Bo Xilai era o maior expoente da Nova Esquerda e de um neomaoismo que procurava combinar abertura econômica, crescimento e justiça social. Seu êxito no município de Chonqing, uma virtual nação de mais de 30 milhões de habitantes, que teve um crescimento de 16% no ano passado e está levando adiante um gigantesco programa social, era o trampolim político para ascender ao secretariado geral, que renovará sete de seus nove postos no congresso partidário de outubro-novembro.
O anúncio, nesta quarta-feira, de sua destituição foi feito depois que o primeiro ministro Wen Jiabao advertiu, em uma entrevista coletiva de três horas, que a China poderia repetir os traumáticos acontecimentos da Revolução Cultural se não avançasse em uma reforma política e apontasse diretamente os erros cometidos por Bo Xilai.
No hermético mundo político chinês esta advertência pública equivalia a um pedido de renúncia. Os “erros” de Bo Xilai se referiam a um rocambolesco episódio com todo o aspecto de manobra política para tirá-lo de circulação. No dia seis de fevereiro, seu braço direito na campanha anticorrupção, o ex-chefe de polícia Wang Lijun, acusado de “excessos”, passou várias horas no consulado dos Estados Unidos da vizinha província de Chengdu, aparentemente para pedir asilo.
Ninguém espera um esclarecimento oficial de um episódio que revela fortes fissuras internas na direção. Segundo os analistas, Bo Xilai tentou se livrar de Wang Lijun ao ficar sabendo que o policial estava sendo investigado por corrupção, investigação que o agora ex-secretário geral de Chonqing interpretou como um tiro por elevação dos liberais à sua imagem. Sua sorte, entretanto, pareceu lançada quando um multimilionário de Chonqing, Li Jun, denunciou que havia sido preso e torturado durante três meses pela polícia municipal no marco da luta contra a corrupção que levou à prisão mais de três mil pessoas, entre eles empresários, juízes e membros do partido comunista.
Bo Xilai continua formando parte do seleto Politburo, composto por 24 membros, mas suas chances de chegar ao secretariado geral ficaram seriamente comprometidas. Filho do general Bo Yibo, suplente de Mao Tse Tung, considerado um dos oito pais do Partido Comunista, Bo Xilai apostou suas fichas em combater e promover seu modelo “Chonqing”, que regou com canções vermelhas (“chang hong”) que reivindicavam a mística igualitária maoísta e desenterravam o traumático fantasma da revolução cultural.
Este modelo sofreu um duro golpe, mas os problemas que sugere continuam em pé. Desde 2000 a China não publica índices do coeficiente Gini de desigualdade. Esse ano o coeficiente era 0,412, superando o dos Estados Unidos. Muitos acadêmicos chineses estimam que hoje supere 0,5 (a escala vai da igualdade absoluta do zero à máxima desigualdade do um). Segundo um recente relatório do Banco Mundial em conjunto com um Think Tank chinês, a China é o país mais desigual da Ásia. Em um gesto que mostrava suas credenciais políticas, Bo Xilai havia se comprometido em publicar o coeficiente de desigualdade do município de Chonqing.
Sua queda não parece afetar a eleição do até agora aparente herdeiro de Hu Jintao: Xi Jinping. O atual vice-presidente da China acaba de visitar os Estados Unidos, onde foi recebido como o próximo presidente e secretário geral do Partido Comunista. Xi Jinping revelou pouco em sua viagem, mas aparece alinhado com a ala “esquerda” do partido. Um artigo alarmista do matutino conservador britânico Daily Telegrapgh pintava-o recentemente como um “irrecuperável comunista”.
Neste contexto a queda de Bo Xilai pode ser interpretada como uma mensagem indireta a Xi Jinping. Segundo o acadêmico Chinês da Universidade de Nottingham Shujie Jiao, o resultado em nível político será a imobilidade. “Em princípio não significa o fim da reforma ou da política de portas abertas, mas congelará a reforma política e animará a conivência entre o governo e as empresas. A corrupção e a desigualdade social piorarão, mas não se pode considerar um triunfo da direita, mas sim um chamado ao imobilismo”, afirmou Shujie Jiao.
terça-feira, 20 de março de 2012
Esquenta o clima político interno da sucessão na China, e a direita partidária ganha mais espaço político
terça-feira, março 20, 2012
Molina com muita prosa & muitos versos
Marcelo Justo
Com a eleição de um novo presidente e secretariado geral à vista, a luta pela sucessão na China está pegando fogo. A dramática queda de Bo Xilai, destituído como secretário geral da megametrópole chinesa Chonqing nesta semana, é uma vitória para a ala reformista que procura aprofundar a liberalização econômica.
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