segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Reportagem do Fantástico denuncia fraude de combustível em Curitiba

Reportagem no programa Fantástico deste domingo (9) revela fraude nos postos de combustíveis em São Paulo, Rio de Janeiro e no Paraná. No golpe, o consumidor compra o combustíve e não leve tudo o que paga e nem desconfia do golpe. Para o teste, Fantástico contou com um equipamento especial para o carro da reportagem. É um tanque de combustível de 20 litros, o volume padrão regulamentado para testes. Ele é todo transparente, para que você possa acompanhar em tempo real o roubo no posto de gasolina.

Em São Paulo e no Rio de Janeiro, os técnicos constataram o golpe. Em São Paulo, um posto botou a menos 1.350 ml de gasolina, além de vender gasolina adulterada com maior porcentual de álcool que o recomendado.. “Foi constatado 64% de teor de etanol na gasolina. Isso é irregular. O máximo é 21%”, disse o coordenador técnico Evair Missiaggia na reportagem. Em um dos postos testados pelo Fantástico, no Rio de Janeiro, a situação é pior ainda. A fraude chegou a 12%. Significa que para encher um tanque de 50 litros, o consumidor é roubado em seis litros.

No Paraná, para investigar o submundo do mercado de combustíveis no Brasil, o repórter Eduardo Faustini assumiu o comando de um posto que fica em uma das principais ruas de Curitiba, durante dois meses. Lá, ele recebeu todo tipo de proposta para golpes. Conseguiu comprar etanol por um preço abaixo do mercado e sem nota. Em dois postos, a reportagem também flagrou roubo na quantidade de combustível vendido ao consumidor.

Em vários postos flagrados roubando o motorista, a reportagem do Fantástico ouviu o mesmo nome de um técnico em manutenção. O repórter Eduardo Faustini, no papel de dono de uma rede de postos interessada na fraude, faz contato com Cléber. E, sem saber que estava sendo gravado, Cléber Salazar foi ao posto fechado e entregou a fraude, chamada de bico:


Repórter: Gastaria quanto por todas?
Cléber: É por bico, que lá a gente pega por bico.
Repórter: Faz o cálculo aí mais ou menos.
Ele faz o cálculo. Cada bico fraudado custa R$ 5 mil.
Cléber: R$ 90 mil! R$ 90 mil para instalar uma fraude acionada por controle remoto. A placa é o circuito eletrônico que controla a bomba de combustível.
Repórter: Mas você está usando a minha placa ou a sua placa?
Cléber: Não, eu não uso a sua placa. A gente tira aquela placa e põe outra.
Daqui a pouco você vai ver como ela é adulterada.
Repórter: Você faz a manutenção disso?
Cléber: Isso. Aí nós vamos acertar um mínimo por mês. Um xis lá por mês. Para eu cuidar pra você, te avisar. Cuidado, vai lá, vem cá, entendeu?
Na despedida, Cléber já está à vontade.
Golpe de ‘alto escalão’
Cléber: Você está em Curitiba, no Centro de Curitiba, olha o tamanho do posto. Agora você coloca o "bororó" para rodar. Em três meses, está pago. O resto da sua vida, você vai ganhar dinheiro.
Repórter: Qual a chance de dar errado?
Cléber: Nenhuma. Nenhuma. Zero. Pode mandar matar eu!
Cléber afirma que tem acesso a informações sobre a fiscalização em Curitiba.
Repórter: A sua assessoria vai até aonde?
Cléber: Até no alto escalão. Que avisa a gente quando está passando, quando não tá passando. Entendeu?
Repórter: Não tem chance de dar errado. O cara tirar umas férias.
Cléber: Sempre tem de estar um com o "negócio".
O "negócio" a que ele se refere é o controle remoto, que pode ficar num bolso. Com um toque, o fraudador arma e desarma o esquema, na hora que quiser.
Cléber: O cara tem de estar plantado aqui. Se chega o "tiozinho" que fala "ah, não deu...", vamos lá aferir. Vai dar certo.
"Tiozinho" é como o consumidor, que fica de bobo na história, é tratado por Cléber Salazar.
Cléber: Negoção da China, parabéns.
Outro lado
Depois dessa gravação, procuramos Cléber para uma entrevista.
André Luiz Azevedo: O senhor desconhece que os postos que o senhor atende fornecem menos combustível do que o que marca na bomba?
Cléber: Com certeza. Absurdo. Nunca vi isso aí.
André Luiz Azevedo: É porque é uma denúncia e eu estou querendo conversar com o senhor. O senhor me retorna em quanto tempo?
Cléber: Daqui a uns dez minutos eu já falo contigo aí.
O prazo não foi cumprido. Até que Cléber finalmente marca o encontro. Ele não sabe que toda a oferta da placa fraudadora foi filmada, nem que comprovamos o golpe em postos onde ele trabalha.
André Luiz Azevedo: O senhor é credenciado no Inmetro, no Ipem? O senhor pode mexer nas bombas livremente?
Cléber: Eu tenho o certificado do Inmetro, que está aqui, válido até abril de 2012. Eu tenho autorização pra mexer nas bombas, qualquer tipo de bomba.
André Luiz Azevedo: Nós viemos a Curitiba, porque nós recebemos uma denúncia que o senhor vende uma placa que é colocada na bomba e, com essa placa, há uma fraude na hora de abastecer o carro do consumidor. O senhor não vende essa placa fraudadora?
Cléber: Absurdo isso aí, absurdo.
André Luiz Azevedo: Essa denúncia de que o senhor vende uma placa que frauda a bomba de combustível, o senhor nega isso?
Cléber: Eu nego, é um absurdo.
André Luiz Azevedo: o senhor fornece atendimento pra quantos postos aqui na região.
Cléber: São vários postos.
André Luiz Azevedo: Quantos?
Cléber: Em torno de uns 30, 40 postos aí. (Bem Paraná)

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