domingo, 20 de novembro de 2011

MEIO AMBIENTE:O Brasil está pronto para o pré-sal?


Bolívar Torres

Os estragos provocados pelo vazamento da Bacia de Campos, no litoral norte do estado do Rio de Janeiro, ainda não podem ser avaliados em toda sua extensão. Mesmo se o volume de óleo acumulado na área (em torno de 521 a 882 barris, ou 140 mil litros) é considerado moderado por autoridades, ambientalistas e articulistas estão preocupados com o que o acidente pode significar para o futuro. O fato é que, nos últimos anos, o Brasil tem assumido metas ousadas na exploração do petróleo. Mas estaria o país apto em sua busca em profundidades cada vez maiores?

“Por razões eleitorais, o governo brasileiro politizou a questão do petróleo, dando a entender que iria resolver todos os problemas do país”, avalia Adriano Pires, especialista em energia. “Mas a verdade é que não é tão simples transformar o petróleo em riqueza. Acidentes como o da Bacia de Campos mostram todos os obstáculos que o governo escondeu”.

A exploração do petróleo envolve riscos altos para qualquer país, e não é raro que a dádiva se transforme em maldição.

“O risco potencial de acidentes aumenta à medida que se consegue uma bacia tão grande como a do pré-sal”, observa o oceanógrafo David Zee. “O volume não é mais um curso e sim dezenas de perfurações”.

Quando aumentam o número de poços, aumenta também a taxa de risco. Para Pires, isso não significa que o país deva abandonar a política de exploração, mas sim dotá-la de leis mais rigorosas e uma maior transparência.

“Não podemos repetir a visão xiita do setor elétrico, que é determinada unicamente por questões de risco ambiental”, compara. “O que deve determinar a expansão de um setor é uma variante que envolve, sim, questões ambientais, mas também de custo e outras vantagens. Agora, o vazamento é um alerta que revela uma necessidade de uma política ambiental mais transparente, de mais condições aos órgãos e maior capacitação pessoal”.

Pires ressalta a importância de uma legislação mais moderna, como acontece em outros países.

“Se no Brasil temos de 20 a 30 vazamentos por ano, somos obrigados a criar uma política mais adequada à nossa situação”, explica. “Acidentes ambientais preveem multas de 7 a 50 milhões de reais, e prisão de um a três anos. Isto não é nada.”

É quase unanimidade entre ambientalistas que melhorias na legislação não têm avançado no ritmo da corrida pelo pré-sal. Aristides Sofiati, da Universidade Federal Fluminense (UFF), declarou ao site R7 temer que “a ansiedade com a grande quantidade de poços de petróleo na região tornem as empresas menos atentas à segurança nas escavações”. Zee por sua vez, questiona a origem do acidente, que teria sido causado por uma rachadura no solo.

“Se foi causado por fissuras no solo, por que os riscos não foram detectados pelos estudos de impacto ambiental?”, indaga Zee. “Varredura sísmica é a primeira coisa a ser levada em conta em um estudo prévio. Os estudos de impacto deveriam ser mais específicos, e não protocolares”.

A corrida pelo pré-sal prevê a exploração em profundidades cada vez maiores. De 400 metros passou para 1200 metros (onde ocorreu o vazamento da Bacia de Campos), e, em breve, pretende atingir os 2 mil metros.

“Nenhuma empresa do mundo está pronta para isso”, afirma Zee. “É só ver o que aconteceu no Golfo do México, que ficou quatro meses vazando. A 1200 metros da superfície, é como estar em um outro planeta. Em ambientes como esses, um problema simples, como um parafuso solto, toma outra proporção”.

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