segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Atenas desperta entre as cinzas causadas pela chamas da ira popular

Atenas despertou nesta segunda-feira sob uma fina e triste chuva que parecia lamentar os destroços causados no dia anterior durante a violenta manifestação popular contra o pacote de austeridade aprovado pelo Parlamento grego.

Pelas cinzas que ficaram reduzidos muitos edifícios era possível perceber a raiva que produziu entre os gregos os cortes no orçamento exigidos pela troika, formada pelo Fundo Monetário Internacional, União Europeia e Banco Central Europeu. Segundo pesquisas, 79% dos gregos rejeitam as reformas.

Uma ira que não se via em Atenas há anos. Mais precisamente, há três, quando o assassinato do adolescente Alexis Grigoropulos pela polícia originou uma violenta revolta.

"Infelizmente, parece que estamos revivendo o que se passou há alguns anos", lamentou o prefeito de Atenas, Giorgos Kaminis, em declarações ao canal "Mega".

Especialmente nas avenidas que se comunicam com as praças centrais Sintagma e Omonia, o panorama se parecia à ressaca de um bombardeio: grades metálicas retorcidas pelo fogo, vidros quebrados, telhados derrubados e estabelecimentos saqueados.

Segundo a imprensa grega, 48 edifícios arderam total ou parcialmente, entre sedes bancárias, grandes lojas e galerias comerciais.

A perda mais sentida é provavelmente a do cinema Attikon, construído em 1881 num belo edifício neoclássico, que queimou durante horas alimentado pelos coquetéis molotov e o material inflamável das poltronas e dos velhos rolos de filmes.

Outro cinema também pegou fogo, o ASTY, que pagou o preço por no passado ter sido um centro de torturas da Gestapo durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. Um lugar simbólico numa sociedade que se sente oprimida pelas pressões da Alemanha da chanceler Angela Merkel.

Cerca de 150 estabelecimentos comerciais foram saqueados e seus proprietários se esforçavam para limpar os destroços e os vidros quebrados, no início de uma semana que deverá produzir uma nova dor de cabeça para as seguradoras.

Apesar da situação econômica crítica do país, a prefeitura de Atenas prometeu aos comerciantes ajuda para reconstruir o que foi danificado.

Mais de uma centena de pessoas ficaram feridas, a metade delas policiais, e foram realizadas 130 prisões.

Perguntado pela emissora "Vima" se os distúrbios podiam ter sido prevenidos, Athanasios Kokkalakis, porta-voz da polícia em Atenas, assegurou que os agentes de segurança fizeram tudo o que estava a seu alcance.

"Não podemos dizer que estamos satisfeitos pelo que aconteceu nas últimas horas, que produziu tantos desastres", disse, numa ambígua referência aos distúrbios e à aprovação do pacote, ao qual uma importante associação policial também se opôs. "A sociedade também não está satisfeita", finalizou. (EFE)

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