quinta-feira, 28 de julho de 2011

Com demissão na Conab, "limpa" de Dilma chega ao PMDB

Depois da “faxina” no Ministério dos Transportes, comandado por integrantes e aliados do Partido da República (PR), a “limpeza” promovida pela presidente Dilma Rousseff chegou ao PMDB. Sem alarde, o Diário Oficial da União publicou ontem a exoneração do diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Jucá Neto teria liberado irregularmente um pagamento de R$ 8 milhões. O substituto ainda não foi escolhido.

A demissão do irmão do líder do governo no Senado ocorre após uma desavença dentro do próprio PMDB, com potencial para desarticular a base aliada, já desgastada diante da crise com o PR. Jucá entrou em rota de colisão com o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, de quem é subordinado. Rossi foi indicado para o cargo pelo vice-presidente Michel Temer, que é presidente licenciado do PMDB. A briga, assim, envolve dois peemedebistas peso pesados: Temer e Jucá.

Rossi acionou a Advocacia-Geral da União (AGU) para bloquear o pagamento de R$ 8 mi­­lhões à empresa de armazenagem Renascença, autorizado por Jucá Neto.

Conforme denúncia publicada na revista Veja, o ex-diretor da Conab, com apenas duas semanas no cargo, aproveitou-se da ausência do presidente do órgão, Evangevaldo Pereira dos Santos, que estava numa reunião fora, para autorizar o pagamento de uma fatura antiga em favor da Renascença. Rossi também estava em viagem oficial à França. Apressado, o diretor não percebeu que o dinheiro utilizado estava na rubrica de um fundo (Programa de Garantia de Preço Mínimo), que só pode ser usado para comprar alimentos.

Chamado a dar explicações pelo chefe Evangevaldo, na presença do ministro, Jucá Neto disse, sem rodeios, que havia uma ordem judicial transitada em julgado e apenas cumpriu sua obrigação. Os dois se sentiram traídos e argumentaram que aquela não era uma decisão que cabia a ele, mas o diretor demitido ignorou. O dinheiro está depositado em juízo porque a Conab conseguiu, a tempo, impedir a transferência ao destinatário. A empresa, conforme a revista, estaria em nome de laranjas, um deles um trabalhador sem teto.

O ministro e o presidente da Conab, mesmo correndo o risco de retaliações políticas, mandaram uma nota técnica à Controladoria-Geral da União (CGU) pedindo abertura de auditoria e, se for o caso, de um processo administrativo disciplinar (PAD) contra o diretor insubordinado. A CGU abriu a auditoria e deve divulgar o resultado em breve. O caso abre precedente para a AGU questionar até a legitimidade da dívida e mover ação para seu cancelamento na Justiça.

Desconfortável

O episódio deixou Jucá em situação desconfortável, mas nem PMDB nem PT avaliam que isso inviabilize sua permanência na liderança do governo no Senado. Em conversas reservadas, até amigos do líder admitem que o caso “desgasta e abala” o prestígio dele, mas não a ponto de lhe tirar o cargo. A cúpula do PMDB não têm dúvida de que Jucá Neto, ao final, responderá a processo e provavelmente será punido por improbidade administrativa, prolongando o desgaste do irmão. O que o PMDB não aceita, diz um dirigente da legenda, é que “queiram contaminar a autoridade de Jucá por conta deste problema”.

O líder do PT no Senado, Hum­­berto Costa (PE), afirma que ninguém de sua bancada fará pressão sobre o governo para tomar o lugar de Jucá na liderança.

Sem imunidade

Sem citar o caso de Jucá Neto, Michel Temer disse ontem que o PMDB não está imune à “faxina” que a presidente Dilma está promovendo no governo. Mas ressaltou por duas vezes que a fiscalização deve ser exercida sobre “todos os partidos”.

“Fiscalização deve ser normal em relação a todos os partidos políticos que integram o governo. O PMDB, assim como todos os partidos, tem que se submeter aos regimes normais de controle”, disse ele.

A possibilidade de investigação de membros do PMDB em postos de comando no governo começou a circular nos bastidores políticos após a crise no Ministério dos Transportes, que derrubou, até agora, 18 pessoas, a maioria ligada ao PR. Os rumores de que peemedebistas poderiam ser os próximos alvos da presidente trouxeram desconforto à base do governo. Parte do PMDB acredita que alas do PT teriam dado início à boataria para colocar o partido sob suspeição.

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