade, com um compromisso acima de qualquer suspeita na defesa dos direitos humanos. SĂ£o eles o ministro do Superior Tribunal de Justiça Gilson Dipp, o ex-ministro da Justiça JosĂ© Carlos Dias, o ex-procurador-geral da RepĂºblica ClĂ¡udio Fontelles, o embaixador e cientista polĂtico Paulo SĂ©rgio Pinheiro, a psicanalista e escritora Maria Rita Kehl e os advogados Rosa Maria Cardoso da Cunha e JosĂ© Paulo Cavalcanti Filho. Dentre eles, um serĂ¡ escolhido para presidir a ComissĂ£o.
Apesar da qualidade dos nomes indicados e para surpresa de ninguĂ©m, jĂ¡ hĂ¡ muita gente questionando a isenĂ§Ă£o do colegiado. Dizem que Maria Rita Kehl defendeu publicamente a puniĂ§Ă£o dos torturadores e que Rosa Maria Cardoso da Cunha foi a advogada de Dilma Roussef no processo movido contra a entĂ£o guerrilheira pela ditadura militar. Quanto a JosĂ© Carlos Dias e Paulo SĂ©rgio Pinheiro, sua conhecida trajetĂ³ria em defesa dos direitos humanos os tornaria parciais…
Esse pessoal nĂ£o tem jeito. Quem sabe com a presença de um representante dos torturadores, outro dos mandantes e mais um dos generais de pijama, a ComissĂ£o seria mais imparcial?
Deixemos de lado essas sandices. O que importa agora Ă© o trabalho que a ComissĂ£o Nacional da Verdade irĂ¡ desenvolver. O Brasil espera que a ComissĂ£o faça uso de suas atribuições e empregue todos os meios legitimamente conferidos a ela pelo Congresso Nacional para empreender uma devassa radical dos arquivos, estabelecendo a histĂ³ria real da violĂªncia que se praticou contra os direitos humanos no paĂs. Com nomes e sobrenomes.
NĂ£o vai ser fĂ¡cil, e a dificuldade nĂ£o estĂ¡ no prazo de dois anos, mas sim nas pressões que a ComissĂ£o Nacional da Verdade inevitavelmente sofrerĂ¡. O pessoal do lado de lĂ¡ ainda tem muita força.
Esta Ă© a razĂ£o pela qual a ComissĂ£o Nacional da Verdade precisa do FĂ³rum Paranaense de Resgate da Verdade, MemĂ³ria e Justiça, precisa de muitos movimentos semelhantes ao nosso, espalhados por todo o paĂs. NĂ³s tambĂ©m sabemos pressionar, tambĂ©m sabemos criticar, tambĂ©m sabemos sair Ă s ruas e exigir aquilo que acreditamos ser a vontade do povo brasileiro: a verdade e a justiça. NĂ£o temos o que esconder, a revelaĂ§Ă£o dos fatos reais nĂ£o nos afeta. Este Ă© o nosso maior patrimĂ´nio.
* Roberto SalomĂ£o Ă© jornalista.