quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Enem: ''O principal problema do exame é o seu gigantismo''


Fábio Mazzitelli/AE

Ex-diretor de avaliação da educação básica do Inep, o professor da Faculdade de Estatística da Universidade Federal do Pará (UFPA) Heliton Tavares foi um dos "pais" da reestruturação metodológica que transformou o Enem, em 2009, no maior vestibular do País. Embora defenda o exame, ele critica o gigantismo atual e indica a regionalização como o caminho.

É possível aplicar uma nova prova sem ferir a isonomia do exame, como quer o MEC?

Sim, e isso tem de ser feito. Não é problema técnico. A metodologia da TRI (Teoria da Resposta ao Item) garante uma prova com dificuldades iguais ou extremamente próximas.

Entre os erros constatados no exame deste ano, qual é o mais complicado de se resolver?

São todos de organização. O mais grave foi o da inversão dos cabeçalhos. Você não tem um controle muito fechado para garantir que isso atingiu uma parcela pequena dos candidatos. A solução é mensurar exatamente quem pode ter tido esse problema e tentar corrigir para esse grupo.

E o uso de celulares?

É outra coisa, falha de fiscalização. Se foi localizado, não vejo problema. Não aparenta ter sido generalizado. Todos os concursos têm os seus problemas e o Enem chegou a níveis de concurso mesmo, sempre vai ser alvo desse tipo de iniciativa. O cuidado tem de ser muito maior e é por isso que, no planejamento inicial do Enem, constava a programação de haver mais de uma edição por ano e de quebrar o exame para fazê-lo em níveis regionais. Esse era o objetivo e tem de ser o caminho daqui para frente. Tínhamos até a proposta de quais regiões ou Estados poderiam ser agregadas. Tudo foi pensado.

Você não defende mais o exame no atual formato?

Desde o início, estava programado para não ser eterno esse formato. No primeiro ano, não tinha jeito de ser diferente, porque a gente precisava, para que fosse assim, de um grande banco de itens para poder ter provas diferentes (e equivalentes), espalhadas pelo País.

Daria para implantar a descentralização no Enem de 2011?

No ano que vem, tem de haver alguma mudança. E a melhor é realizar edições regionais. É um trabalho que comecei e estava planejado. Dado o problema do furto (em 2009), o Inep pensou: "Precisa melhorar a execução." Levaram o Cespe. Minha parte não é logística e falei: "Não vou (seguir)." O discurso era que neste ano não haveria problema nenhum. E houve.

Você atribui isso ao formato?

É o gigantismo. Enquanto estiver dessa forma, ele vai estar sujeito a problemas. A questão é como eles podem ser contornados. Se algo pode ocorrer, mesmo que a probabilidade seja pequena, uma hora vai acontecer. Na Mega-Sena, a probabilidade é 1 para 50 milhões, mas se um número muito grande de pessoas vai tentando, provavelmente, alguém conseguirá levar o prêmio. Se não for num primeiro sorteio, é no seguinte. O Enem é de um gigantismo enorme e, em cada etapa do processo, existe uma probabilidade de haver algo irregular. Como é tentado várias vezes, uma hora vai dar problema.

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