O blog entrevistou com exclusividade o jornalista e escritor paranaense, há anos radicado no Rio de Janeiro, Sergio Caldieri.
Nascido em Assai,interior do Paraná, Caldieri é o que podemos chamar de um incansável sonhador e lutador das boas causas que justificam a nossa existência neste planeta.
Com vasta experiência e militância no jornalismo político nacional e internacional, Sergio Caldieri conta um pouco da sua história enquanto jornalista.
Sergio Caldieri foi colaborador da Tribuna da Imprensa, Luta Democrática, Tribuna Socialista, O Correio e jornalista responsável do jornal Inverta. Foi ainda assessor de imprensa de Darcy Ribeiro e Edmundo Moniz, na Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro. Fundador do Instituto Cultural Bertolt Brechet (na antiga Alemanha Oriental), do Instituto Cultural Olof Palm (Suécia), Conselheiro da ABI e é atual membro do diretório estadual do PDT/RJ.
A seguir a íntegra da entrevista:
“Os Estados Unidos sempre foram uma das grandes pragas da humanidade. Tudo de ruim no mundo são causados pelos interesses dos presidentes de plantão desse país, acho que todos são fantoches manipulados pela famosa máfia que controla os bancos, fábricas de armas e outras crueldades contra os seres humanos.”
O que o jornalismo significa para você?
Robert, sou a favor do diploma. Disse que os grandes jornalistas que atuaram na imprensa não tiveram diploma, pois não tinha faculdade. Nunca achei justo os espaços para celebridades. Artigos técnicos de médicos, engenheiros também ocupam espaços, mas são específicos.Não vivemos num país socialista, mas acho que o Lula dando bolsa-família, aumento de salário, mais emprego, remédios grátis para diabetes e hipertensos, seria o começo do socialismo, mas falta muito. O projeto de nação do PDT era seguir os ideais de Leonel Brizola, como um grande defensor do nacionalismo e uma das suas maiores bandeiras que sempre foi a educação do povo brasileiro.
Desde criança lembro do meu pai Caetano lendo um jornal. Eu ficava no seu ombro acompanhando sua leituras. Fiquei com essa mania de ler jornal todos os dias. Quando morava no Paraná, lia uns seis jornais por dia, além da revista Realidade. Comecei a colecionar O Pasquim [semanário brasileiro editado entre 26 de junho de 1969 e 11 de novembro de 1991, reconhecido por seu papel de oposição ao regime militar] desde o número 20. Comecei a estudar Psicologia em Londrina-PR, mas sempre fascinado com o jornalismo. Trabalhei no jornal Panorama, onde tinha uma redação com os mais consagrados jornalistas do Rio e São Paulo: João Antonio, Palmério Dória, Georges Bourdokan, Narciso Kalili, Myton Severiano, o Miltainho, Ruy Barbosa, Carlos Escobar de Andrade, José Trajano e tantos outro, que moravam em Londrina: Carlos Verçosa, Roldão Arruda, Marcelo Oikawa, Nilson Monteiro. Essa equipe foi uma ótima escola para me incentivar na realização do verdadeiro jornalismo, sempre acreditando na verdade e realidade. Aqui no Rio, trabalhei nos jornais Tribuna da Imprensa, Luta Democrática, Tribuna Socialista, jornalista responsável pelo jornal Inverta, O Correio e no departamento de pesquisa do Jornal do Brasil.
E sobre a necessidade ou não de diploma para exercer a profissão. O qual a sua opinião sobre assunto?
Sou a favor do diploma. Os melhores jornalistas da imprensa brasileira não tiveram um diploma, pois naquela época, não existia faculdade de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Mas, sempre foram jornalistas com grande dignidade. Alguns cursaram Direito, História ou Letras. O talento de uma pessoa não precisa de um diploma. Não acho justo ocuparem as redações dos jornais com pessoas que não estudaram jornalismo. Os jornais dão espaços para artigos específicos em várias áreas: medicina. direito, engenharia ou qualquer outro assunto. Conheço vários jornalistas talentosos que não tem espaço na imprensa. O Jornal do Brasil já teve colunas semanais escritas por Léo Jaime, José Wilker ou Miguel Falabela. Acho lamentável.
Pode-se considerar que há em curso no país um modelo de socialismo ou mesmo social-democrata de esquerda?
Ainda não vivemos em um país socialista. O Socialismo sempre foi um governo com a distribuição da riqueza, com seu povo vivendo com dignidade na sua casa, com seus filhos nas escolas, com atendimentos médicos sem esta exploração da máfia de branco. E o principal, com salário descente para a sobrevivência diária da sua família. Mas é um sonho difícil de ser realizado num país infestado de burgueses que não abrem suas mãos por um centavo. Os capitalistas são tão burros, que só qurem saber dos seus lucros. Se eles dessem mais empregos e com um salário mais digno, muitos trabalhadores teriam mais dinheiro para gastar, e os tubarões teriam mais lucros, mantendo seus iates, seus jatos, filhos estudando na Europa ou na Ianquelândia. Teriam até mais amantes em cada aeroporto.
Observou-se nos últimos anos, principalmente a partir de 2003, um redirecionamento das relações do Brasil com outros países, antes limitadas praticamente ao Estados Unidos e seus aliados. Atualmente o Brasil se relaciona bem como países como China, Cuba, países árabes e mesmo com o Irã, sem falar na defesa aberta da causa palestina. Como você avalia a política internacional brasileira?
As relações diplomáticas do Brasil sempre foram ótimas com vários países. Durante a guerra fria e na ditadura militar, tinha que agradar o seu patrão e seus aliados. E recentemente, o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, fez um ótimo trabalho e sempre foi muito elogiado por todos. Acho que o secretário-geral do do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, foi brilhantíssimo, atuando como um verdadeiro diplomata. As relações com a China, Angola, Cuba e outros países sempre foram cordiais. Ultimamente implicam com as relações do Brasil com o Irã, mas Israel tem muito mais bombas atômicas e ninguém reclama. Se o Mahamoud Ahmadinejad nega o holocausto é a opinião dele. Deveriam se preocupar também com os holocaustos dos índios e dos negros que foram dizimados milhões no nosso continente americano e ninguém lembra deles.
Fale um pouco sobre o que você acha da situação atual do Egito e da Síria.
O Egito depois de 30 anos comandado por Hosni Muraback estava cansando a sua população. Saiu depois de muitas manifestações em 2011. Estão recomeçando com o atual presidente Mohmmed Mursi, vamos aguardar o seu desempenho. A Síria tem a influência dos lacaios estadunidenses sempre com o interesse no petróleo. Além dos agentes da Irmandade Muçulmana, Síria é formado pelos soldados desertores e os mercenários desocupados. Bashar al-Assad combateu os terroristas armados e a imprensa sempre manipulou para agradar os interesses da máfia da mídia mundial. A primavera árabe desestabilizou vários regimes. A primavera árabe desestabilizou Iemen, Jordânia, Bahrein, Síria e Líbia. Lamentavelmente, derrubaram e mataram Muamar Kadafi. Quando ele manteve relações cordiais com EUA, França, Itália e outros países, era um amigo, mas como petróleo é petróleo, não existe nenhuma consideração. Kadafi tinha ajudado nas eleições de Sarkozi e o traiu. E ainda teve a contribuição dos mercenários da OTAN, que chamo de Organização Terrorista do Atlântico Norte, e acabaram assassinando-o.
Os Estados Unidos ainda é uma “ameaça imperialista” para o mundo?
Os Estados Unidos sempre foram uma das grandes pragas da humanidade. Tudo de ruim no mundo são causados pelos interesses dos presidentes de plantão desse país, acho que todos são fantoches manipulados pela famosa máfia que controla os bancos, fábricas de armas e outras crueldades contra os seres humanos. Os capitalistas globalizados sempre foram sádicos e criminosos contra a população no mundo. Depois que o traidor Mikhail Gorbachev desestabilizou a União Soviética, saiu dando o Beijo da Morte no leste europeu. O deslumbrado traidor teve a vergonha de almoçar com o presidente de plantão dos EUA e jantar com a Rainha da Inglaterra. E ainda teve a contribuição do outro traidor, o papa João Paulo II que recebeu 50 milhões de dólares do ex-presidente Ronald Reagan, o famoso dedo-duro de Hollywood da época do macarthismo. O negociador desses dólares foi o general Vernon Walters, que foi um dos maiores articuladores da derrubada do presidente João Goulart no golpe militar de 1964. Os EUA continuam destruindo e matando milhares de inocentes nas suas guerras no mundo todo, com seus jagunços travestidos de soldados da Organização Terrorista do Atlântico Norte.
Como o senhor encara a luta por liberdade de expressão do fundador do WikiLeaks, Julian Assange?
O Julian Assange prestou um excelente trabalho em divulgar todos os documentos dos golpes, traições e centenas de negociatas. Ainda bem que recebeu os documentos e teve a coragem de divulgá-los. Mas os presidentes de plantão envolvidos nas denúncias jamais engoliram o Assange. Tomara que Assange venha morar no Equador, e entre em contato com o Dr. Martin Almada para divulgar milhares de documentos da Operação Condor no Paraguai. Que Julian Assange venha ao Brasil para desvendar os documentos que sobraram da atuação dos gorilas das forças armadas na ditadura militar.
Sérgio, você tem uma vasta experiência e militância jornalística, política e social, ou seja, é um profissional engajado. Atualmente integra a direção estadual do PDT do Rio de Janeiro, do velho e saudoso Leonel Brizola. Como o senhor vê a realidade do PDT após morte do seu principal fundador e referência histórica e política?
Estou no PDT desde 1980 e nunca mudei de partido. Sempre fui simpatizante do PCB, desde Luiz Carlos Prestes e nunca perdi um aniversário no dia 3 de janeiro, no Rio de Janeiro. Lamentavelmente, perdemos Leonel Brizola há oito anos, e depois dele o PDT sofreu mais traições, momento em que surgiu que foi chamado de LTB, a Legião dos Traidores do Brizola. Muitos querem herdar o legado Leonel Brizola, mas Brizola é só um, mas deixou marcas indelével desde as suas 6 mil escolas quando governou o Rio Grande do Sul, nacionalizou as duas multinacionais, fez reforma agrária e tantas outras realizações. Aqui no Rio de Janeiro fez os 510 CIEPs nas áreas mais carentes e sempre levou paulada dos falsos oposicionistas, inclusive das esquerdas do PT. Os petistas Chico Alencar e Milton Temer tinham espaços nas midiotas para esculhambar os CIEPs. Só nos últimos 26 anos teriam estudados cerca de 17 milhões de crianças. Mas, a direita prefere as crianças trabalhando de “avião” para o tráfico nos morros cariocas. E a classe dominante sempre teve interesse em manter uma grande camada de povo ignorante para continuar a escravidão e enriquecê-los. Como dizia, comunistas como Luiz Carlos Prestes: é a exploração do homem pelo homem.
Qual o grande legado deixada por Brizola, na sua opinião?
Leonel Brizola deixou o legado do nacionalismo e patriotismo em defesa do Brasil, da honestidade, da lealdade, da franqueza e sempre preocupado com a educação. Mas sempre foi um injustiçado, não foi compreendido por uma grande camada da população. Até hoje tem gente antibrizolista e ainda criticam Brizola. Estes dias, discuti com uma mulher que estava metendo pau no velho líder trabalhista. Não fiquei quieto, abri o verbo na defesa do Brizola. Todas as mentiras implantadas nas midiotas ficaram nas mentes das pessoas. Não deixo por menos. Todas as personalidades brasileiras que tentaram educar o povo, foram perseguidas, presas, torturadas, banidas e exiladas: Graciliano Ramos, Anísio Teixeira, Josué de Castro, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Florestan Fernandes, Décio Freitas, Milton Santos, Maria Yeda Linhares, Manoel Maurício de Albuquerque e tantos outros. Depois que Brizola faleceu, muitas pessoas escreveram falando muito bem dele, principalmente no jornal O Globo.
O PDT ainda tem um projeto de nação?
O projeto de nação do PDT era seguir os ideais de Leonel Brizola. O nosso partido sempre se baseou num projeto de tornar o Brasil uma grande nação. Mas tem muitos políticos, empresários e banqueiros que só querem ver o lado deles. Os benefícios do governo sempre foram para atender a classe dominante, mas eles nunca se preocuparam para que o povo tenha um bom atendimento na saúde, educação, segurança, habitação, etc. É o eterno egoísmo dos tubarões capitalistas que só preocupam com suas famílias e parentes. Sempre se lixaram com o povo brasileiro. Para eles, o povo não existe, só para limpar as privadas deles.
Como o senhor recebeu a notícia da cassação do mandato de governador de Jackson lago, ocorrida em 2009?
O jagunço herdeiro das capitanias hereditárias do Maranhão, o capitão do mato José Sarney jamais se conformou ser derrotado pelo grande político Jackson Lago. As midiotas locais fizeram de tudo para destruir o governador eleito pelo povo maranhense. O Sir Ney sempre mandou e desmandou há décadas no Maranhão. E ainda teve os camelôs togados subservientes na corte para condenar o nosso Jackson Lago. É a repetição do coronealismo que sempre teve no Brasil, graças a ignorância do nosso povo. Nunca tiveram interesse em educar o povo, para continuar obedecendo os coronéis de plantão no seus currais.
Você acompanhou a disputa pelo controle do partido no Maranhão entre o filho do ex-governador Jackson Lago e deputado federal Weverton Rocha, homem ligado ao ex-ministro Carlos Lupi?
Não acompanhei e não posso comentar.
Fale um pouco do seu mais novo livro “Eternas Lutas de Edmundo Moniz”?
Conheci o Edmundo Moniz durante as manifestações pela Anistia na ABI ou nos aniversários de Luiz Carlos Prestes. Era fácil reconhecê-lo, pois estava sempe com uma camisa vermelha. Em 1983, fui tabalhar na assessoria de imprensa de Darcy Ribeiro, quando foi secretário estadual de Cultura e vice-governador de Leonel Brizola. Eu trabalhava pela manhã e na parte da tarde, ia para a sala do Edmundo Moniz, que era subsecretário, onde encontrava o chefe de gabinete, o meu querido e saudoso amigo Cursino Raposo, jornalista maranhense. E passavam por lá: o brigadeiro Francisco Teixeira, do Ministério da Aeronáutica do Jango; o brigadeiro Ruy Moreira Lima, que comandou a Base Aérea de Santa Cruz; o capitão Eduardo Chuhay , ajudante de ordens do Jango, o coronel Wilson Fadul, que foi ministro da Saude de Jango; e o coronel Alan Kardec, todos cassados pela ditadura militar. Ouvia aquelas conversas todas, mas nunca gravei nada e nunca tirei uma foto, lamentavelmente. Depois, fui assessor de imprensa de Edmundo Moniz na secretaria estadual de Cultura, no segundo governo do Brizola (1991/3), pois Brizola saiu para a campanha presidencial e Edmundo Moniz saiu com ele. Mas sempre sonhei em contar a história da vida dessa personalidade importante da política e cultura brasileiras. Era um dos gurus das esquerdas brasileiras. Quando veio da Bahia, na década de 30, fez parte da organização do I Congresso Estudantil e Operário no Rio de Janeiro, ao lado de Jorge Amado e Carlos Lacerda, que depois virou o corvo direitista. Fundou o movimento trotskista com o escritor e crítico de arte Mário Pedrosa. Edmundo esceveu uns 16 livros, peças teatrais, dirigiu o Serviço Nacional do Teatro, nas gestões de Juscelino Kubitschek e Jango Goulart. Em novembro do ano passado fizemos a comemoração do centenário e lancei o livro sobre a vida e obra do Edmundo Moniz, na ABI. (Blog do Robert Lobato)
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