terça-feira, 29 de março de 2011

Servidores iniciam greve na UFPR


Cerca de 6 mil servidores técnico-administrativos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), da Fundação da UFPR para o Desenvolvimento da Ciência, da Tecnologia e da Cultura (Funpar) – da qual faz parte o Hospital de Clínicas (HC) – e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) estão em greve por tempo indeterminado. A decisão foi tomada na manhã de ontem, depois de uma assembleia que reuniu 250 servidores no restaurante universitário do Centro de Curitiba.

Apenas um servidor da UFPR, Antônio Neris de Souza, votou contra. “O nosso único instrumento para lutar é a greve, mas acho que estão banalizando o movimento. Não faz sentido o Paraná fazer algo isolado.” Souza se referia à decisão da Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades Públicas Brasileiras (Fasubra) de parar no dia 25 de abril, caso não existisse avanço nos diálogos. “Orienta­mos as bases para seguir nosso calendário, mas ninguém é obrigado a adotar”, diz o coordenador-geral da entidade, Rolando Malvasio Júnior.

Os funcionários paranaenses abordam na pauta de reivindicações três assuntos principais: a derrubada da Medida Provisória (MP) 520/2010, que cria a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares S/A (EBSERH); a campanha contra o Projeto de Lei 549/2009 (que prevê que, até 2019, a despesa com pessoal e encargos sociais da União não exceda o valor liquidado no ano anterior); e a campanha salarial.

Aumentar o piso da categoria do atual 1,8 salário mínimo para três salários mínimos é um dos pedidos do Sindicato dos Tra­balhadores em Educação da UFPR, UTFPR e Funpar/HC (Sin­ditest). “Somos o pior salário do funcionalismo público e não nos comparamos com o Judiciário. Cargos na Fundação Nacional do Índio [Funai] de nível médio pagam mais do que um funcionário com curso superior que atua em laboratórios da UFPR”, diz o diretor do sindicato, Bernardo Pilotto.

Sobre a MP 520, o Sinditest acredita que haverá uma “privatização” dos serviços de saúde “Não há explícito em nenhum artigo, mas a medida, junto com as declarações dos ministérios da Saúde e da Educação, nos leva a crer que o Sistema Único de Saúde será afetado para a criação de vagas para convênios”, diz Pilotto. Para tentar barrar a medida, o Sinditest tem mobilizado movimentos estudantis e entidades de saúde para que a votação seja contrária no Congresso. O sindicato espera que outros estados iniciem greves ainda nesta semana.

Serviços afetados

A paralisação não engloba os docentes das universidades nem os médicos do HC, porém, atendimentos administrativos nas universidades devem ser afetados, segundo o Sinditest. Serviços considerados essenciais, como os de saúde, manterão 30% do funcionamento. Segundo a assessoria de imprensa do HC, ontem não havia “contabilização de nenhum funcionário em greve” e todos os setores estavam operando com quadro completo. A técnica em enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do HC Ana Paula Cunha esteve presente na assembleia e afirmou que um e-mail circulou no hospital dizendo que a greve fora cancelada. “Achei muito estranho e liguei para o sindicato. Por isso, muita gente acabou não se mobilizando.” A assessoria informou que não tem conhecimento sobre o e-mail.

O reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, disse que a universidade “estranhou” o posicionamento do Sinditest, já que vai contra a Fasubra. “A decisão não está em sintonia com a pauta nacional, mas respeitamos o direito dos servidores à greve.” De acordo com o reitor, a adesão dos servidores ontem foi baixa, o que não prejudicou o atendimento aos alunos na universidade.

Semana

O Sinditest organizou ações para toda a semana. Hoje, os servidores participam de um seminário sobre saúde do trabalhador no auditório do HC a partir das 8h30. Amanhã, outra assembleia acontece pela manhã no restaurante universitário central

RU: Alunos são pegos de surpresa

Estudantes que procuraram, ontem, o restaurante universitário (RU) central da UFPR para almoçar ou jantar tiveram de encontrar outro local para comer. O espaço foi usado para a assembleia que definiu a paralisação dos servidores técnico-administrativos da UFPR, UTFPR e Funpar/Hospital de Clínicas. De acordo com a assessoria de imprensa da Federal, 1,7 mil refeições deixaram de ser servidas.

Além da faixa que dizia “Estamos em Greve” em frente ao RU, um aviso sobre o uso do espaço havia sido divulgado entre os alunos. Contudo, a maioria foi pega de surpresa. “Achei uma palhaçada. Ouvi alguns comentários, mas vim para conferir”, diz o aluno Erasmo Diniz Ferreira, que cursa Administração na UFPR. Por estar desempregado, ele conta com auxílio alimentação e não precisa desembolsar R$ 1,30 pela refeição. “Espero que não se prolongue por outros dias, senão, ficarei sem ter onde almoçar.”

O RU central deve permanecer fechado durante toda a semana, já que as assembleias da greve, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFPR, UTFPR e Funpar/HC (Sinditest), continuarão no mesmo local.

Os outros dois restaurantes, nos câmpus Agrárias e Centro Politécnico, continuam funcionando normalmente. O reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, reiterou que há um ônibus gratuito que leva aos alunos aos outros câmpus, ajudando a diminuir o prejuízo. “Fiz uma ponderação de que a escolha pelo restaurante seria prejudicial, mas o sindicato [Sinditest] entende que para eles é importante que o comando de greve seja mantido no local.” (GP)

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