Em campo
Fortalecimento
Preocupação com o meio ambiente gerou novas oportunidades
O processo mais demorado foi atingir a relação ganha-ganha entre os coletores e as empresas processadoras. Parecia haver um interesse conflitante: as empresas buscam o lucro e os carrinheiros, renda. Mas um fator externo harmonizou o relacionamento. A preocupação mundial com o meio ambiente gerou novas oportunidades de negócio para as empresas, que passaram a demandar mais matéria-prima e mão-de-obra.
A conexão afinada entre todas as entidades formou uma rede mais forte. Na crise de 2008, quando a iniciativa privada puxou o freio de mão, o poder público atuou para evitar que o problema atingisse os carrinheiros. A rede é elástica: quando um ponto sofre pressão, todo o resto do tecido absorve alguma parte do impacto. “Esse é justamente o objetivo dessas redes. Criar um ponto central de força que pode ser distribuído para todos os cantos”, explica June Alisson Westarb Cruz, outro dos envolvidos na pesquisa. (OT)
Entre 2007 e 2011, o grupo acompanhou a articulação de carrinheiros que trabalhavam sozinhos, de associações de carrinheiros, da prefeitura municipal, da iniciativa privada e do terceiro setor. Havia um problema a ser resolvido: os carrinheiros trabalhavam muito, empregavam crianças na tarefa e vendiam os materiais por um preço baixo, que mal garantia a subsistência. Isolados, os trabalhadores perdiam força de negociação junto ao comprador e não podiam desfrutar de benesses comuns.
Foi então que o terceiro setor cutucou a prefeitura, e ambos começaram uma relação com as poucas associações existentes. Os objetivos eram complementares. O município precisava gerar bem estar social para toda a população; e as associações, para seus associados. “Esse sistema acabou se organizando meio que acidentalmente. Ninguém se prontificou para montar um esquema. Mas para garantir a sobrevivência mútua, os interesses individuais acabaram se interconectando até formar uma rede social”, explica Tomas Martins, um dos autores.
O processo atraiu os carrinheiros “autônomos” para as associações, que aumentaram de número e tamanho.
Com o fortalecimento das cooperativas de carrinheiros, estas passaram a protagonizar a busca de melhorias. Já não precisavam do auxílio do governo para convidar um palestrante ou alugar um barracão, por exemplo. Também passaram a ter poder de barganha para definir o preço de venda do produto. “É um ganho importante quando o governo não precisa mais ser o gestor central, porque então pode concentrar esforços em outra área carente, ressalta Martins. O fortalecimento das cooperativas gerou um efeito colateral. As associações começaram a disputar protagonismo entre si, o que tornou a conexão com os outros atores mais fraca. (GP)
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