A presidente Dilma Rousseff ficou irritada com o teor do relatório divulgado ontem pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). No texto, assinado pelo economista-chefe da entidade, Rubens Sardenberg, a conclusão é de que os bancos não elevariam a oferta de crédito no país de maneira significativa, como o governo pretende, com o intuito de alavancar o crescimento econômico.
O economista chegou a dizer que "você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não pode obrigá-lo a beber água", numa referência velada à ofensiva do governo de forçar o aumento do crédito e a queda dos juros e spreads, apesar dos índices de inadimplência elevados. Um interlocutor próximo da presidente rebateu a declaração de Sardenberg dizendo que "o cavalo poderia morrer de sede". A notícia sobre o teor da nota da Febraban e a reação palaciana foi publicada nesta terça-feira pelo GLOBO.
O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, telefonou hoje de manhã para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tentando contornar a reação negativa que o relatório provocara e reafirmou a disposição de colaborar com o governo no esforço para a ampliação do crédito e o crescimento econômico. Diante da irritação de Dilma e seguindo sua orientação, Mantega avisou ao banqueiro que a retratação teria de ser pública, assim como foi a divulgação do relatório, e deu um prazo até o fim da tarde para a Febraban manifestar-se. Trabuco tentou explicar a Mantega, por telefone e por e-mail, que o relatório refletia uma realidade de mercado e não se tratava de uma tentativa do setor de bater de frente com o governo. Mas, no fim da tarde, a Febraban soltou nota desautorizando o relatório distribuído na véspera por Sardenberg.
No governo, a orientação foi para que nenhuma autoridade se manifestasse publicamente sobre a crise com a Febraban, pois o esforço a partir de agora é para acalmar os ânimos e dar o episódio como encerrado. Entretanto, a avaliação de fontes do governo é que a publicação do relatório foi a segunda falha da entidade. O primeiro mal-estar aconteceu com as declarações do presidente da Febraban, Murilo Portugal, cobrando medidas do governo para baixar o spread e exigindo o recebimento de créditos junto à Receita, em reunião no Ministério da Fazenda, em abril.
A retratação da Febraban:
Na tarde desta terça-feira, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) procurou minimizar a repercussão negativa causada na véspera por uma declaração do economista-chefe da entidade sobre a pressão do governo para forçar a queda dos spreads bancários.
Segundo a entidade que representa os grandes bancos privados do país, o relatório assinado pelo economista Rubens Sardenberg baseou-se em dados públicos e na pesquisa sobre expectativas e projeções e opiniões dos analistas, "que não podem ser interpretados como um posicionamento oficial da entidade".
Confira a nota na íntegra:
“A Febraban e os bancos associados estão comprometidos com a expansão vigorosa e saudável do crédito, que é a razão de ser do sistema bancário, e é fundamental para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. A Diretoria de Economia da Febraban produz o Informativo Semanal de Economia Bancária-Iseb há quatro anos. A edição 140, divulgada na segunda-feira, 7 de maio, trouxe uma análise da conjuntura do mercado de crédito baseada em dados e estatísticas públicos e na pesquisa sobre expectativas e projeções e opiniões dos analistas, que não podem ser interpretados como um posicionamento oficial da entidade ou de seus associados. A Febraban reitera sua crença em que um sistema financeiro saudável, ético e eficiente é condição essencial para o desenvolvimento econômico e social sustentável do país e reafirma sua disposição de trabalhar em conjunto com seus associados e o governo em prol do desenvolvimento do Brasil.” (AG)
0 comentários :
Postar um comentário