Minha página no Facebook foi atingida esta semana por algo que só pode ser descrito como “dilúvio de status”. Um a um, meus amigos em Israel começaram a compartilhar, “curtir” e postar uma mensagem: “Iranianos, nós nunca bombardearemos o seu país, nós te amamos”. Fiquei tão comovida quanto surpresa: seria difícil encontrar um grupo mais sarcástico do que meus companheiros israelenses. Mas ali estavam, meus amigos, e milhares de outros, espalhando a mensagem açucarada de paz em um tempo de crescentes hostilidades.
A campanha ‘Israel ama o Irã’ é fruto da mente de Ronny Edry, um designer gráfico de Tel Aviv que postou a mensagem na internet ao lado de uma foto dele com sua filha. “Eu não pensei nela como uma campanha até que ela virou uma”, ele me disse. “A princípio, alguns amigos meus que a viram me perguntaram ‘você está louco?’ porque é muito incomum para as pessoas no Oriente Médio falar de amor, especialmente sobre amar iranianos”. Mas depois de algumas horas, ele disse, começou a receber mensagens de pessoas lhe perguntando se poderiam adicionar a imagem a suas fotos do perfil.
Em 48 horas, iranianos viram o chamado israelense. Majid, um arquiteto paisagista de 34 anos do Irã, lançou a campanha ‘Irã ama Israel’ que reciprocava a mensagem. “Nosso principal objetivo é apresentar os iranianos aos israelenses e vice versa”, me escreveu Majid (que não quis ser identificado por sobrenome por questões de segurança) por email. Perguntado sobre o que o levou a responder à iniciativa israelense, ele respondeu que “enquanto os líderes ameaçam guerra e querem bombardear nossos países, nós (cidadãos israelenses e iranianos) já estamos nos bombardeando — com amor e paz”.
Em uma declaração publicada na página do ‘Irã ama Israel’ no Facebook, Edry escreveu, “Ao povo iraniano, aos pais, mães, crianças, irmãos e irmãs. Para que haja uma guerra entre nós, primeiro precisamos temer um ao outro, nós precisamos odiar. Eu não tenho medo de vocês, eu não os odeio”. Usando um tom leve, Edry continuou a escrever, “Eu nunca sequer conheci um iraniano…Só um em um museu em Paris. Um cara legal”. Ele terminou sua declaração pedindo a pessoas que pensam como ele que compartilhem a mensagem de paz.
Solidariedade ou sarcasmo?
Apesar das palavras floridas, alguns na mídia foram bastante rápidos em apontar que as duas campanhas não estão no mesmo pé de igualdade: a versão israelense até agora se tornou um fenômeno cultural, com Edry aparecendo em todas as maiores redes de televisão e narrando um vídeo no Youtube em inglês que termina com um apelo por doações. No Irã, o chamado por diálogo com Israel é mais perigoso e portanto mais mudo, já que pessoas como Majid têm medo de recriminação de seu governo. E, enquanto muitos israelenses têm espalhado o meme ‘Israel ama o Irã’ por suas fotos sorridentes, o equivalente iraniano é em geral sem rosto e parece na maior parte ser disseminado por iranianos vivendo no exterior. Previsivelmente, após a primeira leva de respostas positivas veio a reação de paródias (“Iraquianos, nós nunca vamos bombardear o seu país, nós amamos vocês” diz um meme sob uma foto de George W. Bush) e sugestões de que a campanha cheira a um tipo de ativismo preguiçoso sem ações práticas.
É fácil enxergar os defeitos neste experimento de mídia social. O grupo Israel-Irã, distante das fotos coloridas e slogans cativantes, realmente não disse muito até agora; seus organizadores não levaram adiante uma pauta coesa ou conseguiram fazer lobby com os governos israelense e iraniano para suavizar suas ameaças. No entanto, ignorar a campanha seria equivalente a não entender o seu ponto principal: um novo movimento parece ter encontrado uma voz unificada no mais improvável dos lugares. (Uma grande demonstração anti-guerra está planejada em Israel para sábado, embora não pelos organizadores da campanha). E, pelo menos em Israel, a campanha conseguiu explorar a desconexão entre o primeiro ministro Benjamin Netanyahu, que neste mês sinalizou a disposição de Israel em atacar o Irã, e a maioria dos israelenses que diz ser contra este ataque. “Eu quero dizer às pessoas pelo mundo, ‘Olhe para nós do Irã e de Israel’, nós não queremos guerra”, Edry me disse. “Os únicos que não responderam até agora são os que vão apertar o botão. Essa campanha os força a nos ver”.
Durante um chat no Facebook, eu perguntei a Zohreh, uma mulher iraniana de 26 anos, por que ela decidiu compartilhar o slogan ‘Irã ama Israel’ no seu perfil do Facebook. “Guerra é a última coisa que quero ouvir”, ela respondeu. “Eu não sinto ódio pelos israelenses, e eu não me lembro de que a história do meu país teve um problema com judeus”. É difícil predizer o que se tornará essa campanha conjunta; ela ainda pode acabar como uma lamúria. Mas ela também pode ter um resultado surpreendente. O fato de que duas mulheres, uma iraniana (Zohreh) e uma israelense (eu), foram capazes de cruzar as barreiras colocadas por esses governos e falar uma com a outra, ainda que brevemente — me parece um bom começo. (ON)
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