Joseph Ratzinger estava disposto a renunciar havia algum tempo por causa de sua idade avançada, mas só tomou a decisão diante de um dossiê de 300 páginas e capa vermelha, em dois volumes, com o levantamento sobre a existência de uma rede de prostituição que funcionava dentro do Vaticano e em suas cercanias, além de casos de corrupção. A informação é do La Repubblica.
O jornal italiano publicou que o dossiê foi elaborado por três cardeais — o espanhol Julián Herranz, o italiano Salvatore De Giorgi e o eslovaco Josef Tomko — designados por Ratzinger para uma investigação que durou nove meses. Tomko, 88, foi diretor do serviço de contraespionagem do Vaticano durante o pontificado de João Paulo II.
La Repubblica informou que o papa ficou abalado ao saber dos detalhes de uma descoberta de 2010: Angelo Balducci, então presidente do Conselho Nacional Italiano de Obras Públicas, telefonava com frequência para Chinedu Thiomas Eheim, um integrante do coro da Capela da Sacrossanta Basílica de São Pedro e que também atuava como agenciador de encontros homossexuais em uma sauna, entre outros locais fora de Roma, e em um endereço dentro do Vaticano.
O telefone de Balducci tinha sido grampeado pelo Vaticano porque se suspeitava que ele estivesse envolvido em corrupção, o que se confirmou. Mas não se esperava que o graduado funcionário estivesse envolvido em uma rede de prostituição, da qual também faziam parte seminaristas gays, de acordo com o jornal.
Em uma das ligações interceptadas, Eheim disse a Balducci: “Só digo que ele [garoto de programa] tem dois metros de altura, pesa 97 quilos, tem 33 anos e é completamente ativo”.
A sauna seria o local preferido de outros religiosos para encontros com amantes, o que o monsenhor Tommaso Sttenico já tinha admitido em entrevista ao canal La7 e foi suspenso de suas atividades por causa disso. Alguns bispos teriam sofrido "influência externa" (chantagem) de laicos com quem estabelecem laços de "natureza mundana", afirma o dossiê.
Ratzinger tomou conhecimento das conclusões “devastadoras” do dossiê no dia 17 de dezembro, embora o caso Balducci-Eheim tivesse sido noticiado com poucos detalhes em 2010.
Diante do documento, Bento 16 teria dito que o próximo papa, para acabar com essa degenerescência no seio da Igreja, precisaria ser “bastante forte, jovem e santo”.
O conteúdo do dossiê é que teria levado o papa a fazer declarações públicas como a de que “a fragilidade humana está presente também na Igreja”.
O explosivo documento está trancado em cofre em um aposento papal onde poucos têm acesso. A imprensa especula se ele será liberado pelo papa para os cardeais que participarão do conclave da escolha de seu sucessor.
Frederico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse que não confirmaria nem desmentiria a reportagem do La Repubblica. “A comissão [dos três cardeais] fez seu trabalho e entregou seu relatório nas mãos do Santo Padre como deveria ter feito.”
O site Petrus, jornal on-line sobre o pontificado de Bento XVI, confirmou no início da tarde a suspensão de monsenhor Stenico, que enviou uma carta ao veículo afirmando não ser homossexual e que agiu assim para "desmascarar os que são".
"Declarei ser homossexual para desmascarar os que realmente são", diz Tommaso Stenico, em meio à polêmica sobre o caso.
Na carta ao Petrus, monsenhor Stenico se define como alguém que fez o papel de "um ladrão entre os ladrões" para tentar "redimir as vítimas" do pecado, e afirma ter simulado sua homossexualidade para ajudar a Igreja, vítima de uma campanha contra os padres.
O porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, tentou minimizar o caso e disse que "os superiores tratam a situação com discrição e com o devido respeito à pessoa envolvida, inclusive se cometeu erros".
No entanto, o padre Lombardi admitiu que "as autoridades devem agir com a severidade exigida por um comportamento incompatível com o serviço religioso e a missão da Santa Sé".
Monsenhor Stenico era um dos líderes da Congregação para o Clero, um importante ministério do Vaticano responsável pelos cerca de 400.000 sacerdotes católicos em todo o mundo.
No mesmo programa de televisão, transmitido no dia 1º de outubro pela rede italiana La7, outros quatro religiosos assumiram sua homossexualidade.
Na ocasião, as câmeras não exibiram seus rostos e suas vozes foram modificadas para torná-las irreconhecíveis, mas monsenhor Stenico cometeu o erro de receber a equipe de reportagem em seu escritório no Vaticano, que foi reconhecido por vários membros da Santa Sé, segundo o jornal La Repubblica.
No programa, o religioso disse que não se sentia um pecador, mas afirmou que se mantinha discreto para não ser repreendido por seus superiores, acrescentou o jornal.
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