sábado, 17 de dezembro de 2011

Lá é o paraíso: Sobrinho quer R$ 20 mi por parte de ilha dos Sarneys


Um sobrinho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), decidiu colocar à venda, por R$ 20,2 milhões, parte da ilha de Curupu, uma paradisíaca propriedade do clã maranhense, com acesso pelos municípios de São José de Ribamar e Raposa, este a 20 quilômetros do centro de São Luís, a capital do Estado.

O radialista Gustavo da Rocha Macieira, sobrinho do casal José Sarney e Marly Macieira Sarney, quer vender 12,5% da ilha, que, segundo ele, possui um total de 16 milhões de metros quadrados.

O local é um dos símbolos do poderio econômico da família Sarney. Trata-se, na verdade, de um complexo formado por três ilhas - sendo Curupu a maior -, que abriga mansões dos filhos do presidente do Senado e conta em sua área com manguezais e até um conjunto de dunas que fariam parte dos famosos lençóis maranhenses.

“Tem gado que nunca viu gente, selvagens, criação de carneiros de raça, excelente para pesca. A praia virgem tem uma extensão de oito quilômetros. É um espetáculo”, afirma o radialista, que justifica a iniciativa de venda também pelo fato de se manter distante da família.

“Eu preciso me capitalizar e não tenho nenhum vínculo lá com o Maranhão, nenhum negócio com a família. Então não tenho interesse em manter uma propriedade dessas.”

O radialista, que trabalha na Espanha e em Portugal, diz que comprou sua parte do pai, Cláudio Macieira, já falecido. A ilha pertencia ao pai de dona Marly, Carlos de Pádua Macieira e seus irmãos, todos médicos.

O casal Sarney doou 75% da propriedade aos três filhos - Roseana, Fernando e Sarney Filho. Os outros 12,5% pertencem ao espólio de Roberto de Pádua Macieira, outro irmão da dona Marly, que é a inventariante.

Independência

Macieira disse que há dois meses procurou, “por delicadeza” o tio em Brasília para informá-lo da decisão de colocar à venda parte do imóvel. “Ele me disse que (os filhos) Roseana ou Fernando entrariam em contato comigo. Aguardei por mais de um mês, mas não tive retorno. Aí fiz a comunicação como manda a lei através do cartório, dando a preferência de compra a cada um dos herdeiros e ao espólio do Roberto, irmão do meu pai, falecido recentemente. Esperei os 30 dias como manda a lei. Eles não se manifestaram”, afirmou. “Agora eu estou livre para vender para quem eu quiser.”

Ele enxerga na atitude uma certa soberba dos políticos do Maranhão. “Como as pessoas costumam fazer muitos pedidos a eles, acho que jogaram com a possibilidade de eu usar esse recurso. Só que eu como meu pai, sou totalmente independente. Não tenho nenhuma ligação com cargo público, nem pretendo ter, não sou empreiteiro”, destacou.

“Acredito que eles não se manifestaram, (porque) é aquela coisa: venha a nós... Acho que acharam que eu não levaria à cabo. Ou venderia por um preço que eles resolvessem impor.”

Macieira afirma também que está ciente de que sua iniciativa poderá gerar represálias. Ele relata que contratou um corretor em São Luís e ele teve dificuldades em anunciar no jornal O Estado do Maranhão, que pertence ao grupo de comunicação da família Sarney.

O anúncio, conforme o radialista, foi publicado, mas as imagens das casas e imóveis da ilha foram vetadas. “Isso é censura”, protestou. “É uma forma de represália.”

Procurado, o presidente do Senado disse, por meio de sua assessoria, que não iria comentar o assunto. Sarney confirmou que Gustavo Macieira é seu sobrinho. (AE)


Mais uma mansão é construída pelos Sarney na ilha de Curupu


AINDA QUEREM MAIS?

Entre os bens, a família possui cinco emissoras de TV, 14 rádios, mansões, uma ilha e sociedade em várias empresas

Em entrevista a um jornal local, durante o governo Roseana Sarney, o ex-gerente de Planejamento, marido e sócio da então governadora, Jorge Murad, declarou publicamente não considerar negativo que alguém more em casa de palha. Em novembro do ano passado, o senador João Alberto (PMDB-MA) afirmou, sem constrangimento: “os maranhenses gostam de morar em casa de taipa, hábito herdado dos escravos e dos índios”.

Enquanto milhares de maranhenses passam fome e moram em beira de estradas, em casas feitas de barro, cobertas de palha ou em palafitas, em condições subumanas, a família Sarney/Murad acumulou, ao longo de 40 anos, um patrimônio avaliado em 150 milhões de reais. Enquanto na casa do pobre, a esperança de ter pelo menos o almoço para os filhos é a maior ambição do dia, na família Sarney/Murad a expectativa de ver pronta mais uma mansão construída na ilha de Curupu foi comemorada, em grande estilo, com direito a champagne Velve Clicquot. A foto abaixo mostra a nova casa da ilha, de propriedade da família Sarney, a mansão do casal Roseana Sarney/Jorge Murad. Aliás, foi o próprio ex-senador Cafeteira, hoje aliado do grupo Sarney, que chegou a declarar sobre Roseana Sarney: “Essa moça só tem uma amiga, a viúva Clicquot”.

A efervescência cada vez maior do clima anti-Sarney no Maranhão tem provocado uma enorme conscientização popular. As pessoas já não temem represálias ou ameaças. “Eles debocham da gente, quando jogam na nossa cara todo esse patrimônio. Isso é um absurdo. Eles têm até uma ilha! Enquanto isso nós não temos emprego, a saúde e educação são deficientes. Tudo por conta desse grupo que manda no Estado há décadas”, indignou-se a estudante Fabiana Silvestre Coelho.

Um advogado que pede para não ter seu nome citado na matéria, afirma: “Agora que o Zé Reinaldo rompeu com o Sarney, o povo não quer mais baixar a cabeça. É uma vergonha o Maranhão ter tido um presidente da República e continuar assim tão miserável”.

Em 2001, Roseana Sarney deixou o Maranhão como o Estado mais pobre de toda a Federação. Se fosse um País, teria à época um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) semelhante ao do Congo. Se o Estado fosse separado do Brasil, seria o país mais miserável da América Latina, ficando à frente apenas do Haiti. Entre 1992 a 1999, o Maranhão foi a única unidade da Federação em que a população teve queda de renda; ou seja, os maranhenses ficaram mais pobres. Nessa época, mais de 62% da população viviam abaixo da linha da pobreza.

Os donos do Maranhão

Em 2002, a revista Veja fez um levantamento do patrimônio da Família Sarney. A soma total chegou a R$ 125 milhões. Há suspeitas de que o patrimônio que está em nome de outras pessoas chegue a 150 milhões de reais. O Grupo Sarney Murad possui cinco emissoras de TV, que integram o Sistema Mirante e transmitem a programação da Rede Globo para todo o Maranhão, além de 14 emissoras de rádio. Foi com base nisso que a revista Caros Amigos, que também fez uma profunda investigação dos bens da oligarquia, afirmou: “nenhuma família brasileira tem nas mãos tantos meios de comunicação em um mesmo Estado como o Maranhão”.

Se somarmos os imóveis de propriedade da família, o número pode não parecer tão grande, mas o valor e a suntuosidade das edificações jamais passariam despercebidos. Para se ter uma idéia, em São Luís a família possui uma mansão no Calhau e duas na praia do Olho d´Água, bairros que possuem o metro quadrado mais caro do todo Maranhão. A mansão no Calhau está localizada de frente para o mar, num terreno de 20 mil metros quadrados. As outras duas (uma do casal Fernando Sarney e Teresa Murad e outra de Ricardo Murad) ocupam cada um quarteirão inteiro.

“Essa família é muito gananciosa. Eles não se contentam com pouco. Mas um dia isso vai acabar. A Justiça deveria era bloquear os bens deles e fazer uma grande investigação”, sugere o comerciário Jonatan Almeida Filho. E as mansões não ficam somente no limite de São Luís. O senador José Sarney e sua filha Roseana Sarney possuem mais duas na Ilha de Curupu. Em Brasília, a família possui duas mansões no Lago Sul (região onde moram ministros e altos empresários do Distrito Federal) e um imenso sítio, batizado de Pericumã, nas cercanias da Capital Federal. No Rio de Janeiro, o endereço da família é no Bairro do Leblon e uma casa no badalado balneário de Búzios. E ainda tem as empresas nos ramos de hotelaria, construção civil, comércio.

Mas entre todos os bens da família, o mais escandaloso é o Convento das Mercês. O prédio público e tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional foi tomado ilegalmente por Sarney. O governo do Estado pagou mais de U$ 9 milhões e meio para reformar o prédio e depois entregar nas mãos do senador pelo Amapá. E para quem acha que uma ilha particular, mansões em vários estados não é o suficiente, o senador José Sarney já encomendou o seu mausoléu no Convento das Mercês. Afinal de contas, o próprio senador em entrevista à revista Carta Capital, afirmou que não vê nada de errado em ser enterrado no Convento das Mercês para facilitar a “peregrinação dos maranhenses apaixonados por ele após a sua morte”.

Alguns exemplos do patrimônio:




A família de 125 milhões
de reais...

Sérgio Dutti
A família Sarney: em 46 anos de vida pública, a fortuna é espetacular

...e um genro

Assis Garcez/AE
Jorge Murad, o genro: um funcionário discreto e avesso aos holofotes

Dois impérios do Maranhão, os Sarney
e os Murad, aparecem unidos na
suspeita de fraudar a Sudam

Malu Gaspar

Na trajetória de Jorge Francisco Murad Júnior, 49 anos, há uma conjunção constante: política e negócios. Na década de 70, quando se casou pela primeira vez com Roseana Sarney, participava dos movimentos políticos da época e já se interessava por economia – curso que acabou concluindo numa faculdade particular em Brasília. Nos anos 80, teve uma influência decisiva nos rumos do governo do seu sogro, o ex-presidente José Sarney. Com um gabinete no 4º andar do Palácio do Planalto, fazia política nos bastidores, conhecia detalhes dos grandes negócios do Estado e dava até palpites nos rumos da política econômica, celebrizada na época pelo Plano Cruzado. Na década de 90, tornou-se o secretário todo-poderoso do governo de sua mulher no Maranhão, no qual toma conta de praticamente todo o Orçamento do Estado, e não se descuidou dos negócios pessoais. Hoje, é dono de cinco empresas, cujas áreas de atuação vão do turismo à distribuição de combustíveis. É justamente no caldeirão em que se misturam política e negócios que Jorge Murad afundou-se ainda mais na semana passada.

A devassa da Polícia Federal no escritório da Lunus em São Luís, empresa que pertence a Roseana e Murad, descobriu um documento que só reforça as suspeitas de envolvimento do casal nas milionárias fraudes da velha Sudam. Na lista do que foi apreendido pela polícia está o "plano de contas" da Lunus, documento semelhante a uma contabilidade. Nesse "plano de contas", há um espaço específico para descrever "ativos" e "investimentos" da Lunus – e ali, bem ali, aparece o nome da Agrima Agricultura, Indústria e Comércio de Calcário Ltda. A informação é cabeludíssima por duas razões. A primeira: a Agrima é suspeita de ter desviado entre 10 milhões e 15 milhões de reais da Sudam, num projeto agrícola chamado Nova Holanda. A segunda razão é que Jorge Murad sempre negou que tivesse relação comercial com a Agrima. Sabia-se que a Lunus e a Agrima haviam sido sócias apenas até 1994. O "plano de contas" descoberto agora é referente ao ano de 2000. E sugere que a Lunus mantém uma relação comercial de "ativos" e "investimentos" com a Agrima, que é suspeita de ter arrombado os cofres da Sudam. E agora, Jorge?

Fotos Ana Araujo

A mansão dos Sarney no Calhau: terreno de 20 000 metros

Procurado por VEJA na semana passada, Jorge Murad, fiel ao seu estilo de exposição mínima e silêncio máximo, não deu entrevista. Trata-se de um assunto delicadíssimo. A suspeita volta a montar aquele explosivo caldeirão de política e negócios. Quando for analisado o conteúdo integral dos documentos apreendidos pela polícia na empresa de Murad e Roseana, será preciso prestar atenção a esse detalhe explosivo da Agrima. Se ficar demonstrado o que até agora é um indício, o país saberá que Jorge Murad e sua mulher, candidata à Presidência da República, têm uma sociedade oculta com uma empresa envolvida em falcatruas na Sudam. Na devassa no escritório da Lunus, a Polícia Federal também apreendeu uma lista de contribuintes das campanhas de Roseana Sarney. Ali, constata-se que a boa relação comercial entre as empresas também se desdobrava no campo político. Em 1994, quando Roseana concorreu a seu primeiro mandato no governo do Maranhão, a Nova Holanda contribuiu com 50.000 reais, em valores de hoje, para sua campanha eleitoral. Em 1998, voltou ao caixa da candidata: 25.000 reais.

A bela Ilha do Curupu, onde o casal Roseana e Murad está erguendo sua nova mansãoA sede das empresas de Murad: terreno em nome de um amigo

Jorge Murad é um homem discreto, que gosta de ficar longe dos holofotes. Suas raras entrevistas costumam ser dadas apenas à TV Globo do Maranhão, de propriedade da família Sarney. Mesmo atuando nos bastidores do poder, primeiro na passagem do sogro pelo Palácio do Planalto e agora no governo da mulher no Maranhão, Murad sempre acaba atraindo a atenção – e pela via mais barulhenta. No governo Sarney, durante meses foi o principal personagem de uma CPI criada para apurar denúncias de corrupção. Na época, suspeitava-se de que o reajuste de contratos mantidos com empreiteiras e fornecedores da União fora uma ação entre amigos. A investigação produziu uma tremenda algaravia, acabou em pizza, mas rendeu a Murad um inimigo eterno: o então ministro do Planejamento de Sarney, Aníbal Teixeira. O ex-ministro, num livro lançado em 1988 sob o títuloCalúnia, alega que foi demitido porque não cedia ao lobby de Murad em favor de grandes empreiteiras. "Ele exercia pressão constante e agia não por interesses propriamente políticos ou despretensiosos", diz Teixeira.

As relações de Murad com empreiteiras são antigas. Nos tempos do governo Sarney, vozes subterrâneas falavam do envolvimento de Murad nas suspeitas de superfaturamento da hidrelétrica Cabeça de Cavalo, um projeto de mais de 1 bilhão de reais construído pela empreiteira Odebrecht. Em 1988, quando se separou de Roseana, com quem se reconciliaria seis anos depois, Murad acabou deixando o governo de Sarney e decidiu mudar-se de Brasília para o Rio de Janeiro. Ali, passou a morar num apartamento emprestado por João Mussurunga, que trabalhara como lobista da empreiteira OAS em Brasília – a mesma que se tornaria, mais tarde, a rainha das verbas sociais do governo de Fernando Collor. A amizade dos dois nunca se desfez. Hoje, o ex-lobista da OAS, após ocupar outros cargos no governo de Roseana, é secretário particular da governadora. Na biografia de Murad, não existe uma condenação nem acusações comprovadas, mas seu nome quase sempre aparece nas bordas de negócios nebulosos.

Ari Lago

Murad, nos tempos da CPI da Corrupção no governo Sarney: pizza e inimigo eterno
Orlando Brito

Sarney com Roseana: "Propina de 53 milhões? Imagine uma coisa dessas"

Filho de uma família modesta, que nos anos 70 era dona de uma cantina de escola e uma padaria, Murad tornou-se um homem abastado – de dinheiro e de encrencas. Entre 1975 e 1976, quando estava começando a carreira que o tornaria rico, ele viveu sua primeira trapalhada. Uma empresa que pertencia a um tio do empresário foi à lona. Era uma beneficiadora de óleo de babaçu que, ao falir, perdeu as condições de pagar algumas dívidas. Suas máquinas então foram apreendidas e Murad foi escalado como fiel depositário. Como os débitos não foram pagos, ele foi parar na delegacia acusado de depositário infiel. Foi um contratempo constrangedor, mas que pode acontecer na vida de um empresário em dificuldades. Só havia um detalhe que, hoje em dia, se torna curioso. O contador da empresa falida era Aldenor da Cunha Rebouças – que atualmente é dono, em São Luís, da consultoria AC Rebouças, acusada de ser a central maranhense na produção de projetos irregulares na Sudam.

Em 1976, Murad casou-se pela primeira vez com Roseana. Foi o matrimônio de dois clãs. De lá para cá, o empresário e sua família deixaram no pó do passado os tempos de cantina e padaria. Hoje, são donos de um respeitável cardápio de propriedades urbanas e rurais. O clã dos Sarney, no entanto, não encontra concorrente à altura no Estado. Desde que entrou para a política, há 46 anos, o patriarca José Sarney passou pouco mais de três anos sem mandato, logo no início da carreira. Ainda assim, construiu uma das mais vistosas fortunas erguidas por um político. No Maranhão, numa hipérbole jocosa, costuma-se dizer que os Sarney só não são donos do mar. Erguida pelo ex-presidente em meio à labuta política, a fortuna visível dos Sarney está quase toda registrada em nome dos filhos. Na área empresarial, o clã é dono de quatro emissoras de televisão, que transmitem a programação da Rede Globo para todo o Estado. O grupo também controla o jornal O Estado do Maranhão, o maior diário de São Luís. É dono ainda de catorze emissoras de rádio espalhadas pela capital e pelo interior.

No setor imobiliário, os Sarney também são um sucesso. Em São Luís, a sede do clã é a Casa do Calhau, uma mansão colonial, cercada por coqueiros de babaçu, que ocupa um quarteirão inteiro (cerca de 20.000 metros quadrados) na área mais nobre da cidade. Ali, Sarney cultiva pés de romã durante o inverno e recebe os amigos para conversas ao pé do ouvido. Para as horas de lazer, os Sarney dispõem da Ilha do Curupu, uma reserva ambiental privada localizada nas proximidades de São Luís, à qual só é possível chegar de barco ou avião. A área tem cerca de 2.500 hectares e é um dos poucos bens herdados pela família. A ilha abriga uma mansão e logo receberá outra: a casa que está sendo construída pelo casal Jorge Murad e Roseana Sarney. Contando com as propriedades em Brasília (duas mansões no Lago Sul, o bairro mais nobre da cidade, mais um sítio) e no Rio de Janeiro (um apartamento no Leblon e uma casa no badalado balneário de Búzios), o patrimônio visível dos Sarney chega aos 125 milhões de reais.

Entre 1988 e 1994, período em que ficou separado de Roseana, o primeiro-genro resolveu dedicar-se aos negócios e ficou um pouco afastado das sombras do poder. Nesse período, criou três das cinco empresas que tem até hoje: a Bel-Sul Administração e Participações, a Lunus Serviços e Participações e a Pousada dos Lençóis. Murad é sócio ainda em outras duas firmas, a Credita Factoring e a Agrodiesel Lubrificantes e Diesel, ambas fora de atividade. Com a eleição de Roseana para o governo do Estado em 1994, Murad retomou sua prática de atuar nas franjas do poder. No primeiro mandato, ele comandou a Secretaria de Planejamento. No segundo, sua participação foi ainda mais intensa, lembrando os tempos em que atuava no Palácio do Planalto do sogro. Assumiu a principal secretaria do governo de Roseana. Concentra em seus domínios áreas vitais, como economia, indústria, comércio, ciência, tecnologia, turismo e agricultura. Se algo não passa por Murad, é sinal de que não tem importância. Se tem, Murad está lá.

Um exemplo. Um dos maiores empresários do Piauí, João Claudino, dono de um conglomerado de companhias, tentava montar um shopping em São Luís. Pretendia instalá-lo nas imediações do Tropical Shopping Center, com 170 lojas, uma sociedade entre membros da família Murad. Seria uma concorrência e tanto ter dois shoppings tão próximos um do outro, mas o negócio não avançava – até que começaram a surgir sussurros de que nunca avançaria, a menos que Murad tivesse uma participação no novo shopping. Nada foi confirmado, mas o negócio só deslanchou depois que João Claudino admitiu como sócio no empreendimento o empresário Miguel Ethel, de São Paulo, um velho amigo de Jorge Murad. O primeiro-genro possui o dom de sempre ter seus amigos instalados em lugares relevantes para os próprios negócios. Outro exemplo. O edifício em São Luís onde ficam as sedes das empresas de Murad, inclusive a Lunus, que sofreu a devassa da PF, foi construído num terreno que hoje está no nome da construtora Pleno, cujo principal acionista, Severino Francisco Cabral, é amigo e sócio de Murad.

Um dos bons negócios que o governo do Maranhão proporcionou aos empreiteiros foi a construção da estrada que leva a um parque na região dos Lençóis Maranhenses, um dos paraísos do litoral do Estado. A rodovia, que encurtou em cinco horas o tempo de deslocamento da capital a essa parte do litoral, custou 37,5 milhões de reais ao governo estadual. A construtora escalada para o trabalho chama-se Sucesso – e seu dono vem a ser aquele mesmo empresário do Piauí, João Claudino, que tanta dificuldade teve para construir um shopping em São Luís. João Claudino, desde que fez a sociedade com o amigo de Murad, não tem do que reclamar. Sua empreiteira, nas duas gestões de Roseana, já conseguiu seis belos contratos com o governo do Estado.

Há duas semanas, José Sarney ficou sabendo que partidários do tucano José Serra estariam espalhando uma história felpuda sobre sua família: a de que Fernando Sarney, o filho que cuida dos negócios do clã, teria recebido uma propina de 53 milhões de reais na privatização da estatal de energia elétrica do Maranhão, a Cemar, vendida por cerca de 600 milhões de reais. "Propina de 53 milhões? Imagine uma coisa dessas", reagiu Sarney, ao saber da história. Quem a espalhou acrescentou ainda que a empresa compradora da Cemar, a americana PPL, da Pensilvânia, teria descoberto o pagamento da propina. Hoje, a PPL – ninguém sabe por quê – mostra-se desinteressada do negócio e quer devolver a empresa de energia elétrica ao Estado. Se isso acontecer, será mais um abacaxi dos grandes, que, por ser grande, certamente cairá no colo de Jorge Murad. E ele, para enfrentar tantas dificuldades, nunca reclamou de excesso de trabalho nem de falta de salário. Ao que tudo indica, sentia-se, pelo menos até a semana passada, confortável transitando entre a política e os negócios.

Rosário de fraudes

A investigação sobre as fraudes na Sudam, uma das maiores já feitas no país, levou quase cinco anos para desembocar na devassa da Polícia Federal na empresa da governadora do Maranhão e de seu marido

Abril de 1997
O Ministério Público Federal em Mato Grosso, intrigado com o número crescente de empresas financiadas pela Sudam no Estado, começa a fiscalizar a aplicação dos recursos públicos e descobre uma usina de falcatruas

Janeiro de 1998
A investigação chega ao primeiro tubarão da turma, o empresário José Osmar Borges, que recebeu 246 milhões de reais da Sudam e é suspeito de desviar cerca de 130 milhões de reais

Fevereiro de 1999
O procurador da República José Pedro Taques, de Mato Grosso, faz uma síntese de sua investigação e distribui aos colegas de nove Estados, todos da chamada Amazônia Legal, para servir como guia nas apurações

Início de 2000
Tocantins é o primeiro Estado a descobrir que em seu território estava sendo aplicado o mesmo golpe e com os mesmos métodos encontrados em Mato Grosso. Cria-se, ali, o QG das investigações sobre o caso Sudam

Início de 2001
A Secretaria Federal de Controle, órgão do Ministério da Fazenda, numa investigação própria, descobre fraudes de 44 milhões de reais no projeto Usimar, em São Luís, no Maranhão

Abril de 2001
Com a investigação já espalhada por quatro Estados, aparecem as transcrições de diálogos telefônicos que comprometem o então senador Jader Barbalho com as fraudes na Sudam. O Ministério Público pede à Justiça a prisão preventiva de 97 suspeitos de fraudar a Sudam. Só 27 são presos. Em operações de busca em empresas e escritórios, a PF encontra uma lista em que o nome do senador José Sarney aparece ao lado de três projetos da Sudam. A lista, aliada às fraudes na Usimar, alerta os investigadores para uma possível conexão no Maranhão

Outubro de 2001
Em outro escritório de consultoria especializado em fraudar a Sudam, o AC Rebouças, em São Luís, a PF encontra um depósito para o ex-senador Jader Barbalho e documentos da Lunus, que pertence a Roseana Sarney e a seu marido. Como a Lunus, até 1994, fora dona de empresa suspeita de fraudar a Sudam, os investigadores passam a desconfiar de que a empresa pudesse, ainda hoje, estar envolvida nas irregularidades

Março de 2002
A PF faz uma devassa na sede da Lunus, em São Luís. Encontra documentos que sugerem um vínculo da Lunus com outras empresas fraudadoras da Sudam e, também, papéis sobre o projeto da Usimar

Com reportagem de Vannildo Mendes

1 comentários :

Unknown disse...

Enquanto a família Sarney é uma das mais rica do Brasil.O Maranhão é um dos mais pobres.Sarney não dá.

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