quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Estrada do Colono tem velho dilema reavivado

Sob o argumento de criar uma estrada ecologicamente sustentável dentro do Parque Nacional do Iguaçu, parlamentares paranaenses estão propondo a reabertura da Estrada do Colono, via de 17,6 quilômetros que ligava o Oeste ao Sudoeste. Uma comissão especial foi formada na Câmara dos Deputados para discutir a proposta e até o início de 2012 deve apresentar um parecer sobre o tema. A discussão em torno da estrada coloca em evidência o debate entre progresso e preservação. Fechada há 10 anos pela Polícia Federal (PF) após uma determinação da Justiça, o Caminho do Colono, como também é conhecida a estrada, tornou-se uma polêmica paranaense. Políticos e moradores das regiões Oeste e Sudoeste do estado defendem a reabertura da estrada – que no passado era usada por colonizadores que deixaram o Sul rumo às regiões Oeste e Centro-Oeste – para estimular o crescimento dos municípios do entorno do parque.

Ambientalistas e a direção do Instituto Chico Mendes de Con­­servação da Biodiversidade (ICM­­bio) se posicionam contra o funcionamento da estrada. Um dos argumentos, além do risco de proteção ao parque, é a ameaça da Unesco em retirar o título de Patrimônio Natural da Humani­­dade, concedido em 1986 para a reserva.

O projeto de lei 7.123/2010 apresentado pelo deputado federal Assis do Couto (PT) propõe a criação de uma Estrada-Parque para promover a educação ambiental, o turismo ecológico e rural. A proposta inclui estudo prévio de impacto ambiental, instalação de guaritas para controle de pessoas e veículos e sistemas para facilitar a circulação de animais.

“É um assunto que não está esquecido e o pessoal está motivado a discuti-lo. Quando se fechou a estrada o que se perdeu de mais importante foi a esperança”, diz o prefeito de Capanema, Milton Kafer (PMDB). O prefeito sustenta que há uma posição em defesa do meio ambiente para que, em uma eventual abertura, não se permita a circulação de cargas vivas e perigosas na estrada. Também argumenta que a decisão da Justiça pelo fechamento foi fundamentada em um plano de manejo elaborado por técnicos que não discutiram o assunto com a população.

Após o primeiro fechamento oficial da estrada, em 1986, a população de Capanema, que era de aproximadamente 29 mil habitantes, teve uma significativa redução, chegando hoje a 18,6 mil. Em Serranopólis do Iguaçu, comerciantes que conviveram com a estrada aberta entre 1997 e 2001 registraram um salto no movimento comercial. “Nessa época meu movimento aumentou até 60%”, diz Edvige Marsaro, 41 anos, proprietária de uma panificadora.

Estrada-parque

O biólogo e presidente do Instituto de Estudos Ambientais Mater Natura Paulo Pizzi diz que o projeto da Estrada-Parque proposto pelos parlamentares é uma tentativa de burlar a decisão judicial que mantém a estrada fechada. Ele argumenta que a figura da estrada-parque não existe no Sistema Nacional de Unidades de Conser­­vação da Natureza (Snuc) – cujo papel é ordenar áreas protegidas. “Isso me parece um subterfúgio que costuma vir à tona em épocas próximas às eleições”, diz.

Desinformados, motoristas ainda procuram trecho

Quem circula próximo ao Caminho do Colono tem dificuldade para ver o que sobrou do antigo trecho por onde passavam mais de 300 veículos diariamente entre 1997 e 2001. O mato tomou conta da via e o que restou foram picadas. Mes­­mo fechada, a estrada ainda é procurada por motoristas, relatam moradores vizinhos ao parque.

São estrangeiros ou turistas brasileiros que não têm costume de passar pela região, mas localizam a estrada por meio de GPS. “O equipamento indica a existência de uma estrada de terra. As pessoas vêm e precisam voltar”, diz a agricultura Celi Lopes, 45, que tem uma casa a 20 metros da entrada do parque em Serranópolis do Iguaçu, uma das pontas do antigo trecho. Sem a estrada aberta, os motoristas que vão do Oeste ao Sudoeste precisam transitar 190 quilômetros a mais, passando próximo a Cascavel.

Outro agricultor de Serranó­­polis, que mora há 18 anos na divisa com o parque, Giovani Achtenberng, 39 anos, diz que o local hoje é bem tranquilo, diferentemente da época em que a via estava aberta. Ela conta que nos últimos meses foi intensificado o patrulhamento da Polícia Militar e Polí­­cia Am­­biental na região. Ao contrário de outros moradores de Ser­­ranópolis, Achtenberng se diz indiferente quanto à reabertura da estrada até porque aprecia a calmaria com o caminho fechado.

O entorno da antiga estrada é fiscalizado pela Polícia Am­­biental e por fiscais do Instituto Chico de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) – responsável pela administração do Parque Nacional do Iguaçu. A estrada teria sido criada na década de 20, na época da Coluna Prestes. Posteriormente foi utilizada pelos colonizadores. (GP)

1 comentários :

Lucas disse...

Sou completamente contra a reabertura da estrada. Esta estrada com certeza acarretará um impacto muito grande à fauna e à flora da região, mesmo sendo uma estrada-parque. As espécies nativas que estão no Parque merecem nosso respeito. Nossos animais já estão muito confinados em pouquíssimas áreas de preservação em nosso país.

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