Cientistas da Argentina, Brasil, Chile e México vão estudar os segredos do Universo em um laboratório subterrâneo de física de partículas que será instalado em um túnel na cordilheira dos Andes, entre a Argentina e o Chile. O estudo da chamada matéria escura, dos neutrinos e de outras partículas subatômicas é o alvo do projeto, explicou ontem (27) o coordenador da iniciativa, o físico franco-argentino Xavier Bertou.
O túnel, que começará a ser construído no ano que vem, terá 14 quilômetros de extensão e um laboratório que será instalado a mais de 1.500 metros abaixo da superfície. A construção do laboratório custará US$ 15 milhões, o equivalente a 2% do custo do túnel rodoviário Água Negra, que unirá a cidade de Iglesia, na província argentina de San Juan, à província chilena de Vicuña.
Também “há grande interesse” em usar o laboratório para estudos de impacto dos raios cósmicos sobre o envelhecimento celular, de geofísica – para criar uma rede de sismógrafos entre a Argentina e o Chile – e do ambiente, explicou o cientista.
Segundo o site do projeto, em uma caverna principal serão feitos dois ou três experimentos maiores, enquanto uma cavidade secundária abrigará três ou quatro andares destinados a estudos variados, cortados por túneis de acesso que ocuparão 2.500 metros quadrados da área subterrânea.
Bertou afirmou ainda que faltam pelo menos US$ 5 milhões para equipar o laboratório para estudos de física de partículas.
Segundo ele, “grande parte” desses estudos só pode ser feita em locais abaixo de rochas, que permitem detectar os neutrinos, os quais interagem pouco com a matéria. Os neutrinos são partículas subatômicas de carga elétrica neutra e pouquíssima massa. Entender seu comportamento “é fundamental” para o estudo da física, acrescentou Bertou.
Os cientistas acreditam que 85% da matéria do Universo é composta por matéria escura, cujas características são totalmente desconhecidas.
O coordenador do projeto Andes ressaltou que atualmente há mais de dez laboratórios subterrâneos no hemisfério Norte, entre eles o italiano Gran Sasso, onde foram medidos os neutrinos que, aparentemente, “são mais rápidos que a luz”.
O laboratório localizado no hemisfério Sul permitirá que sejam feitos estudos cruzados dos neutrinos. “Devido ao movimento da Terra, alguns estudos ganhariam muito se fossem feitos nos dois hemisférios para que os eventos possam ser triangulados”, disse Bertou.
O projeto Andes tem o potencial de incentivar a criação de empresas de alta tecnologia, como aconteceu nas regiões próximas aos laboratórios na Europa, disseram os cientistas. (Uol)
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