quarta-feira, 23 de junho de 2010

Porque o Brasil vai perder a Copa do Mundo


Por Claudio Carneiro

A seleção brasileira sacramentou a perda da Copa de 2010 durante a vitória de 3 a 1 sobre a Costa do Marfim. Parece incrível mas foi durante aqueles 90 minutos – no segundo confronto somente – que ficaram evidentes o despreparo para enfrentar situações adversas, a incompetência para gerir crises, a incapacidade para liderar subordinados, além do destempero e a incompetência para administrar as coisas do esporte. Difícil acreditar que uma confederação – cinco vezes campeã do mundo – tenha escolhido tão mal uma comissão técnica. A começar pelo treinador que, logo no início da competição, se comportou como um torcedor alucinado – praticamente um “hooligan” – pronto para agredir e ofender quem quer que fosse e, ao mesmo tempo, incapaz de determinar os rumos do jogo contra um adversário – convenhamos – sem qualquer tradição e já derrotado.

Agitando-se à beira do campo como um touro de rodeio, aquele que deveria liderar e mover suas peças de acordo com as necessidades que o confronto exigisse deixou transparecer que não faz nem uma coisa nem outra – nem lidera nem move peças – uma vez que foi impedido pelo supervisor da CBF de substituir um nervosíssimo Kaká no instante em que o jogador era punido com um cartão amarelo. A expulsão do atleta viria cinco minutos depois. Nesse instante cabem as perguntas: se o treinador vive dizendo que manda na seleção como acatou a ordem de Américo Faria? Quem manda no time afinal?

Uma vez que o Comitê Disciplinar da Fifa não encontrou provas para abrir um processo contra o técnico brasileiro, é certo que a CBF as tem. E deveria seguir o que os franceses fizeram – embora a situação entre eles lá seja até mais grave. Mas é preciso tomar medidas disciplinares contra alguém que ofende indiscriminadamente juízes, jogadores e jornalistas – neste último caso durante uma entrevista coletiva oficial, diante de câmeras e microfones do mundo inteiro. Para quem não sabe, o jornalista ofendido foi, no passado, comissário de bordo de avião de degredados e deportados – gente da pior espécie que viajava algemada. Não raro – como certa vez me contou – Alex Escobar ouvia ofensas e ameaças nos mais variados idiomas. Era fuzilado por olhares e caras feias. Presenciou diversos acessos de fúria de apátridas e terroristas. Ser chamado em português apenas de “cagão” – e outras bobagens – não o assustou mas, certamente, o surpreendeu.

É mesmo de causar espécie constatar que alguém tão autocentrado – e que enxergue a todos como inimigos – ocupe um cargo que requeira um mínimo de simpatia, inteligência emocional, equilíbrio, malandragem e jogo de cintura – também no trato com a imprensa. Impossível assistir a isso tudo sem citar o efeito positivo que Maradona causa nos argentinos em geral e em seus jogadores em particular. Suas entrevistas são carregadas de ironias e factoides inteligentes, de um patriotismo saudável – mesmo que sobrem alfinetadas para nós brasileiros de vez em quando – sempre com o objetivo de promover o espetáculo. Carlos Alberto Parreira, por sua vez, tão educado quanto matreiro, transformou o interesse sul-africano pela bola numa grande paixão. Lidera uma seleção capaz de vencer a seleção francesa, por exemplo.

Está claro que não se pode ganhar todas as edições de Copas do Mundo – nós brasileiros não entendemos isso muito bem – mas a beleza do futebol é um pouco mais que o grito de gol, o toque bonito, o drible desconcertante ou a jogada de efeito. Está na elegância de respeitar os adversários, na festa apresentada no estádio ou nas ruas, no intercâmbio entre as culturas e – no caso dos treinadores – no trato educado com os jornalistas – que estudaram para fazer perguntas desconcertantes e buscar o contraditório.

Quanto ao nosso treinador, parece alguém transtornado por uma mania de perseguição – que acabou se tornando real por sua postura, sempre agressiva e arredia. Se ganhar a Copa fará disparos em todas as direções como o dono da verdade única e absoluta: o único campeão – a despeito da imprensa e dos brasileiros que adoram Ronaldinho e Neymar. Nota zero em maturidade emocional e educação. Quando esse moço aparecer de novo na TV vou tirar minha filha da sala.

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