quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O melhor caminho para os carrinheiros recicladores de Curitiba


“Rede social” é um desses termos que, sequestrado de seu sentido original, acaba se distanciando de vez do que realmente significa. Muito antes do Facebook e do Twitter, a teoria da administração analisava a formação de conexões entre as pessoas e os benefícios gerados por esses contatos. Uma pesquisa de doutorado realizada por estudantes da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) analisou a formação e as transformações na rede de carrinheiros de Curitiba, e identificou os fatores de associação responsáveis por profissionalizar a atividade, aumentar a renda e melhorar as condições de trabalho dessas pessoas. Os coletores de recicláveis formam um dos grupos informais mais representativos da capital paranaense. E, embora sejam facilmente visíveis, são difíceis de mensurar. As estimativas variam entre 2,5 mil e 10 mil trabalhadores.
Em campo
Fortalecimento
Preocupação com o meio ambiente gerou novas oportunidades
O processo mais demorado foi atingir a relação ganha-ganha entre os coletores e as empresas processadoras. Parecia haver um interesse conflitante: as empresas buscam o lucro e os carrinheiros, renda. Mas um fator externo harmonizou o relacionamento. A preocupação mundial com o meio ambiente gerou novas oportunidades de negócio para as empresas, que passaram a demandar mais matéria-prima e mão-de-obra.
A conexão afinada entre todas as entidades formou uma rede mais forte. Na crise de 2008, quando a iniciativa privada puxou o freio de mão, o poder público atuou para evitar que o problema atingisse os carrinheiros. A rede é elástica: quando um ponto sofre pressão, todo o resto do tecido absorve alguma parte do impacto. “Esse é justamente o objetivo dessas redes. Criar um ponto central de força que pode ser distribuído para todos os cantos”, explica June Alisson Westarb Cruz, outro dos envolvidos na pesquisa. (OT)
Entre 2007 e 2011, o grupo acompanhou a articulação de carrinheiros que trabalhavam sozinhos, de associações de carrinheiros, da prefeitura municipal, da iniciativa privada e do terceiro setor. Havia um problema a ser resolvido: os carrinheiros trabalhavam muito, empregavam crianças na tarefa e vendiam os materiais por um preço baixo, que mal garantia a subsistência. Isolados, os trabalhadores perdiam força de negociação junto ao comprador e não podiam desfrutar de benesses comuns.
Foi então que o terceiro setor cutucou a prefeitura, e ambos começaram uma relação com as poucas associações existentes. Os objetivos eram complementares. O município precisava gerar bem estar social para toda a população; e as associações, para seus associados. “Esse sistema acabou se organizando meio que acidentalmente. Ninguém se prontificou para montar um esquema. Mas para garantir a sobrevivência mútua, os interesses individuais acabaram se interconectando até formar uma rede social”, explica Tomas Martins, um dos autores.
O processo atraiu os carrinheiros “autônomos” para as associações, que aumentaram de número e tamanho.
Com o fortalecimento das cooperativas de carrinheiros, estas passaram a protagonizar a busca de melhorias. Já não precisavam do auxílio do governo para convidar um palestrante ou alugar um barracão, por exemplo. Também passaram a ter poder de barganha para definir o preço de venda do produto. “É um ganho importante quando o governo não precisa mais ser o gestor central, porque então pode concentrar esforços em outra área carente, ressalta Martins. O fortalecimento das cooperativas gerou um efeito colateral. As associações começaram a disputar protagonismo entre si, o que tornou a conexão com os outros atores mais fraca. (GP)

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