domingo, 6 de junho de 2010

Eficácia de equipamentos e planos de emergência do pré-sal é questionada


"Existe hoje um grande ponto de interrogação sobre a segurança do uso da tecnologia atual nas condições adversas do pré-sal." A frase, de um executivo próximo às operações da maior província petrolífera brasileira, resume a principal preocupação do setor sobre a possibilidade de vazamentos como o do Golfo do México ocorrerem no Brasil. Confiabilidade de equipamentos e eficiência dos planos de emergência são apontados como os pontos cruciais.

É consenso no mercado que a Petrobrás tem hoje uma atuação conservadora no que diz respeito à segurança operacional, estratégia reforçada após três catástrofes no início dos anos 2000: o naufrágio da plataforma P-36, na Bacia de Campos, e os vazamentos de petróleo na Baía de Guanabara e no Rio Paraná. Desde então, a companhia afirma ter investido R$ 4,2 bilhões no Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional, além de construir nove centros de defesa ambiental.

Um incidente no projeto piloto de produção de Tupi, porém, trouxe à tona dúvidas sobre o uso de equipamentos atuais nas altas profundidades do pré-sal. Em julho de 2009, um parafuso instalado em um equipamento submarino não resistiu às altas pressões e se rompeu, obrigando a Petrobrás a suspender as operações no campo. Após diagnosticar a situação, a empresa decidiu rever as especificações para a fabricação da peça, com material mais resistente.

O episódio não provocou danos ambientais, mas foi encarado como um indicativo da necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias para garantir a segurança das operações. O Brasil é hoje líder em atividade exploratória em águas profundas, e a Petrobrás espera produzir só no pré-sal uma média de 1,8 milhão de barris por dia em 2020. A alta produtividade dos poços reforça o alerta, já que um acidente como o da plataforma Deepwater Horizon, no Golfo, poderia liberar mais de 30 mil barris de petróleo por dia.

Nova fronteira. O diretor de tecnologia e inovação da Coppe/UFRJ, Segen Estefen, destaca o desafio da nova forma de exploração. "O pré-sal implica grandes lâminas d"água (distância entre a superfície e o leito do mar), grandes profundidades de poço e baixas temperaturas." Os poços chegam a ultrapassar os 6 mil metros de profundidade de água e rocha, em lâminas d"água com mais de 2 mil metros.

Logo após o acidente no Golfo do México, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) enviou às petroleiras que operam no País um questionário pedindo informações sobre a segurança das atividades. A medida teve como objetivo fazer um levantamento da qualidade dos equipamentos e procedimentos adotados e será a base para um diagnóstico sobre as condições de segurança da atividade petrolífera em alto mar no País, já sob a ótica do acidente no Golfo.

Responsável pela fiscalização das plataformas brasileiras, em convênio com a Marinha, a ANP avalia como satisfatórias as condições para o nível de atividade na costa brasileira. Tanto a ANP quanto a Petrobrás evitam comentar o acidente ocorrido no Golfo do México enquanto as causas não forem conhecidas.

Em apresentação na Câmara dos Deputados no mês passado, executivos da Petrobrás disseram que as equipes estão aptas a chegar a qualquer ponto de atuação no País em, no máximo, 24 horas. Se a distância for de 400 quilômetros - suficiente para a Bacia de Campos e o pré-sal - o tempo cai para oito horas.

Mesmo assim, a questão dos planos de emergência é outra preocupação do mercado. Isso porque a produção do pré-sal será feita a cerca de 300 quilômetros da costa, em condições climáticas adversas, que podem facilitar o espalhamento do óleo por variadas direções.

O acidente com a Deepwater Horizon mostrou que os procedimentos conhecidos para estancar o fluxo de petróleo não têm sido eficazes em profundidades mais altas. "Muitos dos procedimentos que estamos tentando já foram feitos à superfície, mas nunca a uma profundidade superior a 1,5 mil metros", alertou a British Petroleum.

"Nenhum país estaria preparado para um vazamento como esse. Muitas coisas vão mudar", diz um executivo do setor.

0 comentários :

Postar um comentário

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | belt buckles