Brasileiras encurraladas no Cairo contam que os jovens já não agüentam mais a ditadura gípicia. Falta de liberdade, falta de empregos: eles querem democracia, eles querem o direito ao voto:
"Ninguém aguenta mais, são 30 anos de poder. Os jovens egípcios são inteligentes, não têm emprego, a pobreza é muito grande no Egito, a sujeira".
"E as pessoas estão pedindo para ele [Mubarak] para ter mudanças. Aqui é ditadura, eles querem democracia, eles querem voto."
'Estamos confinadas', diz dançarina brasileira no Cairo
A dançarina e professora de dança brasileira Rossana Marcondes de Mello, afirmou em entrevista à Folha que está "confinada" em um apartamento no bairro de Mokatam, no Cairo, com mais três brasileiras desde que os protestos antigoverno começaram, na última terça-feira (25).
O relato da brasileira:
Está é a sétima vez que Rossana, moradora de Ribeirão Preto (SP), vai ao país, onde faz cursos de especialização em dança e na cultura egípcias.
Desta vez, ela chegou no último dia 9 e está com passagem marcada para 9 de fevereiro.
"Do dia para a noite, mudou tudo por aqui. Nós estamos presas num apartamento porque a gente não pode sair", afirmou em entrevista por telefone. "Estão acontecendo tiroteios, as pessoas saem dos carros correndo, tem barricadas e as pessoas estão armadas com pedaços de cano em frente ao prédio."
A brasileira contou que o barulho de tiros é constante, inclusive à noite. "A gente não dorme direito porque você ouve tiro, explosão."
Para conseguir comprar um pouco de comida --o suficiente para no máximo cinco dias, e isso tendo que racionar os alimentos--, Rossana e as amigas brasileiras tiveram de sair de véu islâmico nas ruas, para evitar serem identificadas como estrangeiras.
Mas no supermercado --saqueado e com marcas de sangue no chão--, elas conseguiram comprar pouca coisa. "Hoje já não tinha açúcar. Nós conseguimos três pacotes. Não está chegando comida no Cairo, e as pessoas estão com fome na rua."
SEM APOIO
Rossana contou que, ao ligar na Embaixada do Brasil no Cairo, foi aconselhada a permanecer em casa, "porque os aeroportos estão cheios de gente no chão".
Ela citou outros países --Estados Unidos, Turquia, Reino Unido-- que enviaram aviões para levar de volta os cidadãos que quiserem deixar o Egito. "Eles falaram para mim que não tem nenhuma orientação", contou.
Em outra ocasião, a embaixada orientou para que elas fossem para o aeroporto, mas sem a garantia de que conseguiriam trocar a data da passagem de volta --a companhia aérea é a Alitalia, cujo escritório fica no centro do Cairo, onde se concentram os protestos.
"Não há a menor condição disso [ir ao aeroporto]. Então eu estou no apartamento quieta, fechada e com as luzes apagadas, porque a gente tem medo de bala perdida, e vamos ficar aqui", afirmou.
"Estamos confinadas, literalmente, dentro de um apartamento."'NINGUÉM AGUENTA MAIS'
Sem internet, as brasileiras também não conseguem entrar em contato com suas famílias no Brasil. Além disso, é impossível colocar crédito no celular pré-pago que ela usa por causa da falta de segurança nas ruas.
E elas também não tem mais libras egípcias, apenas dólar, porque os bancos estão fechados. Para comprar comida nesta segunda-feira, elas juntaram as últimas libras que tinham. Agora, elas dependem de amigos comprarem seus dólares para poder comer.
Questionada sobre se o governo do ditador Hosni Mubarak é o responsável pelo clima de tensão e violência no país, Rossana respondeu: "Ninguém aguenta mais, são 30 anos de poder. Os jovens egípcios são inteligentes, não têm emprego, a pobreza é muito grande no Egito, a sujeira".
"E as pessoas estão pedindo para ele [Mubarak] para ter mudanças. Aqui é ditadura, eles querem democracia, eles querem voto."
Fonte: Folha de S. Paulo
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
REVOLTA POPULAR NO EGITO


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