A histĂ³ria de Piraquara, na regiĂ£o metropolitana de Curitiba, confunde-se com a histĂ³ria do sistema penitenciĂ¡rio do ParanĂ¡. Os detentos representam 6% da populaĂ§Ă£o do municĂpio. Parentes dos presos constituĂram vilas nas proximidades das unidades prisionais
A histĂ³ria de Piraquara, municĂpio da regiĂ£o metropolitana de Curitiba, estĂ¡ diretamente ligada Ă histĂ³ria do sistema penitenciĂ¡rio do ParanĂ¡. O inĂcio dessa relaĂ§Ă£o data da dĂ©cada de 1940, com a inauguraĂ§Ă£o da PenitenciĂ¡ria AgrĂcola do Estado, segunda construĂda no ParanĂ¡. Hoje, a cidade jĂ¡ conta com um complexo penitenciĂ¡rio composto por seis unidades, que, juntas, abrigam cerca de 6 mil detentos. Um contingente que representa 6% da populaĂ§Ă£o do municĂpio e influencia toda a comunidade que se consolidou ao redor.
É numa regiĂ£o afastada do centro de Piraquara que estĂ¡ a Vila Macedo. Formado inicialmente por funcionĂ¡rios do complexo penitenciĂ¡rio e pelas famĂlias dos detentos, hoje o bairro – populoso – conta com ruas asfaltadas, unidade de saĂºde e uma escola com cerca de mil alunos. Entre os moradores, Ă© comum encontrar relatos de quem tem familiares atrĂ¡s das grades. PorĂ©m a violĂªncia alimentada pelo trĂ¡fico de drogas e o medo de se expor fazem com que poucos se disponham a falar.
O diretor da Escola Vila Macedo, Gilmar Luiz Cordeiro, Ă© um dos que acompanham de perto a realidade de quem vive nas imediações do complexo penitenciĂ¡rio de Piraquara. De acordo com ele, nĂ£o sĂ£o poucos os alunos que tĂªm pais, irmĂ£os ou outros familiares encarcerados. “Boa parte dos nossos alunos estĂ¡ ligada ao sistema penitenciĂ¡rio. Aqui na regiĂ£o sempre hĂ¡ uma populaĂ§Ă£o provisĂ³ria, que permanece um tempo e depois vai embora.”
O prefeito de Piraquara, Gabriel Samaha, reconhece que essa parcela de moradores provisĂ³rios existe, mas diz que ela nĂ£o Ă© tĂ£o grande assim. “Muitas famĂlias que vieram para ficar perto dos detentos acabaram se consolidando”, conta.
NĂ£o muito distante da Vila Macedo existe a Vila Militar. Concebida tambĂ©m para abrigar os funcionĂ¡rios do complexo penitenciĂ¡rio, a desvalorizaĂ§Ă£o dos imĂ³veis fez com que o local acabasse por atrair familiares de detentos.
Foi lĂ¡ que fixaram residĂªncia, por exemplo, a esposa, o filho, a mĂ£e e dois irmĂ£os de um dos internos da ColĂ´nia Penal AgrĂcola. “Como Ă© muito longe, ficou mais fĂ¡cil eles virem morar para cĂ¡. É bom para eles e para mim, que tenho o apoio da famĂlia”, avalia o detento, que saiu de Foz do Iguaçu.
AlĂ©m das vilas situadas nas imediações, hĂ¡, ainda, famĂlias de detentos que se fixaram no Jardim Guarituba – bairro que iniciou como ocupaĂ§Ă£o irregular e hoje Ă© um dos mais populosos do municĂpio.
Cotidiano
Ao lado da Escola Estadual Vila Macedo, Ă© fĂ¡cil encontrar detentos da ColĂ´nia Penal AgrĂcola trabalhando na limpeza das ruas. A reportagem acompanhou uma tarde de atividades de seis desses internos do regime semiaberto.
O trabalho tem inĂcio Ă s 8 h e se encerra Ă s 17 horas, quando eles retornam Ă ColĂ´nia Penal. Cada dia trabalhado conta para a reduĂ§Ă£o da pena. Do total do salĂ¡rio que recebem, 60% Ă© destinado aos familiares e 40% Ă© depositado em uma conta bancĂ¡ria, que Ă© liberada quando eles ganham a liberdade.
“A gente tem consciĂªncia de que errou e estĂ¡ pagando pelo que fez. Trabalhando aqui nĂ³s podemos ver o que estĂ¡ acontecendo, mostrar para a comunidade que estamos arrependidos e que queremos começar uma nova vida depois de sairmos”, afirma um dos detentos, que diz ter esperança de uma oportunidade de emprego no futuro. “A gente quer seguir em frente, nĂ£o voltar para trĂ¡s.”
Ter presĂdios Ă© positivo, diz prefeito Samaha
Para o prefeito de Piraquara, Gabriel Samaha, ter um complexo penitenciĂ¡rio no municĂpio nĂ£o Ă© nenhum demĂ©rito. Pelo contrĂ¡rio. A presença das unidades prisionais Ă© vista como algo positivo: emprega a populaĂ§Ă£o local e permite que alguns detentos prestem serviços na comunidade. Cerca de 30 internos da ColĂ´nia Penal AgrĂcola trabalham em diversas Ă¡reas no municĂpio por meio de um convĂªnio com a prefeitura.
“Piraquara sempre foi referĂªncia no sistema penitenciĂ¡rio. Isso ajuda a empregar muitos moradores da cidade e de outros lugares”, ressalta Samaha. A ideia de que o grande volume de presos seria um gerador de criminalidade Ă© rechaçada. “O que gera criminalidade Ă© a falta de oportunidades”, diz.
O diretor da Escola Vila Macedo, Gilmar Luiz Cordeiro, conta que a regiĂ£o tem sĂ©rios problemas de criminalidade, mas ele nĂ£o os associa Ă populaĂ§Ă£o carcerĂ¡ria. “Os problemas maiores sĂ£o rebeliões ou fugas.” Por estar na Ă¡rea de proteĂ§Ă£o ambiental da Bacia do Rio IraĂ, o municĂpio sofre com uma sĂ©rie de restrições a empreendimentos industriais, o que limita seu desenvolvimento econĂ´mico. (GP)