
RevoluĂ§Ă£o Francesa

Lendo os pobres arrazoados sofistas escritos pelo Leonardo Bruno Fonseca de Oliveira, que em seu caricato “francesismo de salĂ£o” auto proclamou-se Conde Loppeux de la Villanueva, fiquei a pensar sobre o que leva um jovem vindo das camadas menos abastadas da populaĂ§Ă£o a ter posições tĂ£o conservadoras em relaĂ§Ă£o a sociedade.
Ele, em um discurso paranĂ³ico, talvez atĂ© nĂ£o percebido pelo prĂ³prio, jĂ¡ que nĂ£o mais se assume enquanto o mortal Bruno, e sim enquanto um conde imaginĂ¡rio, ao tentar se colocar como porta voz da indigesta extrema direita neoliberal clerigal, na realidade nĂ£o passa de mais um clone, de uma vĂtima do Olavo de Carvalho, o que de fato “criou” estĂ¡ forma distorcida e delirante de formatar a anĂ¡lise do que Ă© histĂ³rico e social. A diferença entre os dois Ă© que um se locupleta com o que faz enquanto o que a vida destinou ser um mero golem sĂ³ restou Ă s agruras da nĂ£o aceitaĂ§Ă£o do prĂ³prio meio, jĂ¡ que Ă© visto como um mero copiĂ£o do titular, e cĂ³pia Ă© cĂ³pia. Vendo a aĂ§Ă£o do panfleteiro plebeu Conde divulgando o (des)pensar do Olavo de Carvalho por toda a internet e os estragos doentios que ele causa na juventude brasileira, do qual a maior mostra viva Ă© o Bruno, nĂ£o poderia ficar calado e assim me expresso contra estĂ¡ patolĂ³gica idiossicrasia ideolĂ³gica.
Na construĂ§Ă£o de seu pensamento maniqueĂsta, digno das masmorras da nada santa inquisiĂ§Ă£o, em um artigo ele, em sua construĂ§Ă£o da argumentaĂ§Ă£o de uma teoria conspiratĂ³ria, foca como alvo de seu patolĂ³gico Ă³dio uma simples novela do SBT, cuja produĂ§Ă£o conta com parcos recursos e estĂ¡ Ă© apresentada em um horĂ¡rio de baixa audiĂªncia, a Amor e RevoluĂ§Ă£o.
O “crime cometido” por este canal de televisĂ£o Ă© o de em vez de apresentar um roteiro repleto de personagens falando sobre “prĂncipes bons” e castelos distantes da nossa favelizada realidade aborda um tema social real e recente, a ditadura militar. Para pessoas como o Bruno estĂ¡ triste memĂ³ria sobre um nebuloso e cruel processo histĂ³rico teria que ficar enterrada junto com os desaparecidos pela aĂ§Ă£o da violenta repressĂ£o que abateu pĂ³ sobre o paĂs apĂ³s o golpe civil e militar de 64. Para pessoas reacionĂ¡rias como o Bruno, embora a novela com seus personagens mostre claramente os dois lados, inclusive dentro dos quartĂ©is e dentro das prĂ³prias famĂlias dos militares, para este a teledramaturgia apresentada por este seriado do SBT Ă© uma tentativa de “macular as Forças Armadas”, mas nĂ£o Ă©.
Enquanto na Argentina, no Chile, no Uruguai, na BolĂvia, etc. os criminosos de guerra responsĂ¡veis pelos golpes de estados e pelo comando dos aparelhos terroristas de governo estĂ£o sendo punidos por seus crimes, aqui figuras menores como o Bruno nĂ£o admitem que ao menos o debate democrĂ¡tico sobre o tema ocorra, mas para o desespero destes, eles queiram ou nĂ£o, ele jĂ¡ estĂ¡ ocorrendo e os arquivos da ditadura serĂ£o abertos e os que cometeram crimes hediondos serĂ£o cedo ou tarde punidos.
O que apavora mais o Bruno e os demais vestais da seita do Olavo de Carvalho, embora incomode, nĂ£o Ă© a novela em si e seus personagens, mas sĂ£o os depoimentos das pessoas, das reais vĂtimas diretas da aĂ§Ă£o dos criminosos aparelhos estatais clandestinos de tortura. Estes carregados de emoĂ§Ă£o, o que nĂ£o poderia ser diferente, pois o resgate da memĂ³ria pessoal e coletiva trĂ¡s a tona os sofriementos, dado a gravidade dos atos praticados contra estes por covardes e doentios agentes do estado travestidos de Torquemadas, e ilegalmente protegidos pelo manto sinistro e desumano da ditadura, pelo MP e pela Justiça que nĂ£o cumprem o seu papel de resgate da justiça, como pela desinformaĂ§Ă£o coletiva atĂ© os dias de hoje.
Quando fui dar o meu testemunho para a novela Amor e RevoluĂ§Ă£o conversando com a produtora Bruna ela me disse que a idĂ©ia era que para cada depoimento de perseguidos fosse apresentado outro dos repressores, mas isto estava impossĂvel de acontecer, pois os que estiveram envolvidos com o aparelho de repressĂ£o e tortura, os na Ă©poca todo poderosos, hoje se escondem nas sombras e negam em dar seus depoimentos. O coronel Ulstra, sĂmbolo da repressĂ£o e da tortura, que era “muito macho” com as vĂtimas penduradas no “pau de arara” ou sentadas amarradas na “cadeira do dragĂ£o” levando choques hoje treme com a idĂ©ia de ir dar seu depoimento para o SBT, mas jĂ¡ estĂ¡ tendo de irdepor como estĂ¡ respondendo legalmente pelos seus atos dignos da sua ida para a prisĂ£o. A realidade de impunidade que ainda persiste em relaĂ§Ă£o a nĂ£o puniĂ§Ă£o legal dos crimes praticados por estes monstros ainda persiste, mas aos poucos estĂ¡ vai se alterando.
Embora ainda nĂ£o tenha ido preso, que Ă© o que merece, a Justiça jĂ¡ responsabilizou o coronel Ulstra pelos crimes de tortura que este cometeu durante a ditadura militar. A sentença saiu no dia 9/10/2008 e condenou o coronel moral e politicamente pela tortura contra CĂ©sar Augusto Teles, Maria AmĂ©lia de Almeida Teles e CrimĂ©ia Alice Schmidt de Almeida.
Em seu artigo intitulado “Bando de hipĂ³critas!” o Bruno, vulgo Conde, cobra das Forças Armadas o fato destas por “timidez” nĂ£o se posicionarem contra a novela, pois quem atĂ© agora o fez foram apenas alguns sites de extrema direita e algumas associações que, como os sites, agrupam somente uma minoria de ex-militares, sendo que estes saudosos da ditadura hoje estĂ£o reformados e de pijama. O fato destas nĂ£o se posicionarem Ă© o de que estes oficiais militares da ativa defendem o estado democrĂ¡tico de direito e assim cumprem e respeitam a ConstituiĂ§Ă£o. Eles tĂªm claro que os lamentĂ¡veis fatos ocorridos a partir de 64 nĂ£o foram realizados pela maioria absoluta dos quadros das Forças Armadas e sim por uma pequena minoria de militares e civis que criminosamente operaram o aparelho paralelo de estado. Muitos militares, bons patriotas, por serem a favor da legalidade tambĂ©m foram por apenas defenderem a ConstituiĂ§Ă£o, que era a principal obrigaĂ§Ă£o constitucional da caserna, perseguidos e ilegalmente punidos com prisões, torturas, etc. nos acontecimentos ocorridos apĂ³s 64.
O Bruno, vulgo Conde, pequeno pulha que atĂ© a nĂ£o muito tempo atrĂ¡s defendia na Ăntegra tudo que era relacionado ao golpe, e atĂ© a tortura, hoje vendo o tom crĂtico contra o mesmo por parte da maioria da populaĂ§Ă£o, como tambĂ©m por parte dos integrantes da ativa nas Forças Armadas, se “recicla” e muda o tom do discurso assumindo que ocorreram excessos e a apresenta como “um mal necessĂ¡rio”, o que vindo da parte dele apenas representa mera hipocrisia e oportunismo de ocasiĂ£o.
De ser papagaio de pirata do Olavo de Carvalho a ser da Folha, aquele jornaleco marrom que financiou o aparelho de tortura, Ă© apenas um passo e assim o Bruno, vulgo Conde, incorporou o discurso de que a ditadura foi uma “ditabranda”, o que nĂ£o passa de uma deslavada mentira. A ditadura brasileira em conjunto com a CIA patrocinou e participou dos demais golpes de estado acontecidos no cone sul das AmĂ©ricas treinando tropas, enviando armas e demais equipamentos militares, como treinou os torturadores que atuaram nos porões das ditaduras nestes paĂses vizinhos. Infelizmente o Brasil foi o epicentro do golpes e da posterior OperaĂ§Ă£o Condor, rede de InteligĂªncia civil e militar sob o comando externo do Departamento de Estado dos EUA.
O protofascista Bruno, vulgo Conde, em seu discurso maniqueĂsta ironicamente fala dos sentimentos expressos pelos militantes de esquerda quando prestaram seus depoimentos e afirma que os discursos proferidos por esses Ă© falso, pois nĂ³s da esquerda “nunca” terĂamos defendido a democracia. Entre as centenas de milhares de pessoas de esquerda que se posicionaram contra a ditadura apenas algumas centenas pegaram em armas, mas dezenas de milhares foram perseguidas, detidas, presas, fichadas e muitas foram mortas, como foram os casos de assassinatos do deputado Rubens Paiva, do jornalista Herzog e do operĂ¡rio Manoel Filho, sem nunca terem praticado qualquer ato armado contra o governo ditatorial. Estes cidadĂ£os passaram por um verdadeiro inferno em suas vidas somente por terem uma posiĂ§Ă£o polĂtica diferente da dos golpistas de 64, e por isso foram punidas pela acusaĂ§Ă£o de praticarem “crimes de opiniĂ£o”, o que foi o meu caso e da maioria esmagadora dos que se rebelaram contra o regime de exceĂ§Ă£o.
Os que pegaram em armas contra a ditadura armada, grupos que no conjunto nĂ£o envolviam mais de 2.000 membros entre guerrilheiros e seus grupos de apoio, em sua maioria sem treinamento militar adequado e sem armas a altura de um enfrentamento com tropas profissionais, e sobrevieram, pois a maioria dos que seguiram o caminho armado de luta morreram e nĂ£o em combate, mas sendo torturados, e os sobreviventes, sendo que maior parte destes nĂ£o pegaram diretamente em armas por serem apenas da estrutura de apoio a guerrilha, alĂ©m de torturados passaram por grandes perĂodos de prisĂ£o, fizeram autocrĂtica sobre o processo de resistĂªncia armada e se engajaram na luta democrĂ¡tica pelo fim do regime militar. Mas as viĂºvas da ditadura e os mentores desta, sem demonstrar nenhum arrependimento sobre os seus atos, ainda tentam relativizar sobre o que aconteceu na histĂ³ria do Brasil apĂ³s 64. Se alguns membros da esquerda se equivocaram ao pegar em armas contra um inimigo poderoso estes o fizeram apĂ³s a implantaĂ§Ă£o de um regime movido pelo terror de estado.
A minha geraĂ§Ă£o, a dos “filhos da ditadura”, foi criada em um paĂs onde todas as liberdades fundamentais a existĂªncia de um estado de direito tinham sido suprimidas e assim toda atividade que levasse a livre discussĂ£o das idĂ©ias, a manifestaĂ§Ă£o coletiva ou individual e a organizaĂ§Ă£o da sociedade civil estavam proibidas ou sob censura. O ser humano Ă© um ser social e sem as liberdades democrĂ¡ticas ele se torna o que?
Outro ponto abordado pelo Bruno, vulgo Conde, que nĂ£o passa de mais um aprendiz de protofascista neoliberal, foi o da democracia, o que para ele representa apenas o direito de votarmos de dois em dois anos em eleições parlamentares contaminadas pelo abuso econĂ´mico (massificaĂ§Ă£o de propaganda dos candidatos da elite, compra de votos, etc.). Para nĂ³s da esquerda a democracia nĂ£o Ă© uma mera palavra com cunho eleitoreiro e sim algo com maior profundidade e ela se dĂ¡ nas relações que construĂmos todos os dias discutindo de forma organizada nas nossas entidades civis sobre tudo o que afeta as nossas vidas e assim encontrarmos na luta enquanto coletivo os caminhos em busca da construĂ§Ă£o de um mundo melhor.
Para os olavates iguais ao Bruno, vulgo Conde, o maior exemplo de "democracia" foi a ditadura chilena, onde sob forte e assassina repressĂ£o da ditadura comandada pelo general franquista Pinochet foi implantado o primeiro modelo de estado neoliberal.