quinta-feira, 17 de março de 2011

Catástrofe no Japão vai provocar aumento dos preços dos seguros em todo o mundo?

A Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, não vê, em princípio, impacto imediato da tragédia ocorrida no Japão sobre os mercados segurador e ressegurador brasileiros. O diretor técnico da Susep, Alexandre Penner, disse hoje (16) à Agência Brasil que, do mesmo modo, não vislumbra no curto prazo um movimento de recálculo dos riscos pelas seguradoras em todo o mundo.

“Eles vão avaliar o risco e ver se o prêmio que se cobra hoje é suficiente para fazer frente, por exemplo, a um risco nuclear”. Ele explicou que cada sinistro de grandes proporções leva seguradoras e resseguradoras a verificar quais são os efeitos do evento e se existe alguma consequência que não tenha sido levada em conta anteriormente. “Pode haver alguma mudança ou no cálculo ou na precificação do produto. Mas eu diria que ainda é muito cedo para essa conjectura”.

Penner recordou que o terremoto que desencadeou a catástrofe no Japão, registrado na última sexta-feira (11), não foi um evento exclusivo. “Periodicamente ocorre”. A diferença é que a globalização possibilita que se tenha informações de forma mais imediata e com mais detalhes, ponderou. “Como não se trata de algo novo, não há necessidade de revisão urgente dos contratos porque eles, certamente, já estão prevendo grande parte desses desastres”.

De forma geral, a maioria dos contratos de seguros exclui eventos catastróficos ou desastres naturais. Alexandre Penner informou que atualmente, existe uma demanda dos segurados, em termos mundiais, para que se inclua esse tipo de cobertura. “Uma vez que se inclua essa cobertura, definitivamente teria que se fazer um recálculo de preços. Mas não é essa a proposta do seguro”.

Já o economista Keyton Pedreira, especializado na área de seguros e previdência, disse à Agência Brasil não ter dúvidas de que os três eventos que ocorreram no Japão (terremoto, tsunami e acidente em usina nuclear) irão provocar aumento nos preços de todas as coberturas do mundo. “As seguradoras e, principalmente, as resseguradoras começarão a precificar os riscos, considerando eventos como esse que ocorreu no Japão, de catástrofes climáticas múltiplas. Então, há uma tendência forte de aumento nos preços nos seguros em nível mundial”.

Segundo o economista, o aumento teria por meta recompor as perdas que as grandes seguradoras e resseguradoras terão no Japão e, também, precificar para o futuro eventos semelhantes. O aumento dependerá da apuração completa dos danos no Japão. Apesar disso, Pedreira estimou que os aumentos nos preços de seguros em nível mundial poderão ficar, em média, entre 8% e 10%. Advertiu, entretanto, que isso vai depender do país, da região e do risco analisado. “Mesmo as regiões que, em princípio, estariam imunes a essas ocorrências, a exemplo do Brasil, sofrerão algum impacto. Porque as seguradoras pesarão de alguma maneira essa possibilidade pequena nos riscos. E o que hoje é marginal, terá um peso mais significativo nos países onde essas ocorrências são raras ou têm menor probabilidade de ocorrência”, analisou.


Catástrofe no Japão já é o maior evento do mundo em indenizações de seguro

As catástrofes registradas no Japão a partir da última sexta-feira (11) representam o maior evento de consequências indenizatórias do mercado segurador e ressegurador mundial, superando, inclusive, os atentados de 11 de setembro de 2011, nos Estados Unidos, cujas perdas somaram em torno de US$ 120 bilhões.

A afirmação foi feita hoje (16) à Agência Brasil pelo presidente do Comitê Ibero-Latino-Americano da Associação Internacional de Direito de Seguro (Cila-Aida), Sérgio Barroso de Mello. “Não há dúvida de que estamos superando esses números em muito, porque trata-se de um país que era, até bem pouco tempo, a segunda maior economia do mundo. Um país desenvolvido, com uma cultura do seguro muito forte, em que não só os bens eram segurados, mas as pessoas também tinham seus seguros individuais em capitais elevados”. A consequência natural é a busca desses segurados pelas indenizações, disse.

Depois dos Estados Unidos, o Japão é o maior produtor e consumidor de seguros do mundo. Sergio Mello avaliou que, diante dos três sinistros sofridos pelo Japão (terremoto, tsunami e vazamento de radiação nuclear), o impacto patrimonial no setor segurador e ressegurador mundial “vai ser, com certeza, o maior de todos”.

Descartou, contudo, o risco de insolvência para as empresas do setor, tal como sucedeu nos atentados contra as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, em 2001. “O seguro não é uma operação financeira. Ele é uma verdadeira ciência”. Algumas variantes utilizadas pelo setor para a avaliação do risco e sua precificação são a ciência atuarial e a pulverização de riscos. Mello explicou que essas variantes funcionam como amortizador, “um verdadeiro colchão dos prejuízos”. Isso se aplica sobretudo às operações do resseguro (seguro do segurador) e da retrocessão, que é o seguro do ressegurador.

Ele afirmou que a pulverização dos riscos em nível mundial vai facilitar o pagamento das indenizações, sem consequências danosas sobre um grupo pequeno de seguradores. Ao mesmo tempo, vai evitar uma insolvência individual e coletiva. Mello assegurou, contudo, que o impacto vai ser grande. “Muitas reservas precisarão ser utilizadas para fazer face a essas despesas”. Em relação a preços, informou que eles se baseiam na probabilidade de ocorrência de certos sinistros e no seu grau de severidade. No caso dos seguros japoneses, eles já trabalham com essas possibilidades de maneira preventiva em diversas linhas.

A exceção verificada no Japão, em que o terremoto provocou um tsunami e um acidente nuclear, será suficiente para influir no aumento do preço tanto do seguro como do resseguro. “Pode ser que algumas linhas de negócios, como riscos nucleares, sequer encontrem condições de serem segurados, porque podem se tornar, como se nota, um risco extremamente elevado. Um risco catastrófico, de proporções que o mercado segurador pode não querer mais aceitar”, observou.

Ele acredita que alguns mercados e, em especial, o nuclear, podem sofrer uma consequência ainda maior em relação ao prêmio do seguro que vai aumentar para todas as unidades industriais em âmbito mundial. Citou o caso dos Estados Unidos, da França e da Alemanha. “São países que vão sentir um aumento de prêmio substancial na área nuclear nos próximos dois a três anos”.

O presidente do comitê da Aida revelou que as exceções são mais comuns de acontecer do que se pensa. Um estudo usado durante décadas pela empresa resseguradora Swiss-Re para precificar coberturas para furacões previa que a probabilidade era de dois furacões em escala máxima (grau 5 Beaufort) aparecerem com intervalo de dez a 12 anos entre um e outro. Esse estudo perdeu a credibilidade em 2005, quando o furacão Katrina devastou o Sul dos Estados Unidos, em agosto, seguido pelo furacão Wilma, que assolou o Caribe mexicano e os Estados Unidos em outubro do mesmo ano.

“Você nota que um estudo feito dezenas de anos antes sofreu uma exceção, capaz de gerar um consequente aumento de preços naquela região, para poder recompor as reservas dos seguradores que foram comprometidas por aqueles dois eventos em série”.

Sergio Mello aposta, entretanto, que as autoridades japonesas conseguirão controlar o risco de catástrofe nuclear, possibilitando ao país se recuperar com rapidez. Avaliou que a cultura do seguro no Japão contribuirá para que isso ocorra em breve tempo, mais do que em qualquer outro país, porque o fluxo financeiro é mais rápido. A expectativa é que, após a reconstrução do Japão, o mercado local se tornará ainda mais consumidor de seguros. O mesmo se verificou na região de Manhattan, em Nova York, que viu crescer a busca por seguros nas linhas industriais, empresariais e individuais após os atentados de 11 de setembro de 2011.

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