Uma ação inédita que resultou na apreensão de quase 400 tartarugas vivas de espécies ameaçadas de extinção, entre elas a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), acaba de ser concluída pela Superintendência da Polícia Federal (PF) em Roraima.
Os animais seriam vendidos em Boa Vista e, principalmente, em Manaus. A carne da tartaruga é apreciada na região amazônica. O consumo aumenta no Natal, pois é hábito local preparar na ceia pratos à base de tartaruga.
A quantidade de animais encontrados e a crueldade com que eram tratados pelos caçadores, chamados de tartarugueiros, surpreendeu os dois delegados e seis agentes federais deslocados para a região do Baixo Rio Branco, afluente do Rio Negro, formador do Rio Amazonas.
As maiores tartarugas, com peso entre 50 kg e 65 kg e idade presumida de 100 anos, ficavam fora da água, com o casco para baixo, imobilizadas. As menores, amontoadas às dezenas em currais improvisados na mata, estavam sem acesso a alimento e água.
A equipe da PF, que teve o apoio de um profissional do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e outro do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), devolveu ao Rio Branco e afluentes 362 tartarugas vivas. Foram achados 16 animais mortos em consequência dos maus-tratos.
Os policiais queimaram sete embarcações, grande quantidade de redes de pesca e material variado em acampamentos abandonados às pressas pelos tartarugueiros. Sete deles foram presos, mas já estão soltos, após pagamento de fiança no valor de 1 salário mínimo.
A expedição partiu de Boa Vista em embarcação utilizada por pesquisadores, jamais por fiscais e policiais. A intenção era manter sigilo, já que a presença de grupos de fiscalização costuma ser rapidamente disseminada ao longo do Rio Branco.
A estratégia foi vitoriosa. Os tartarugueiros foram surpreendidos em vários trechos ribeirinhos, na altura dos municípios de Caracaraí e Rorainópolis, em margens opostas do rio. São áreas no sul de Roraima, quase na divisa com o Amazonas, que deveriam ser de acesso restrito, pois banham dois santuários naturais, o Parque Nacional do Viruá e a Estação Ecológica de Caracaraí.
Batizada de Operação Pimenta - homenagem a José Santos, o Zé Pimenta, um estudioso dos quelônios da Amazônia, assassinado em 2006 por tartarugueiros -, a ação foi realizada em duas etapas. A última delas, de oito dias, terminou anteontem.
Extinção
Chefe do grupo de policiais que percorreu o Baixo Rio Branco, o delegado Alexandre Saraiva, superintendente da PF no Estado, previu que, no ritmo atual da caça clandestina, a tartaruga-da-amazônia estará extinta naquela região em, no máximo, 20 anos. Nas redes de malha grossa, os "capa-sacos", também ficam presos botos e peixes maiores, o que torna a mortandade ainda maior.
"A tartaruga-da-amazônia e o tracajá são espécies condenadas, pois os caçadores pegam, além dos animais, os ovos, para consumo próprio. Recolhemos 700 ovos nos acampamentos dos criminosos. Aquilo é terra de ninguém", declarou o delegado.
Nesta época do ano, as tartarugas estão "assoalhando", expressão empregada na região para designar a procura dos melhores bancos de areia, os tabuleiros, para desovar. Daí a facilidade com que os caçadores localizam os ovos, já que as desovas ocorrem nos tabuleiros mais altos, escolhidos pelos animais por ficarem mais longe da água. (AE)
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