segunda-feira, 22 de março de 2010

A Opus Dei e a imprensa brasileira

Guilherme da Cunha Pereira

Em 16 de janeiro de 2006, a revista Época em sua edição nº 400, publicou matéria de capa sobre o Opus Dei, onde, sem alarde ou sensacionalismo, apresentou uma entrevista com Carlos Alberto Di Franco, influente numerário, representante da Universidade de Navarra (Espanha) no Brasil e responsável por um programa de pós-graduação em Jornalismo que já teria formado 200 editores brasileiros, tornando-os simpáticos às idéias da organização.

Di Franco não se preocupa em se identificar como membro do Opus Dei, pois em suas próprias palavras, "na mídia todo mundo sabe". Todavia, o que talvez toda a mídia não saiba é que ele, a Navarra, e o programa Master de capacitação estão vinculados à consultoria Innovation International Media Consulting de Miami, à Sociedad Interamericana de Prensa e à ANJ (Associação Nacional de Jornais), entidades com notórios vínculos com a Igreja Católica em geral e com o Opus Dei em particular.

Em seu trabalho intitulado “Os amos da SIP” o jornalista Yaifred Ron fez um histórico assustador desta entidade. Conforme comprova, “a Sociedade Interamericana de Imprensa é um cartel dos grandes donos de meios de comunicação do continente, que nasceu nos marcos da II Guerra Mundial e se moldou no calor da Guerra Fria para protagonizar uma história de defesa dos interesses oligopólicos, de aliança com os poderes imperiais e de atentados contra a soberania dos povos latino-americanos”. Com base em inúmeros documentos, ela prova que a entidade tem sólidos e antigos vínculos com a Opus Dei e a temida CIA.

Atualmente, o maior temor da SIP decorre das mudanças legislativas que objetivam democratizar os meios de comunicação na América Latina. Qualquer iniciativa que vise regulamentar o setor e diminuir o poder dos monopólios é taxada de “atentado à liberdade de imprensa”. Como informa Yaifred, “para frear qualquer ação governamental que favoreça a democratização da mídia, a SIP se uniu a outra entidade patronal regional, a Associação Interamericana de Radiodifusão (AIR)”. Ambas declararam guerra as mudanças legislativas em curso na Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina. O “fórum de emergência” faz parte desta cruzada antidemocrática e desesperada da máfia da mídia.

Carlos Alberto Di Franco, 60 anos, é um dos numerários mais influentes e bem relacionados do Opus Dei. Representante no Brasil da Escola de Comunicação da Universidade de Navarra e diretor do Master em Jornalismo, um programa de capacitação de editores que já formou mais de 200 cargos de chefias dos principais jornais do País, é citado no livro Opus Dei - Os Bastidores como o executor da política da Obra para a mídia do Brasil e na América Latina.

O segundo homem da Opus Dei na imprensa brasileira é o também numerário Guilherme Doring Cunha Pereira, herdeiro do principal grupo de comunicação do Paraná ("Gazeta do Povo"). Os jornalistas Alberto Dines e Mário Augusto Jakobskind denunciam que a organização controla também a Sociedade Interamericana de Imprensa – SIP (na sigla em espanhol). Sediada na Espanha, a Universidade de Navarra é a jóia da coroa da Opus Dei no negócio do ensino. Sua receita anual é de 240 milhões de euros. Além disso, a Obra controla as universidades Austral (Argentina), Montevideo (Uruguai), de Piura (Peru), de Los Andes (Chile), Pan Americana (México) e Católica André Bello (Venezuela).

O jornalista Fábio Carvalho, de Porto Alegre reparou, ao ler a reportagem, que na tabela em que foram apresentados os veículos que mais enviaram alunos para o Master em Jornalismo, os jornais do grupo RBS não foram agrupados, o que gerou uma distorção. Assim, quando são somados os jornalistas do Zero Hora (7) aos do Diário Catarinense (1), O Pioneiro (1), Diário de Santa Maria (1) e Diário Gaúcho (2) – todos da RBS –, o total de masterianos é 12, o que coloca o grupo em segundo lugar no ranking, à frente da Gazeta do Povo, da Editora Abril e dos jornalistas free-lancer. O Grupo Estado, no qual do diretor do Master Carlos Alberto Di Franco escreve regularmente em seu principal jornal, continua liderando a lista com 13 alunos.
Carvalho também aponta em sua carta que Guilherme Döring Cunha Pereira, diretor da Rede Paranaense de Comunicação, que publica a Gazeta do Povo, "é numerário da prelazia, professor do Master em Jornalismo, tratado como colaborador íntimo de Carlos Alberto Di Franco pelo sítio dos dissidentes da Obra, o Opus Livre". Segundo o jornalista e leitor do OI, Pereira é descrito no site "como "pessoa de alma nobre e sensível, inteligência brilhante, fino senso estético, um verdadeiro aristocrata, introvertido.

A Opus Dei, no entanto, continua apresentando a sua velha camuflagem quando inicia seu trabalho numa nova cidade. Uma imagem de liberdade e vigor, através da exposição de alguns (poucos) de seus membros mais brilhantes (essa restrita minoria, sim, goza de alguma liberdade), como o jornalista Carlos Alberto Di Franco, ou o bispo D. Rafael Llano Cifuentes, ou o empresário Guilherme Döring da Cunha Pereira,herdeiro de um dos mais importantes grupos de imprensa escrita e televisiva do sul do país, da RPC, ou de jovens membros naturalmente simpáticos, que servem de “isca” para novos ingênuos.

A realidade, porém, por trás de seus muros, é a de uma estrutura fortemente hierarquizada, e uma crescente frustração de seus membros mais antigos, que viram a redução de seu sonho de juventude à observância minuciosa de um emaranhado de milhares de regrinhas e proibições que geram falsos escrúpulos, culpas, medos. etc.

O contato com sites da Internet onde ex-membros relatam as suas experiências, no mais das vezes dolorosas, poderia ter o dom de desmascarar os fundamentos dessa seita, de desvelar a realidade de um mundo que deveria ser avaliado como ele realmente é, e não sob o viés tacanho do Opus Dei, de mostrar outras opiniões que, verdadeiras ou falsas, devem ser conhecidas, de propiciar a gênese do pensamento independente, inteligente e criativo. Ao negar essa possibilidade, o Opus Dei considera seus membros como eternas crianças, incapazes de decidir, por si mesmas, o que vem a ser o Bem e o Mal.

Fontes:

- Maria Amália Longo Tsuruda, Doutoranda FEUSP (História da Educação)

- CMI Brasil

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